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segunda-feira, julho 30, 2007

1000!!!

Filho quase rebelde do Transitar, blog que divido com meus amigos-irmãos Sílvia e Jânsen, nesse fim de semana o Mirar & Ver registrou sua milésima visita, em sete meses de existência. Isso iria passar despercebido, mas...
Antenado com a idéia de que quantidade não resulta em qualidade, quero agradecer aos leitores que acompanham - desde o início e aos que foram chegando e também aos que entraram e saíram - este meu particularíssimo exercício de escrever, paixão mais que íntima.
Certamente, este espaço não existiria sem o retorno que recebo dos amigos-leitores, que sempre deixam comentários, seja no Orkut, via e-mail, ou aqui mesmo.
É sintomática que a 1000ª visita tenha sido feita
pelo Henrique. Seu blog, meu amigo, é um norte!
Escrever, para mim, como já expus algumas vezes, é um exercício de aprendizagem interior, de catarse, de aprimoramento do Eu-Humano e do Eu-Crítico. Daí o subtítulo do blog : Medindo Dias.
Mas escrever doe, principalmente com o passar do tempo. Tempo que me amadurece e me torna mais autocrítico, mais inquieto com minhas faltas e mais consciente de minhas responsabilidades diante da vida.
Porém, a vontade e o desejo do exercício teimam em ser mais forte que eu.
Não posso deixar de registrar que este espaço, sem dúvida alguma, não manteria sua chama acesa sem as revisões lúcidas, sem a maioria das fotos aqui postadas e sem o apoio singular do meu par Carlos.
Caro leitor, vamos continuar,
Mirando e vendo, como nos propõe Riobaldo em Grande Sertão: Veredas.
Muito grato.
(...)

terça-feira, julho 24, 2007

O quinto mandamento

Está em cartaz no Centro Cultural Dejair Cardoso, na Lapa, a peça “Não matarás”, de Dejair Cardoso. Às pessoas que gostam de gêneros definidos uma advertência logo de início: não se sabe ao certo se assistimos a uma tragédia ou a uma comédia. O diretor acrescenta a esta indefinição traços de thriller e humor negro. Essa quantidade de possibilidades expressa bem a indefinição do texto, que no fim das contas é mais uma abordagem sobre a pedofilia dentro de uma instituição católica.
O passado de um padre pedófilo retorna com força total quando um de seus “coroinhas”, já crescido, exige uma reparação financeira pelos danos psicológicos causados pelo relacionamento com o padre. Este, por sua vez, aproveita a presença, na cidade, de um matador de aluguel e o contrata para livrar-se do chantagista.
O jogo, que vai levando às sucessivas descobertas, é um pálido reflexo de questões psicológicas que poderiam ser mais bem aproveitadas. Não traz revelações que sejam realmente significativas. E a peça acaba sendo mais do tipo de veículo para atores.
A encenação é simples. O cenário, até por causa do espaço minúsculo do Centro Cultural, é extremamente pequeno, restringindo-se apenas a uma escrivaninha, no que se sugere a sacristia, onde o padre recebe ora o chantagista, ora o matador, ora ambos. A luz é correta, funciona nas tentativas de criar os momentos de dramaticidade dos atos.
Há uma Bíblia, em um dos lados do palco, mencionada várias vezes durante os diálogos, dando respaldo ao título da peça. O livro é um dos aspectos mais originais, pois é nele, ou sobre o que ele representa, que se sustentam as certezas do matador de aluguel, o sentimento de culpa e as dúvidas do padre e a revolta do coroinha crescido. Ou seja, a crítica é sobre o porquê da
instituição que condena o homoerotismo, ser a mesma que fecha os olhos para o que acontece internamente
Os atores – Francisco Alves, Elcio Monteze, Daniel Moragas – ocupam ao máximo os mínimos espaços oferecidos, mas de algum modo fica faltando motivação para as aproximações e os afastamentos, por causa das instruções que vêm do texto.
“Não matarás” possivelmente foi escrita para despertar algum tipo de reflexão, mas esta idéia é abortada, tanto pelo exagero da caracterização do coroinha em busca de vingança, quanto pelo matador que monta a personagem de homem-mau utilizando “caras e bocas”. O que leva a soar como falsas algumas falas. Certamente, são atores que ainda estão criando a carga de experiência necessária de palco, indispensável para que a peça viva.
O estereotipo do gay efeminado e promíscuo é reforçado seja pelo padre, que se diverte em saunas, na capital, seja pelo ex-coroinha, em suas falas e atitudes.
Sabe-se hoje em dia, que já não é mais preciso, em qualquer arte cênica, a confirmação da inclinação homoerótica de uma personagem através de recursos como “rebolados” e “voz afetada”. Obviamente isso exerce a função de gerar o riso, ou a identificação, com a platéia, mas, e ao mesmo tempo, subestima essa mesma platéia, deixando o conjunto e o resultado óbvios demais.
Apesar dos pontos fracos vale a pena assistir à peça. É um esforço (bem sucedido, sob alguns aspectos) de manter na cidade uma opção para o público gay. Ele, como qualquer outro público, quer “comida, diversão e arte”. O que vemos, em geral, é um circuito muito restrito de opções de entretenimento, fora às relacionadas ao sexo e dança, claro. Parabéns ao Centro Cultural Dejair Cardoso pela coragem de fugir deste “arroz com feijão”.

