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segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Besouro verde

Não há nada pior do que a expectativa. Ela sempre cria certezas que não se confirmam, simplesmente porque nada é como queremos que seja, e sim como são.
Fui assistir a Besouro verde envolvido pelas promessas das imagens alucinantes do trailler, mas bastaram os primeiros 10 minutos do filme para perceber que minhas expectativas não se confirmariam. Sim, eu esperei demais - tomadas eletrizantes, efeitos hipnóticos... - de um filme que não passa do corriqueiro. E olha quem nem fui a fim de - nostálgico - encontrar o besouro verde de outros tempos.
Fui atrás de entretenimento, diversão, desopilação e encontrei um filme chato e cansativo: com efeitos forçadamente feitos para sublinhar o 3D.
Mas dentre os muitos equívocos de Besouro verde, talvez a escalação de Seth Rogen para o papel principal seja o mais gritante. Sempre deixando a impressão de que está interpretando a si mesmo, o que em alguns casos não é de todo ruim, o ator não permite ao expectador perceber as nuances na mudança de comportamento da personagem.
Aliás, há saltos no roteiro que comprometem toda estrutura da história: confundem (no pior sentido) e limitam a fruição.
Mas há Jay Chou. Ele salva o filme.
Enfim, fica o ensinamento de que, como expectador, tenho que aprender (gesto contínuo) a zerar a expectativa.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Sílvia Machete

Sílvia Machete
Festival Sonoridades
25/02/2011
Oi Futuro

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

O discurso do rei

O filme dirigido por Tom Hooper passeia de forma leve por traumas complexos. Em O discurso do rei baixa autoconfiança, rejeições e recalques são explorados de fora para dentro: os cenários - frios, mofados e descascados - tentam plasmar a alma da personagem George, vivido por um excepcional Colin Firth.
A dureza de ser - ou ter se tornado - gago e precisar usar a voz como instrumento de contato com o mundo, afinal estamos falando de um rei que precisa ter voz ativa e no nosso destino mandar, é o núcleo duro de uma trama cuja palheta de cores dos afetos é rica.
Como ser rei sem ter a voz que os súditos esperam? Em O discurso do rei, George mostra a mudança de perspectiva que vai da voz do dono ao dono da voz.
A relação que se estabelece entre George e o falso doutor Lionel Logue (Geoffrey Rush) - uma relação que joga com as potências da coragem e do medo - subverte as clássicas "cantigas de amizade".
Em O discurso do rei - um filme bonito e feito para ganhar prêmios (mas qual não quer?) - a amizade entre senhor e servo tem outros tons: os sentimentos minam.

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Perrier

"Se não tem água Perrier eu não vou me aperrear", diz os versos de Zeca Baleiro.
Penso neles enquanto vejo a excelente campanha da famosa água: com certeza inspirada na sensação térmica de derretimento do verão carioca.
As peças publicitárias ricas em detalhes, reentrâncias, dobras mostram como unir propaganda (apelo de consumo) com cuidado estético.
Ao final, é como diz os versos de Antônio Cícero: "Adoro, sei lá por que, esse olhar meio escudo que não quer o meu álcool forte e sim água
Perrier".

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Burlesque

Não dá para analisar com os mesmos dispositivos teóricos e/ou subjetivos toda peça artística. Ou seja, cada obra é única e requer do pretenso analista, comentarista, crítico... um olhar desautomatizado e virgem.
Dito isso, preciso dizer que o filme Burlesque, dirigido por Steven Antin, é mais do mesmo: uma mistura de Chicago, Cabaret e Show bar feita para Christina Aguilera dar pinta e mostra toda a sua ineficiência como atriz. Claro que, ao tratar de temas próximos, as referências aos filmes anteriores têm alguma justificativa, mas as soluções dadas a Burlesque são tolas.
Cher está cada vez mais Cher, apesar da voz. Cam Gigandet aperta tanto a testa e os olhos, a fim de expressar alguma emoção, que repete a superficialidade de suas aparições na série Crepúsculo. E o excelente Stanley Tucci dá continuidade ao papel que representou em O diabo veste Prada.
Sim, há uma estética camp bacana, mas o clima burlesco é sensivelmente falso: os diálogos são clichês mal aproveitados e a trilha sonora tem sérios problemas de adequação às ações.
As cenas de palco, que poderiam salvar o filme, soam tão descoladas do todo que não empolgam.
Enfim, em Burlesque, o descompromisso com verossimilhanças, que poderiam resultar em entretenimento e diversão, cansa a boa vontade do espectador.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

