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segunda-feira, março 22, 2010

Convite


23/03 - 19h30
Terraço Brasil
Av. Cabo Branco, 1870 - João Pessoa/PB

Uma cidade cantada

O Rio de Janeiro está completando 445 anos. A cidade, pela generosidade da natureza e por servir como cenário de fatos decisivos da política e da cultura, é musa de odes e antiodes. Desde os tempos em que o Rio era mais tocado do que cantado (choros, polcas e maxixes), até os cantos falados do rap.
O livro “Canções do Rio – A cidade em letra e música”, organizado por Marcelo Moutinho, tenta registrar as mudanças da canção na cidade e da cidade na canção. Para tanto, o livro reúne seis ensaios de pesquisadores apaixonados pela cidade e pelo tema.
Seguindo a linha histórica, João Máximo abre os trabalhos escrevendo sobre a Lapa idealizada e a Mangueira vista como um céu no chão, do início do século 20. A favela e o Rio “por inteiro” se destacam e o jeito carioquês de sobreviver começa a ser formado.
Pegando o bastão, Sérgio Cabral escreve sobre as marchinhas. Para o autor, são elas que, com humor (carioca) e olhar agudo, abordam as questões sérias do cotidiano.
Em seguida, Nei Lopes, em uma espécie de texto-testemunho, observa o Rio através do samba. O subúrbio é cartografado e o autor defende que a violência está disseminada e influenciando os compositores. Ora mãe, ora mulher, o sambista tem sempre uma relação uterina com a cidade.
Já Ruy Castro, como não poderia deixar de ser, escreve sobre a Bossa Nova. O outro lado da cidade partida: a Zona Sul. Ele lembra que através da geografia de Copacabana e Ipanema o mundo conhece um Rio ensolarado. Pelo menos até as abordagens sociais, na década de 60, quando surge o “Nordeste de cartão-postal”, como tema.
Hugo Sukman amplia a abordagem da dissonância carioca. As injustiças e a consequente violência. O cantado arrastão é metáfora tanto do golpe militar, quanto dos assaltos coletivos. E é do centro dessa brutalidade que surge a MPB.
Sílvio Essinger fecha o livro com um texto sobre o rock (das bermudas), o rap e o funk. Ele aponta como estes ritmos se “descontraem” no contato com a carioquice, sem deixar de polemizar e criticar a beleza e o caos da cidade.
Por fim, vaza de todos os ensaios a vontade de entender a construção de identidade do Rio de Janeiro feito canção. O livro “Canções do Rio”, irregular, como a cidade, resulta em leitura leve, ideal para uma tarde quente de verão.

Texto publicado no Jornal A União em 17/04/2010

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Peça O Ensaio - Montagem e atuações precisas para um roteiro cheio de meandros.
= Peça As cochambranças de Quaderna - As peças de Ariano Suassuna, quando montadas com o cuidado que elas exigem, como é o caso, rendem excelente entretenimento inteligente.
= Peça Tango, bolero e cha cha cha - A certeza de muita risada. Edwin Luise está impecável na pele da transexual Lana Lee.
= Peça Amadeus - Texto excelente desperdiçado em cruas atuações.
= Show Amor, festa e devoção - A diva Maria Bethânia em plena forma.
= Filme Um homem sério - Uma espiral de fumaça alimentada pelo humano em nós.

