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sábado, outubro 29, 2011

Nó na orelha

Tô velho. Para quem não bebe álcool e não fuma um atraso de mais de uma hora é uma eternidade insuportável. Hábito comum em eventos do gênero aqui no Rio.
O som do Studio RJ estava péssimo. Devo ter entendido apenas uns 20% do que Criolo cantou e falou. A sorte é que eu já conheço as canções.
Ele é um homem lindo, generoso, grande: uma presença forte no palco e voz de um discurso anti-revolta estéril ímpar.
O show é cartático: começou com o choro emocionado do Criolo ao subir e ver e ouvir o público lhe saudando. Ele se emocionou várias vezes. E pregou tantas outras o "preconceito não, amor sim".
Cantou todo o Nó na orelha. Mais "Para mulato", "Domingo", de Nelson Ned, "Cerol" e "Vasilhame". Além de interpretar sua versão singular de "Cale-se".
Há uma dor em Criolo: uma dor vinda da lucidez. Por vezes ela se expressa em gestos de fúria (como se sua alma não coubesse em si), mas na maioria das vezes se expressa em canção - em arte: no desejo fundador de instaurar a democracia racial.

Criolo

Criolo
Nó na orelha
Studio RJ
Festival Faro MPB
28/10/2011

quarta-feira, outubro 26, 2011

Thais Gulin

Thais Gulin
ôÔÔôôÔôÔ
Teatro Carlos Gomes
25/10/2011

segunda-feira, outubro 17, 2011

Deus é um DJ

Como pesquisador de canção popular, uma das inquietações que tem estimulado minha pesquisa atual é tentar perceber quais são os mecanismos incorporados pelo mercado a fim de criar um produto que (melhor) sirva de trilha sonora às nossas vidas.
E qual foi a minha surpresa quando captei na peça Deus é um DJ, do alemão Falk Richter, o mesmo tatear na incerteza e na vontade de busca.
"REALIDADE num mundo midiático? Autenticidade? Existe isso em frente a uma câmera?", pergunta Richter ecoando nossas dúvidas (nem tão) atuais. Deixando apenas uma sugestão de certeza: "o poder do mundo fala conosco pela linguagem da mídia. Pela mídia eles formatam os cidadãos necessários para permanecer no poder. E eles transformam a democracia através desses novos formatos que eles nos apresentam".
Em cartaz no Oi Futuro Flamengo (Rio de Janeiro) até 13/11, sob a direção de Marcelo Rubens Paiva, Deus é um DJ elenca os sintomas de uma era pós-tudo em busca de ideologias: se por um lado ainda temos as rádios filtrando o que devemos ouvir, por outro lado temos a possibilidade de samplear, mixar, montar as trilhas sonoras que melhor nos cantam - e o que é mais complexo: podemos carregar nossas sereias na palma da mão, conectar-se a elas onde e quando quiser.
Mas, ao mesmo tempo em que o indivíduo pode compor sua própria trilha, ele é bombardeado pelos apelos midiáticos e se confunde, indistiguindo o seu desejo daquele outro instalado por um mercado cada vez mais diversificado, portanto, abridor de um leque maior de possibilidades (sempre) previsíveis.
Afinal, quando vai para o rádio a música deixa de ser independente (anônima: prenha do espírito colaborativo)? Como escolher um repertório? A sonoridade que me é estranha também é música? Como encontrar um lugar entre a borda e o mainstream quando a vida on line parece mais interessante que a vida off line? O que difere uma vida da outra? Como afetar e ser afetado pela canção de Deus: esse DJ que mixa nossas necessidades sem deixar a música parar a fim de que a vida nos cante da melhor forma possível? O que é a vida ou um show ao vivo via internet? O que é cultura e o que é entretenimento: quais as semelhanças, diferenças e onde elas se tocam?
A certa altura a personagem de Maria Ribeiro (uma VJ) declara nietzscheanamente: "Deus morreu". Se isso é verdade, quem, então, anda programando nossos sons, nossas trilhas? De fato, Deus parece ser encontrado na resignificação (veloz) de nossos bens simbólicos. Afinal, para onde caminha a música e, consequentemente, nós (ouvintes) ameaçados em nosso registro físico?
São muitas as questões levantadas na peça Deus é um DJ, justamente como são múltiplos os questionamentos do indivíduo posto no entrelugar exato do on/off line.
Representado por Marcos Damigo, um DJ inspirado, mergulhado na parafernália tecnológica claustrofóbica que cerca o jogo cênico, espelha o indivíduo contemporâneo ao se perguntar como evitar o rapto da subjetividade na nossa autopromoção diária e, ao mesmo tempo, estar aberto aos sons totais do mundo.
Sabemos apenas que num mercado global, as fronteiras das diferenças entre a Europa (hegemônica) e a América Latina (redemocrática: importância do pirata na circulação da música, por exemplo), quanto ao modo de enfrentamento de crises, são borradas.
Deus é um DJ é ação, reação e meio: uma suspensão do juízo, uma oportunidade lúcida (um descanso perturbador) de reflexão da manutenção da loucura.

domingo, outubro 16, 2011

Adriana Calcanhotto

Adriana Calcanhotto
Micróbio do samba
Teatro Tom Jobim
16/10/2011