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segunda-feira, outubro 19, 2009

Apontamentos: Canção e Memória I

A PUC do Rio reuniu pesquisadores e artistas para debates sobre Música Popular, Literatura e Memória. Ficou evidente que, se por um lado temos cancionistas preocupados com a preservação da memória cultural do país, por outro lado o descaso, dos diversos níveis da sociedade, atrapalha os projetos.
No Brasil, a canção popular, desde sempre, é marcada por certa "voz libertadora". Mesmo em tempos ditatoriais, a canção, por seu apelo comercial e popular, agrega pensamentos de libertação. Ela dá direito de voz. Haja vista a penetração do rap hoje, por exemplo. Mas a canção também tem o dom de registrar aquilo que esquecemos. Basta ouvir os primeiros sambas, com seus sons inspirados na África.
De outra forma, a canção é um tipo artístico para o qual não é necessária nenhuma preparação. Ou seja, podemos estar fazendo coisas as mais variadas possíveis que sempre haverá uma canção tocando como pano de fundo. Dito de outro modo, não é preciso "parar para curtir uma canção". Muito embora alguns cancionistas sejam capazes de estranhamentos tais que arrebatam o ouvinte. Mas cada um toma a canção de seu jeito, sem hora marcada, nem local definido.
A canção por aqui reflete o paradoxo que constitui o Brasil. Do barroco e candomblé de Caymmi à seca e gêneros musicais nordestinos de Gonzaga: a canção serve, entre outras coisas, para pensar o país e lançá-la no mundo, como fez a Bossa Nova ao obrigar os americanos a falarem "Copacabana" e "Ipanema". Essa paisagística urbana híbrida do Brasil, com a "má influência do urbanismo" que Mário de Andrade tanto evitou também marca nossa canção. E não nos enganemos: Por mais paradoxal que possa parecer, a Bossa Nova tornou possível a leitura de Clementina de Jesus, por exemplo; e o Olodum sempre esteve presente em João Gilberto.
Desse modo, somos tanto a nacionalização de Mário de Andrade, com o preconceito em relação ao popularesco; quanto os estilhaços de Oswald de Andrade, cujo Brasil era pensado por colagem, deslocamentos e condensações de significantes. A canção no Brasil se cruza erudito com popular, culto com simples. Já conseguimos o direito ao uso de todos os instrumentos. Somos "Doces bárbaros" e "Brasileirinho", para citar dois trabalhos fundamentais de Maria Bethânia, a grande diva que sempre levou "poetas do livro" para o palco da canção. (Continua).

Texto publicado no Jornal A União 17/10/2009

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:


= Peça Toda nudez será castigada - Tirando alguns gritos, a montagem da Armazém Companhia de Teatro é avassaladora, como o texto de Nelson Rodrigues.
= Peça Z.É. - Nada absurdo, mas faz qualquer um bolar de rir.
= Filme District 9 - Inovador! Este filme é uma sacada de mestre. Incrível!
= Filme A Orfã - Alguns clichês, mas assustador.
= Filme Los Abrazos Rotos - Almodóvar adensa (quase ao irreconhecível) ainda mais sua pespectiva intertextual de fazer cinema.
= Livro Velô (Santuza Cambraia Naves) - Lúcida análise sobre o disco Velô do Caetano. Boa Leitura!
= Livro A luz do farol (Colm Toibin) - O jogo de claro escuro (das voltas) de um velho farol serve de metáfora para as complexas relações afetivas apresentadas pelo livro.
= Show Jards Macalé e Maria Alcina - Corretíssima homenagem a Moreira da Silva, feita por dois grandes nomes de nossa música.

sábado, outubro 17, 2009

Lançamento de livro



Vinis mofados, de Ramon Mello.
20/10 - 19h30
Shopping dos antigários
Siqueira Campos, 143 - sl. 44 - 2º andar

segunda-feira, outubro 05, 2009

Lançamento de livro

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Casa Laura alvim
convidam para o lançamento do livro

Federico Garcia Lorca: Pequeno poema infinito
de José Mauro Brant e Antonio Gilberto