quarta-feira, março 17, 2010

segunda-feira, março 15, 2010

Convite


Cinema Odeon - Cinelândia
Rio de Janeiro
23/03 - 18h

sexta-feira, março 12, 2010

Convite


Cinemathèque
Voluntários da Pátria, 53 - Botafogo - RJ
27/03
19h

segunda-feira, março 08, 2010

Salto para a vida

A vida é um erro, um engano. Pelo menos quando o sujeito não se permite ser queimado pelo incêndio sobre a chuva rala. Ilusão e realidade são categorias que a cada instante perdem qualquer sentido racional. E as relações afetivas, no bojo da circularidade de emoções sem nome, tornam-se mais singulares, únicas e intransferíveis.
O livro “Salto mortal”, de Marion Zimmer Bradley (mais conhecida pelo livro que deu origem ao filme “As brumas de Avalon”), trata do amor entre dois trapezistas de circo. Apaixonados pela arte, Mário Santelli e Tommy Zane constroem uma relação pontuada de momentos que vão da mais delicada ternura à ira (quase) fatal.
Tommy (um adolescente, filho de domadores de leão) é o pupilo de Mário (o artista principal dos Santelli Voadores. O narrador (nas quase 900 páginas prazerosas do livro) acompanha de perto o amadurecimento (muitas vezes forçado) de Tommy e apresenta a relação dos dois com a mesma naturalidade com que o garoto se profissionaliza..
O trabalho de pesquisa desempenhado pela autora é de um rigor digno de muitos elogios. A riqueza de detalhes (sem quebrar a fluência da narrativa) é comovente e funciona para aprimorar a subjetividade das personagens. Marion Z. Bradley (incentivada pela exaustão técnica das personagens) cria o ambiente exato (tenso e luminoso) para que Tommy e Mário vivam. Ambos atravessados pelos acontecimentos históricos dos anos 1940 e início de 1950. Especialmente o moralismo norte-americano de então, que se reflete no perfeccionismo das personagens.
Apesar de o espaço narrativo (os bastidores dos espetáculos circenses) agir contra o amor dos dois, Tommy e Mário (cheios de medo e desejo) se arriscam no salto mortal. Eles percebem que as certezas, quando se trata do humano, minam e escoem a cada instante. O que solicita do sujeito a adaptação insofismável e contínua.
O amor à arte é o mesmo amor à vida e ao parceiro. Não há distinção, mas há a dificuldade (humana) de harmonizar as instâncias amorosas. Tommy e Mário precisam lutar tanto para manter a tradição de artistas exemplares, quanto para manter o amor que os une livre da hostilidade e do padrão moral ao redor.
Respeito aos sentimentos e admiração profissional é a meta das personagens de “The catch trap”, no original. Por fim, o livro de Bradley remete o leitor ao lugar em que a ilusão (um movimento bonito de corpo no ar) e a realidade (as queimaduras nas cordas da rede de proteção) se tocam, imbricam-se e dão sentido à vida humana.

Texto publicado no Jornal A União em 06/03/2010

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Filme Edge of darkness (O fim da escuridão) - Mais um na linha "teoria da conspiração". Mas com boas cenas de suspense.
= Filme An Education (Educação) - Um tema sempre atual, com ótimas atuações. Um ensaio sobre ser e ter.
= Filme Brothers (Entre irmãos) - O cartaz não diz nada sobre este bom filme.
= Show Pimenteira (Pedro Miranda) - Um acontecimento para a história do samba.
= Show Dez cordas do Brasil (Jaime Alem) - Quente como as noites quentes do interior. A participação de Rita Ribeiro é sempre especialíssima.

sábado, março 06, 2010

Convite


Livraria Travessa
Rua Visconde de Pirajá - Ipanema-RJ
15/03
19h30

segunda-feira, março 01, 2010

Cafona ao ponto

O fato de Wilson Simonal aparecer (depois de ter sido posto no limbo musical) ao lado de Waldick Soriano (no documentário Wilson Simonal - Ninguém sabe o duro que dei) é por demais forte simbolicamente.
Independente do que Simonal tenha feito na vida particular, nada justifica a forma tacanha de como sua carreira terminou, depois dele ter revolucionado a canção popular com sua voz e seu modo de cantar. Ele alcançou o ápice do sucesso popular.
Já Waldick Soriano sempre foi tido como um cantor polêmico e cafona, portanto, desde sempre lidou com as críticas elitistas às suas canções e interpretações. Até tornar-se cult e querido dos moderninhos.
No livro Eu não sou cachorro, não: Música popular cafona e ditadura militar, o historiador Paulo César de Araújo tenta argumentar que ser ou não ser cafona é uma questão que passa pelo gosto individual de quem ouve. Seja o crítico, seja um pequeno grupo que não pode responder pelo todo.
Mesmo exagerando em alguns pontos, como quando comete afetadas generalizações, na tentativa de justificar o corpus e a tese, Paulo César levanta a coerente questão: vender muito, lotar casas de shows e ser popular (ter o aceite do povo) significa que a obra do artista não presta? O fato é que, com o nosso costume de pichar quem faz sucesso (muitos artistas se vangloriam de vender pouco), muitas obras, na maioria das vezes, nem são analisadas com o cuidado necessário. Já são lançadas sob estigmas destrutivos.
Ora, Simonal agregou duas atitudes fatais: vendia muito (os shows lotavam) e perdeu o crédito com a esquerda política. Ou seja, passou do cantor, que gravara os hits dos "cheios de bossa" da época, ao cafona (desprestigiado), que cantou para meia dúzia de gatos pingados nas praças públicas. Ao ponto de dividir o espaço de um comercial de supermercado, ao lado de (pasmem!) Waldick Soriano, o hiper cafona.
O caso Simonal prova que a crítica, tristemente, teima em lidar com uma questão de gosto e não com instrumentos isentos de afetos que limitam a análise. Simonal era o moderno, mas "atingiu" a inteligentzia brasileira e caiu no limbo.
O livro de Paulo César de Araújo - "Eu não sou cachorro, não" - deve ser lido (criticamente) naquilo que tem de essencial: a invisibilidade das canções e dos artistas cafonas promovida pela crítica musical e acadêmica.

Texto publicado no Jornal A União em 27/02/2010

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Peça Hamelin - Montagem crua para um texto denso e de tema complexo. Até 25/04 no CCBB-RJ.
= Disco Tantas marés (Edu Lobo) - Delicado e belo.
= Show Badi Assad - Excepcional performance de uma excepcional estrela de nossa canção.