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sexta-feira, dezembro 02, 2011

Amor confesso

Se você quer assistir a uma peça de teatro em que a entrega e a qualidade técnica dos atores seja visceral - daquele modo cada vez mais raro, em tempos de peças cool - não deixe de assistir a Amor confesso, no Centro Cultural dos Correios.
Feita a partir dos contos de Arthur Azevedo, o que por si só já mereceria atenção, Amor confesso é de difícil definição e descrição no campo do gênero, tamanhas são as misturas felizes de possibilidades cênicas utilizadas: da comédia de costumes ao metateatro, passando pela opereta, entre outros.
Em Amor confesso há saudade - do Rio de Janeiro ingênuo do bonde elétrico - e contemporaneidade - das questões atemporais das parcerias amorosas - em equilíbrio certo: vibrante, solar, viçoso e risonho.
Tudo é emoldurado pelo diálogo direto com a plateia e pelos temas cancionais - postos em situações bem díspares do comumente consumido - facilmente reconhecíveis do grande público, o que intensifica a empatia.
Sobre a trilha sonora (direção musical de Marcelo Alonso Neves), ainda é preciso destacar a presença do pianista Roberto Bahal: um importante terceiro ator em cena dando melodia à movimentação das personagens interpretadas por Claudia Ventura e Alexandre Dantas.
Para que tudo isso aconteça com harmonia age a direção segura de Inez Viana pondo foco nos muitos recursos (vocais e físicos) e repertórios (cênicos) dos dois atores, facilitando o jogo e o embate lúdicos.
Os encontros e desencontros de toda parceria erótico-afetivas, fotografados na pena de Arthur Azevedo - em contos como "Como o diabo arma", "Vingança", "A melhor amiga" e "Incêndio do Polytheama" - dançam com canções como "A nível de" (João Bosco), "Errei, sim" (Ataulfo Alves) e "Futuros amantes" (Chico Buarque) numa festa que enriquece a arte e a vida.
Ou seja, a peça Amor confesso é construída e atravessada por referências literárias, cancionais, musicais e, claro, teatrais diversas. O resultado é uma festa íntima - do casal em cena às voltas com os minutos que antecedem a subida ao altar - e coletiva - do público que se vê diante de um grande momento do teatro brasileiro.
Amor confesso não responde (nem quer responder) para que, porque, por quem casar. Mas se as uniões da "vida real" tiverem um-terço da cumplicidade e do tesão que Claudia Ventura e Alexandre Dantas têm em cena, a vida a dois vale muito à pena.

2 comentários:

Eduarda Fadini disse...

Amor Confesso é um belíssimo exercício teatral, dois grandes atores, dois virtuoses, que se entregam integral e prazerosamente ao seu ofício. Um músico como Roberto Bahal, capaz de entrar nesse jogo também é coisa rara e acrescenta ainda mais humor à cena. Direção, direção musical e iluminação impecáveis! Concordamos em gênero, número e grau!

Sonia Oliveira disse...

Muito bom seu comentário sobre a peça, maravilhosa. Estou linkando em meu blog.