terça-feira, julho 17, 2007

Para não dizer que não falei do PAN

Ninguém agüenta mais este assunto. Até por que a TV quando quer enfiar algo na mente dos desavisados ela sabe como fazê-lo. Mas eu não poderia deixar de dar minhas impressões, pelo menos, sobre a abertura do evento.
Pelo ritmo que as obras vinham sendo feitas, parecia que não ia dar certo, porém o PAN tá aí, rolando numa boa. Mesmo com os problemas de infra-estrutura ao redor dos locais de competição. Nada incomum em eventos deste porte, em que os problemas são jogados para debaixo do tapete. Mas quero falar da festa. Afinal é isso que importa.

Muito além das vaias orquestradas por uma oposição, que só se mostra oposição desta forma infantil, e ampliada pela imprensa tendenciosa contra o presidente Lula, a cerimônia de abertura do PAN, no Maracanã, foi uma amostra muito feliz da diversidade e capacidade da criação artística do Rio, quiçá do Brasil.
Amplio pro Brasil, pois estiveram presentes artistas de vários lugares.
O instigante Cordel do Fogo Encantado – de Pernambuco, o conterrâneo Chico César – da Paraíba, a linda e inteligente Adriana Calcanhotto – do Rio Grande do Sul, a animada Daniela Mercury – de Salvador, o multi Arnaldo Antunes – de São Paulo, etc e tal.
Aliás, depois de todo aquele auê, que se formou sobre a letra do hino do PAN, de Arnaldo e Liminha, a música acabou cumprindo sua função. A galera do Maraca viveu a energia de estar ali e cantou junto a tal letra tão criticada.

A festa, idealizada pela carnavalesca Rosa Magalhães – carnaval e esporte têm mesmo laços estreitos por aqui –, assim como a letra do hino, apresentou a mistura de referências mitológicas, tanto do universo dos jogos quanto da história da formação do Rio e do Brasil.
Gostei muito do que vi. Apesar de estas cerimônias terem sempre um “q”
déjà vu. E, convenhamos, prestando atenção na pira, ela mais parece um estandarte de carro alegórico.

