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quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Tio Boonmee

Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas é um ensaio sobre a morte; ou uma preparação para ela. O diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul se permite viajar pelo tempo de estio que antecede a morte da serena personagem título, cujo desejo íntimo é entregar-se às imposições do tempo.
Cenas longuíssimas e tomadas lentíssimas radicalizam a sensação de que Tio Boonmee não é um filme comum, destes que enchem as salas de cinema. O tempo do filme é o tempo da depuração da personagem que decide passar seus derradeiros sopros de vida na floresta, rodeado pela família.
Perto do final da sessão, o sobrinho foge do monastério e diz: - Lá é tudo muito calmo, sem internet, nem rádio. Ao que a tia responde: - Talvez você não tenha sido feito para aquele lugar. Eis a conclusão metaficcional que o diretor nos oferece: somos feitos para a morte? ou, menos, para quem este filme é feito?
Tio Boonmee não é um filme feito para o espectador acomodado, muito embora seus clarões algo psicodélicos embelezem as vistas de quem assisti. Mas para provocar o pensamento sobre o início, o fim e o meio da existência.
No filme, sagrado e profano convivem em harmonia, há sublimidades no mundo. Afinal, como diz a esposa (morta) de Tio Boonmee: "o céu é superestimado". A cena em que uma princesa faz sexo com um bagre é um ritual real e fantástico de pura sofisticação cênica.
Tio Boonmee não é um filme fácil e exatamente por isso - por exigir muito do espectador - é um filme imprescindível nestes tempos em que tudo parece acontecer fácil demais, quando parecemos incapazes de cuidar do que possuímos.

Um comentário:

Café Solilóquio disse...

Vi TIO BOONMEE na mostra de cinema , depois de ter visto dois outros filmes. Confesso que não embarquei nesse ensaio sobre o tempo e nos intermináveis planos-sequencias. Tanto que, depois de meia-hora, acabei indo embora - coisa que só fiz UMA vez na vida, quando era adolescente , num filme de BErgman, MOrangos Silvestres. Mas , depois do que escreveu, me deu vontade de vê-lo de verdade: Os quase-diálogos que mencionou são bárbaros!