Pesquisar neste blog

quinta-feira, junho 14, 2012

Caetano Veloso

Caetano Veloso
Voz e violão 
e barulho do mar de Copa batendo nas rochas do Forte
Forte de Copacabana
13/06/2012
 

quarta-feira, junho 13, 2012

Jorge Amado e Universal

Jorge Amado e Universal é a melhor exposição temporária que o Museu da Língua já montou.
O fato é que tanto pelo excesso da discutível interpretação da cultura grega, atravessada pela educação e mitologia cristã que privilegiou Apolo, quanto por fugir sem critérios de tudo que possa ser exótico, a Academia ainda hoje não sabe ler Jorge Amado.
Jorge deflagrou e disseminou outros signos, também brasileiros, porém de raiz africana e arcaica. Com isso fotografou e inventou tipos e costumes sensuais e mais próximos de Dioniso do que de Apolo.
Na obra de Jorge, Iemanjá e Oxalá se misturam a Maria e Jesus. Os tambores do candomblé se harmonizam com a lira de Orfeu.
Porém, o "projeto Brasil" de Jorge é gestado na contribuição dos escravos negros africanos, portanto, exige outros dispositivos de interpretação, além dos europeus, posto que tal projeto amplia as noções de brasilidade.
E assim o Brasil de Jorge - um cenário que muitos teimam em reduzir a um pedacinho estranho e exótico da Bahia - não é só verde anil e amarelo, mas também cor de rosa e carvão.
É isso que a exposição Jorge Amado e Universal soube captar muito bem, com seu mar de dendê, com os nomes das personagens feitos em fitinhas (do Bonfim) de amarrar no pulso, suas espreguiçadeiras e seus votos e mimos aos deuses de outras mitologias.

domingo, junho 10, 2012

Satyricon


Não há como ir a São Paulo e não aproveitar algo da programação dos Satyros.
Com o mote de que a terra está tão atulhada de divindades que é mais fácil encontrar um deus do que um homem e, portanto, estando à procura destes e de suas humanidades, fragilidades e finitudes, a adaptação dos Satyros para o clássico da literatura - o Satyricon – mistura a mitologia romana à vida noturna dos michês da grande metrópole.
Descolados do tempo literário e postos na roda viva da noite, dos mictórios públicos, as personagens de Petrônio – o trio Encólpio, Ascilto e Gitão – adaptam-se muito bem ao novo contexto também repleto de mitos, riscos e busca pela sobrevivência à beira do abismo. E a proposta se agiganta por se manter muito distante do filme de Felini.
Os destaques do espetáculo ficam por conta da luz e da direção. Além da trilha sonora e dos objetos de cena. Sem contar o modo sempre singular com que os atores dos Satyros se atiram no salto mortal da encenação, fazendo juiz à classificação indicativa da peça.
Crônica e lirismo se mesclam para montar o império sucateado em que vivemos. Crepúsculo do macho. Resta-nos aceitar a sina escravocrata imposta pela sociedade do espetáculo. Eis a proposta do Satyricon dos Satyros.

Priscilla – o musical

Priscilla – o musical é um dos melhores espetáculos que já assisti. Falo da produção bem executada.
O rigor cênico alcança a perfeição. Os figurinos confeccionados com requintes de detalhes, a iluminação, a orquestra, as perucas, a maquiagem, as marcações, as coreografias, o texto... cada parte unida às outras com harmonia resulta em um todo emocionante e festivo, trágico e sublime.
O ônibus-personagem é um show a parte: são tantas minúcias que os olhos nem conseguem captar tudo.
A peça mostra como as questões discutidas no clássico do cinema são atemporais.
É impossível não se contagiar. Mesmo para quem não curte musicais.
E como não ser tocado pelo modo preciso com que canções do universo pop e camp - de "It's rainning men" a "We belong" e "Dancin days", passando por "Like a virgin", "Don't leave me this way", "I will survive" e "The floor show", entre outras - se oferecem como cenário à aventura que é viver?
Canções que embalaram muitas lutas individuais e coletivas. É Bernadette (Ruben Gabira) quem lembra a Adam/Felicia (André Torquato): "Para você poder ser quem é hoje eu precisei lutar muito".
Como não imaginar que se mais crianças, como Benji, filho de uma drag queen com uma dona de cassino, fossem criadas respeitando a liberdade de gênero teríamos um mundo mais solidário? E isso beneficiaria a toda a sociedade, não apenas a uma parcela, como alguns pensam e professam.
Confesso que chorei um pouquinho, entre tantos risos, vindos da alegria de me reconhecer humano e relembrando alguns momentos históricos que cada uma daquelas canções guarda. Coisas que nem "vivi", mas que estão agregadas à minha história. E pensando quantos desertos ainda teremos que atravessar? 
Tudo em Pricilla – o musical quer afirmar a vida como entrega e risco, dor e sim. E para isso as atuações apaixonadas e lúcidas de cada ator em cena são a melhor tradução. E já que citei duas das três corajosas drags, não posso deixar de citar a Tick/Mitzi (Luciano Andrey).
Priscilla – o musical é grandioso. Como a vida pode ser.