127 horas

Em 127 horas James Franco prova - para quem ainda tinha dúvidas - que é um competente ator. A fluidez com que ele esmiúça o cromatismo da alma da personagem é impressionante.
Humor, febre alucinatória, desejo sexual, fé, desperança... tudo está presente de forma complexa, instigante, prazerosa e desconfortante no filme dirigido por Danny Boyle.
O diretor consegue fazer de uma experiência singular - ficar com o braço preso por uma rocha numa fenda nas desérticas montanhas de Utah - em uma experiência fílmica eletrizante. O espectador não percebe o tempo passar: a sensação claustrofóbica e maçante das tais 127 horas do título ganha fôlego com as pequenas narrativas agregadas à nervura da história.
A fotografia é auxiliada pelo deslumbrante cenário natural de Utah e os jogos de sol e sombra adensam a vivência da personagem. Aliás, o tempo é o tempo interno em que um conjunto de instantes psicológicos - memórias, lembranças, planos... - prendem a atenção do espectador.
Chama atenção a relação entre Ralston (James Franco) e a água que carrega na mochila: quanto mais escassa a água, mais a personagem mergulha dentro de si, lutando para manter a lucidez. As limitações de mobilidade física são compensadas por excelentes ângulos.
Diretor de Trainspotting e Quem quer ser um milionário, em 127 horas Danny Boyle chega na fronteira da espetacularização do acontecimento: aliás, é este limiar que torna 127 horas um grande filme: cru (algumas pessoas podem se chocar com a carne - literalmente - viva e exposta) e ao ponto; agridoce - feito para James Franco brilhar.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Um parto de viagem

Um parto de viagem é uma colcha de retalhos: para o bem e para o mal.
Para o mal porque o espectador passa grande parte do filme com a nítida sensação de já ter visto aquelas situações em algum outro filme. E é verdade: viu sim.
Para o bem porque é na manipulação do deja vu que o diretor Todd Philips trabalha a competência criativa e dramática do filme.
Obviamente, depois do ótimo Se beber não case, a expectativa sobre Um parto de viagem era grande, ainda mais pela presença de Robert Downey Jr. e Zach Galifianakis no elenco.
Um parto de viagem ilumina a boa química entre os dois atores: aliás, Philips é mestre em trabalhar a camaradagem - de forma bem humorada - entre homens.
A base é um clássico road movie em que indivíduos bem diferentes precisam aprender a conviver para sobreviver à viagem: com cada um dando uma parcela de si e modificando comportamentos.

Oficina de poesia com Antonio Cícero na UERJ

sábado, fevereiro 12, 2011

Rita Ribeiro

Rita Ribeiro
7 anos de Tecnomacumba
11/02/2011
Vivo Rio


quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Moska

Moska
10/02/2011
Parque Garota de Ipanema
Arpoador
Mart'nália
Tulipa Ruiz
Maria Gadú

Tio Boonmee

Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas é um ensaio sobre a morte; ou uma preparação para ela. O diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul se permite viajar pelo tempo de estio que antecede a morte da serena personagem título, cujo desejo íntimo é entregar-se às imposições do tempo.
Cenas longuíssimas e tomadas lentíssimas radicalizam a sensação de que Tio Boonmee não é um filme comum, destes que enchem as salas de cinema. O tempo do filme é o tempo da depuração da personagem que decide passar seus derradeiros sopros de vida na floresta, rodeado pela família.
Perto do final da sessão, o sobrinho foge do monastério e diz: - Lá é tudo muito calmo, sem internet, nem rádio. Ao que a tia responde: - Talvez você não tenha sido feito para aquele lugar. Eis a conclusão metaficcional que o diretor nos oferece: somos feitos para a morte? ou, menos, para quem este filme é feito?
Tio Boonmee não é um filme feito para o espectador acomodado, muito embora seus clarões algo psicodélicos embelezem as vistas de quem assisti. Mas para provocar o pensamento sobre o início, o fim e o meio da existência.
No filme, sagrado e profano convivem em harmonia, há sublimidades no mundo. Afinal, como diz a esposa (morta) de Tio Boonmee: "o céu é superestimado". A cena em que uma princesa faz sexo com um bagre é um ritual real e fantástico de pura sofisticação cênica.
Tio Boonmee não é um filme fácil e exatamente por isso - por exigir muito do espectador - é um filme imprescindível nestes tempos em que tudo parece acontecer fácil demais, quando parecemos incapazes de cuidar do que possuímos.