Enfim, eu, que nunca havia entrado no Maracanã, fiquei deslumbrado com a grandiosidade da festa de cores brasileiras e com a beleza de ver aquele mundo de gente cantando, aplaudindo...
Sim, alguns vaiam, fazer o que? Sempre há os que levam o comportamento de casa pra praça. Estamos num país democrático.


segunda-feira, julho 09, 2007

Me sentindo em casa

Na noite do dia 29 de julho do ano passado, ou seja, há quase um ano, acontecia, como acontecerá este ano, a Festa de Nossa Senhora das Neves, na capital paraibana. É a festa da padroeira, mas marca também o aniversário da cidade. Eu, ainda morador da minha terrinha, fui assistir, na rua, ao show de Renata Arruda, pela primeira vez, e gostei do que vi.
Renata começou cantando no Coral Universitário da Paraíba. Em seguida, aos 19 anos, mudou-se para Brasília onde deu início à carreira.
Em 1991, ela se mudou para o Rio e dois anos depois estava lançando o primeiro CD. Deste então tem emplacado algumas canções no mercado nacional.
A paraibana foi elogiada publicamente pela "divina" Elizete Cardoso que, após assisti-la num
a apresentação com Altamiro Carrilho, disse: “Esta menina cantou como as cantoras deveriam cantar. Ela não somente cantou com a voz, ela cantou com a voz, com o corpo e com a alma”.
Neste domingo (08/07/07), fomos assisti-la na Sala Baden Powell, em Copacabana, aqui no Rio de Janeiro. Foram apenas três apresentações tendo, a cada noite, convidados como Ney Matogrosso e Os Cariocas .
Dirigida por Lúcia Veríssimo, e acompanhada por três músicos, entre eles um baterista também paraibano, Renata interpretou, sempre cheia de paixão e tesão, canções que falam fundo aos conterrâneos dela, como: Roendo Unha (Gonzagão e Luis Santa Fé) e Espumas ao Vento (Accioly Neto).
Ainda marcada pela pegada firme de violão, marca do mais recente CD, Renata apresentou canções de seu próximo trabalho, mescladas a músicas já conhecidas, e intercalando-as com textos de sua autoria. Aliás, conforme anunciou, seu próximo disco será o mais autoral.
Particularmente prefiro-a apen
as como intérprete, ainda que eventualmente carregue nas tintas em algumas interpretações. É uma ótima experiência ver seu show. Renata - pela figura, pela presença, e pela entrega - é uma cantora de palco.

Elba Ramalho, a convidada da noite de domingo, entrou em cena após uma introdução percursiva remetendo, os ouvidos mais atentos, aos sons e ritmos do sertão nordestino.
Elba criou empatia imediata com o público, interpretando Chão de giz (Zé Ramalho), e depois acompanhando Renata em Roendo Unha. Voltou no biz para, sem instrumento algum, cantar De volta pro aconchego (Dominguinhos e Nando Cordel). A anfitriã, que assistiu o solo sentada na beira do palco, acompanhou a platéia nos aplausos.
E foi em meio a muitos aplausos que Elba disse: “Somos duas mulheres paraibanas, mulher-macho, guerreiras como nossas mães”. Salve Elba!
Como qualquer cantora antes do lançamento de um novo disco, Renata ficou mais à vontade quando tocou músicas de seu repertório já conhecido. Nessas horas se estabelecia a comunhão com a platéia, o coro e a marcação de palmas.
So pra ser minha mulher (Erasmo Carlos e Ronnie Von), Tudo seu cabe em mim (Renata Arruda e Dana Costa), Ouça (Maysa), Sangue Latino (João Ricardo e Paulinho Mendonça), Ninguém Vai Tirar Você de Mim (Edson Ribeiro e Hélio Justo) e Como nossos pais (Belchior), foram acompanhadas pelo público.
Destaco a engraçada letra de Soberano desprezo (Bráulio Tavares), feita sobre pequenos poemas-piada, com os versos “Sabe o que é que você é meu amor? / É um dente doente que se arranca de peixeira pra parar de sentir dor
É claro, senti falta do calor de minha gente cantando junto a cada canção interpretada, mas o público da Baden Powell não fez feio.
Ver aquelas duas mulheres, saídas lá de cima (como dizem por aqui), mostrando o que é que a Paraíba tem, lavou minh’alma e me emocionou.
Relembrei muito e muitos. Há pessoas, lugares e momentos que nenhuma peixeira arranca de nossas lembranças, nem queremos, na verdade.
O que quero é em breve ter meu olhar dando uma festa ao chegar por lá. Por enquanto, fico cá roendo unhas. "Desenhos que a vida vai fazendo / Desbotam alguns, uns ficam iguais".

