Quantas dobras montam uma existência? Quantas cicatrizes cabem em um corpo? Quantas verdades podemos suportar?
Estas perguntas ficam dando voltam no expectador que sai da sessão de Incêndios. Dirigido por Denis Villeneuve, o filme tem tomadas que mais parecem clips do Radiohead. Aliás, para intensificar isso, é o som do grupo que se ouve ao fundo várias vezes. Esta é a primeira dica para as muitas voltas - justaposição radicalmente linda de presente e passado - complexificadoras que Incêndios irá apresentar.
Agindo sobre um tema bem novelão, assumindo o humano no melodrama - a busca do pai e do irmão desconhecidos - a história dos gêmeos Simon (Maxim Gaudette) e Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) se embrenha por territórios físicos e espirituais desconfortantes.
Dizer qualquer outra coisa da narrativa é entregar demais: só adianto que um mais um, no filme, não é dois, é um.
A fotografia e as atuações são das mais arrebatadoras que o cinema contemporâneo nos ofereceu recentemente. Tudo é, ora extremamente seco, ora assustadoramente úmido. Em Incêndios, todas as certezas são postas em prova: em especial as convenções entre privado e público.
Ao final, o canto da "mulher que canta", que guarda e sustenta em si a dor de todo um pensamento cultural, quer salvar-nos da terrível certeza: nada é tão simples quanto parece ser.
Sei que este adjetivo perdeu sua força, mas Incêndios é, de fato, um filme surpreendente.
segunda-feira, abril 11, 2011
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Um comentário:
Leo, nem sei se o filme já está passando aqui em JP. Só sei que teu texto me deixou com mais vontade ainda de assisti-lo. Bjs.
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