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Tetro

O filme Tetro dirigido por Francis Ford Coppola é um novelão, um romanção: tudo gira em torno da história do irmão que não é irmão é pai.
Coppola faz uso de vários artifícios do romance clássico para prender, com eficácia, a atenção do espectador. A todo instante, somos brindados com sublimes torneios no curso da vida das personagens.
Tetro conta uma história - algo considerado impossível de ser feito nos dias de hoje. A trama repleta de citações - principalmente da Ópera - que envolve as personagens do excelente ator Vincent Gallo e de Alden Ehrenreich (que lembra muito - físico e gestos - o jovem Leonardo DiCaprio) é tratada em formato pouco usual, em tempos de narrativas fragmentadas e inconclusas.
Coppola conta uma história com imagens. Imagens que se desdobram ora no espelho estrategicamente deixado na sala do apartamento de Tetro (Vincent Gallo) e Miranda (Maribel Verdú), ora nas sombras que "falam", ora na ida das personagens a Patagonia, ao frio, ao branco total: à verdade?
A fotografia é um deslumbre: o real é preto e branco, enquanto a memória e a imaginação são coloridas. A luz, que vez ou outra deixa o espectador cego diante da profusão de luminosidade, é uma personagem a parte: ou melhor, a luz é, de fato, o narrador do filme.
Tetro investe nas excessivas e dolorosas pequenas tragédias íntimas das personagens para criar no espectador um gozo estético.
A frase pichada em um muro qualquer de Buenos Aires (mais precisamente no belo El caminito de La boca) - NO SUELTES LA SOGA QUE ME ATA A TU ALMA" (Não solte a corda que me prende à sua alma) -, dada ao público nos primeiros minutos do filme, é a condensação exata dos afetos em carne viva engendrados em Tetro.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

O turista

Além de servir para Angelina Jolie evoluir no que ela sabe fazer de melhor - carão -, O turista amplia a já conhecida competência de Johnny Depp. Apesar dele não deixar de ser ele mesmo - como sempre - Depp conseguiu amenizar em muitos tons a caricatura que criou para si.
O turista é um desfile de belezas - atores e cenário: Veneza - e por isso mesmo deixa escapar uma sutil, mas atenta, discussão sobre aparência e profundidade.
Isso é condensado nas inúmeras plásticas que a personagem principal fez - não, não ficamos sabendo como ela era antes das intervenções cirúrgicas -, mas também pode ser percebido nos afetos que se confirmam ao longo do filme e vão além da pele.
Quando o filme terminou disse a mim mesmo: - O turista é um desfile de belezas: para o bem e para o mal.
Só assim pude sobreviver à baixa de tesão diante da previsibilidade do final.

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Cisne negro

Apoiado em uma trama forte e rica de possibilidades, Cisne negro não consegue o mergulho que insinua. O filme tem um roteiro que abre várias perspectivas. Porém, nenhuma delas se complexifica de fato, nem tem funcionalidade dentro do todo fílmico.
Nas cenas de balé, por exemplo, os closes busto-e-rosto tentam esfumaçar do despreparo corporal (para a dança) de Natalie Portman: como personagem principal, suas cenas de dança simplesmente não existem - falta a presença do corpo, dos pés - e cansam o espectador que espera alguma grande cena de dança.
Aliás, a atriz não consegue imprimir força ao jogo "real versus imaginação" e as tênues mudanças de personalidade - provocadas por interessante histórico de perfeccionismo dado ao público em flashs - que a personagem Nina exige, ficando a cargo dos maquiadores, diretor de fotografia, movimentos de câmera e trilha sonora oferecer alguma carga dramática.
O roteiro é bom, segue a rotineira progressão das experiências. Mas a ferrugem psicológica que corrói a personagem por dentro é dada gratuitamente, sem esforço real.
Não restam dúvidas de que Cisne negro é um filme feito para concorrer a prêmios - as cenas forçosamente apoteóticas provam isso -, porém, não resiste a uma análise mais detalhada de suas partes.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

De pernas pro ar

Tentando fugir do calor do verão carioca entrei no Odeon e finalmente assisti ao filme De pernas pra ar.
Com cenas rápidas e diretas, numa relação de inteligência e afeto com o público, De pernas pro ar mantém o ritmo do começo ao fim.
Há cenas inimagináveis que só uma atriz com diversos recursos poderia compor tão bem.
Entre elas, o momento em que, acidentalmente, usando uma calcinha que vibra ao ritmo da música, Alice (Ingrid Guimarães) precisa ir ao jogo de futebol da escola do filho. A cena é impagável e antológica.
Ingrid Guimarães está esplêndida. O elenco em total equillíbrio com o objetivo do filme. A direção conseguiu tirar o melhor da competente atriz. E a história é imperdível: muito razão, mas muita sensibilidade.
Tem tudo para ganhar uma refilmagem hollywoodiana, o difícil sai ser conseguir superar a potência cênica de Ingrid.

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Brega S/A

Enquanto a reflexão sobre direitos autorais se complexifica nas discussões intelectuais
- enquanto donos de loja de disco choram pela perda do "glamour do objeto CD" -,
o documentário Brega S/A, de Vladimir Cunha e Gustavo Godinho,
aponta que questões como pirataria e sociedade
ultrapassam o espaço do artístico
e desembocam em necessidades básicas do indivíduo.

O doc Brega S/A esmiúça o tecnobrega e a cena sonora do Pará.

Ao final da sessão resta uma pergunta de gosto amargo :
Se todos precisamos de canção
- este objeto de desejo e de necessidade -
de quem é a canção?