quarta-feira, julho 04, 2007

Herança e Cenas de uma história

Num país como o nosso, com dimensões continentais, e que se constrói com base em uma cultura cada vez mais visual e imagética, a busca por meios de comunicação que abranja a maior quantidade de diversidades possíveis, com qualidade, parece quase impensável.
Porém, creio que a TVE Brasil, por todos os esforços visíveis na sua grade de programas, procura entender e apresentar a educação e a cultura em um sentido plural.
A história dessa “resistência” ao comercial e ao facilmente digerível foi registrada em dois livros lançados ontem no Espaço Cultural TVE Brasil/Rádio MEC, no Rio Janeiro.

Sob a pesquisa, organização e edição da jornalista Liana Milanez, os livros Rádio MEC – Herança de Um Sonho e TVE Brasil – Cenas de Uma História, além de recuperar as trajetórias das duas mais importantes emissoras públicas do Brasil, trazem também algumas fotografias e documentos históricos.
Entre as imagens destaco uma de 1982, com o encontro de dois grandes atores, no programa Os Astros, apresentado por Grande Otelo, entrevistando Ítalo Rossi. (Como eu gostaria de ter assistido a tal programa, e a muitos outros como o Patati-Patatá, Canto Conto... momentos, do tempo da delicadeza, dos quais só tenho notícias através de registros como estes.).
Durante a cerimônia, discursaram Franklin Martins, Ministro Chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, e Luiz Paulo Conde, secretário de Cultura do Governo Sérgio Cabral Filho/RJ. Ambos elogiaram a importante atuação das emissoras Rádio MEC e TVE Brasil frente à preservação e manutenção da qualidade na comunicação.
Entre os convidados, estavam presentes aqueles que fizeram e fazem esta história acontecer, como: Bia Bedran, do
Canto Conto; Leda Nagle, apresentadora do Sem Censura, Michel Melamed, antenadíssimo e excelente com o seu Re[corte] Cultural; Sergio Britto, pelo seu programa sobre arte, a atriz Julia Lemmertz, que apresenta o Revista do Cinema Brasileira, etc, etc.
Entre esses ainda aponto a presença de Fernanda Montenegro, com a merecida honraria de sempre. Emocionante vê-la conversando com o Sergio Britto, relembrando “causos” das emissoras homenageadas.
Os livros trazem muitas histórias e curiosidades importantes para a formação da nossa memória cultural. Verdadeiras lutas já foram travadas, seja contra a censura, seja a favor da consciência ética. O programa Sem Censura, que entrou no ar logo depois d
a abertura política, numa clara referência ao fim da censura, como o próprio nome informava, procurou ser um exemplo disso.
Questiona-se muito a qualidade da programação da TV, no Brasil, o que me faz recordar a famosa frase de Groucho Marx:

Acho que a televisão é muito educativa. Todas as vezes que alguém liga o aparelho, vou para a outra sala e leio um livro

Concordo (em partes), pois quando a TV, através do uso da imagem, oferece ferramentas para o conhecimento, suje a educação. E quero crer que, com a missão, que deveria ser da comunicação pública em geral, de unir cultura e educação, buscando na tradição os rumos e as raízes para as ações do presente, a TVE Brasil e a Rádio MEC continuarão fazendo da herança de um sonho (de Roquette-Pinto e Tude de Souza) as matérias para as cenas de nossa história.