Quarta-feira, 7 de outubro de 2009
a partir das 19 horas

Livraria Dona Laura:
Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema

No coração líquido da ilha

Ao colocar a imagem da bolha no centro nevrálgico das reflexões sobre a contemporaneidade, Peter Sloterdijk sublinha a intenção de revisar o fetichismo da substância, em um mundo cada vez mais desubstancializado. O filósofo nos dá a entender que não estamos mais apoiados na solidez, nem se pode mais procurar segurança numa verdade única. Tais ideias nos permitem uma leitura comparada do livro "O filho da mãe", de Bernardo Carvalho com o filme "The buble", de Eytan Fox.
A expressão aqui feita título foi tirada do livro de Bernardo de Carvalho. Ela, de fato, auxilia bastante qualquer tentativa de comentários sobre o livro em sua temática sobre as possibilidades das relações afetivas e/ou eróticas de hoje, quando o coração, sede mítica do bem-querer-romântico, passa a ser constantemente atacado em sua vulnerabilidade: os amores expressos. São os afetos frágeis em suas estruturas e sem substâncias, leves em seus estados, que engendram o texto de "O filho da mãe".
O fato é que, para fugirmos à ameaça de "explosão da bolha", ilhamo-nos, criamos sistemas imunológicos que só nos deixam seguros até o próximo segundo, quando muito. Isto está sugerido tanto no livro, quanto no filme "The Buble" nas suas cenas de fundamentalismo e extremismo religioso e na relação limite das personagens.
Nas duas obras, a ameaça de serem descobertos excita ainda mais os amantes, como a quaisquer amantes. O amor passa a ser associado ao risco e à guerra, no que há de mais eletrizante e aterrador nesta associação. No livro e no filme, temos o amor afetado e atravessado pela política: Enquanto no livro, a primeira noite de sexo acontece em um vagão de trem abandonado "como se não estivessem no epicentro da guerra"; no filme, as personagens de Fox se conhecem em uma fronteira de Tel Aviv - a "bolha" do título, por ser uma cidade que parece isolada do resto de Israel. Amores-ilhas e amores ilhados.
O sexo destes "amores entre escombros" é uma metáfora à trégua, com o desejo "deixando a realidade da guerra em suspenso". O amor é o "baixar da armas", talvez pela urgência. Por fim, as paisagens labirínticas dominam o leitor/espectador e as personagens, que fazem da guerra "um quarto em ruínas", ganham seus cúmplices.
Como sugere Sloterdijk, as esferas só chamam atenção quando rebentam. Ler o livro "O filho da mãe" e ver o filme "The Buble" fazem pensar que os homens são componentes de um intenso segredo relacional. Um doce mistério minando permanentemente.

Texto publicado no Jornal A União 03/10/2009

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Peça Vestido de Noiva (Dir. Gabriel Vilela) - Ficou patente, apesar do ar de novidade, que o clown não soluciona a complexidade do texto de Nelson Rodrigues. Uma pena, pois, no todo, a peça é bonita.

= Filme Taking Woodstock (Dir. Ang Lee) - Incrível a fersatilidade deste diretor. O filme é lindo, em suas imagens, temas e trato com a história.
= Filme Dzi Croquettes (Dir. Tatiana Issa e Raphael Alvarez) - O doc. faz juz a este grupo/movimento/filosofia que redefiniu o maneira de pensar a arte e os (des)limites fronteiriços entre os gêneros sexuais.
= Livro Berkeley em Bellagio (João Gilberto Noll) - A narração é aflitiva, capta bem a personagem no limiar entre o real e o ficcional.
= Livro O quieto animal da esquina (João Gilberto Noll) - O melhor livro do Noll, que li.
= Livro Teatro (Bernardo Carvalho) - O modo como as histórias se tocam, se cruzam, ao mesmo tempo em que se distanciam é a grande chave deste trabalho incrível.
= Exposição Cartazes Cubanos = Todo estudante de arte precisa aprender um pouco com esta exposição. A qualidade das peças é absurda! Caixa Cultural Rio até 26 de outubro.