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sexta-feira, janeiro 11, 2013

O Globo da morte de tudo

Finalmente fui ontem ver O globo da morte de tudo, de Nuno Ramos e Eduardo Climachauska, na galeria Anita Schwartz, Gávea.
Com dois globos da morte, que, conectados, sugerem o 8, símbolo do infinito, a estrutura circundada por estantes de grandes proporções contendo de-um-tudo impacta pelas referências à enormidade de balangandãs que acumulamos ao longo da vida.
A peça-performance, já que em determinado dia os globos foram acionados fazendo as coisas todas ao redor tremelicar, cair (em parte) e despedaçar, trata "da ideia de dádiva, de dar, de entregar, de perder, de jogar fora, de deixar morrer, de reconfigurar", comentou Nuno Ramos.
Cada parede de prateleiras tem uma categoria de organização: 'Cerveja', com objetos da vida mais imediata e cotidiana; 'Nanquim', objetos associados à morte; 'Porcelana', objetos ligados ao luxo; e 'Cerâmica', as coisas arcaicas e ancestrais.
O uso dos globos, do infinito, pelos motociclistas fez a vida imediata, a morte, o luxo e o arcaico entrarem na mesma frequência infinitesimal, misturando-se, sem, contudo, acontecer a diluição de uma categoria na outra.
Ruído e trepidação, som e sentido, firme e frágil, líquido e em pedaços, antes e depois: o globo da morte de tudo. Até 17 de fevereiro.

quarta-feira, janeiro 09, 2013

O som ao redor



O som ao redor é um acontecimento cinematográfico! Porque ‘conta’ as histórias através de imagens, e sons; porque prima em criar climas a partir de contextos que chegam à naturalidade, quase despretensiosa, do cotidiano vazio; porque tem um roteiro cujas muitas pontas se tocam e se amarram, quase sem querer, querendo, eroticamente; porque suas personagens (seus atores) entendem e traduzem no corpo, na voz a estética (vida mais real) da expressividade hipermidiática da ausência de silêncio; porque é cruel, cru, duro, a partir da ironia em que o expectador se sente (des)confortável; porque pergunta se , de fato, estamos evoluindo, progredindo; porque não aponta ‘soluções’, foca nas tensões multifacetando as causas, efeitos e respostas; porque esmiúça sem pudor as microfísicas dos poderes; porque totemiza tabus; porque anda sobre o fio teso da pseudo troca de turno entre o coronelismo e a milícia, abordando a promiscuidade entre rural e urbano, individual e coletivo, ingênuo e sabido, simples e complexo; porque entende, quase desleixadamente, a não-imunização das relações atuais: explodindo esferas que se julgam fechadas (salvas) e no fundo se revelam espumosas, imbricadas; porque mostra que aquilo que se supunha unidade está contaminada até a medula por cenários simultâneos;  porque capta o Brasil braseiro; porque sabe que “a íris do olho de deus tem muitos arcos” e ‘mata’ Deus ao amplificar o humano demasiado humano; porque recupera pós-metafisicamente o pluralismo pré-metafísico das ficções do mundo; porque traduz à perfeição a virtualidade da hipermídia, a ampliação das unidades de sentido; porque entende a paranoia de se viver em esferas-espumas, sob a frequente presença – estimulante e entediante – do perigo.