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sábado, dezembro 31, 2011

Sons de 2011

Para quem curte, uma lista aleatória dos sons que (me) tocaram em 2011
e que continuarão (me) tocando em 2012 e depois:

Indivisível
José Miguel Wisnik
Com charme e paixão, elegância e delicadeza, José Miguel Wisnik presenteou à canção popular brasileira com um disco (duplo) cheio de metacanções - temas, melodias e vozes que se (auto)questionam e se (auto)explicam - no puro sabor do gesto de cantar canções. "As canções só são canções quando não são promessas", diz.

Micróbio do samba
Adriana Calcanhotto
Na sua singular valorização do dionisíaco, o sujeito feminino das canções deste disco quer afirmar a vida sem os compromissos afetivos que lhe faziam suportar - por amor - a onipotência do outro. Mais do que uma questão de gênero - de voz feminina (revanchista) no samba - há uma sonoridade cuja intenção é tocar - com sucesso - núcleos duros do ritmo carioca e nacional.

Nó na orelha
Criolo
Borrando a fronteira entre o sujeito cancional (a voz da canção) e o indivíduo social (a voz por trás da voz da canção), sem rancor esterilizante, Criolo sublinha que "Di Cavalcanti, Oiticica, Frida Kahlo tem o mesmo valor que a benzedeira do bairro". Tudo soma, tudo atravessa e é por ele atravessado. Um disco para o cânone da canção popular brasileira.

Ame ou se mande
Jussara Silveira
Há nas inflexões vocais de Jussara - nas nuances sutis nas alturas melódicas - um descompromisso (natural e espontâneo) comovente com aquilo que é dito, cantado. Jussara e sua voz nos arrastam para um campo onde somos amor da cabeça aos pés: desperta em nós a nostalgia da pura interioridade.

Liebe paradiso
Celso Fonseca e Ronaldo Bastos
Destacar aqui todos os sons sutis e suas articulações dentro de Liebe Paradiso é algo impossível e soa incoerente diante da grandeza da obra. É preciso ouvir: sem pressa, ao sabor dos sons, das vozes, do simples gesto - cada vez mais raro - de ouvir para ser ouvido.

Lira
Lirinha
Solo, mas permanentemente aceso pelo fogo encantado da canção popular, da cultura oral, Lirinha mantem o vigor de misturar mundos no mundo sonoro criado por ele. O delírio e a lucidez poéticas, que desde sempre acompanhou Lirinha, estão mais densos, concisos e pulsantes que nunca. Risco e controle estético no tom perfeito.

Oi! A Nova Musica Brasileira!
Diversos
Uma primorosa coleção do que de mais urgente e diverso está sendo feito em canção e música no Brasil. Muitos signos - de diferentes extrações - em rotação: festa dos vários modos de fazer som hoje por aqui. Alguns passadistas, outros interessantes.

Recanto
Gal Costa
Salvo engano, a canção "Autotune autoerótico" é síntese do disco Recanto. O verso que abre a canção - "Roço a minha voz no meu cabelo" - dá visualidade sonora à capa do disco: o rosto de Gal Costa em close-up e sua voz (assim, meio de lado) "fotografada" no instante exato em que roça o cabelo da cantora. Notas (vocais) e fios (de cabelo) elétricos a serviço do cantar. Outro disco para o cânone da canção popular brasileira.

A curva da cintura
Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra e Toumani Diabaté
Gravado em Bamako, capital do Mali, e em São Paulo, o disco traz ótimas parcerias com arranjos híbridos que figurativizam o título do disco: festa de rítmos e culturas que tenciona e movimenta o corpo, sem deixar de tocar temas sérios nas letras. Entre os instrumentos, a kora de Toumani, óbvio, ganha destaque e cria clima malemolente, praieiro: (re)unindo África e Brasil.

Assis Valente não fez bobagem
Diversos
Capitaneada pela comprovada competência do pesquisador Rodrigo Faour, esta coletânea de registros raros presta uma delicada e mais do que merecida homenagem pelos 100 anos de alegria proporcionados por um dos nossos maiores e mais geniais crônicas da canção: Assis Valente.

A canção de 2011
"Paciência", com Elza Soares

http://youtu.be/x1NuEPdWSXk

É muito difícil reduzir 365 dias em uma única canção. Foram tantas e cada uma (ou muitas) para cada instante, gesto, encontro, despedida. Mas Elza Soares cantando "Paciência", de Lenine e Dudu Falcão, é avassalador. E merece meu registro aqui, como um voto no presente e uma aposta no futuro!

segunda-feira, dezembro 12, 2011

Rita Ribeiro

Rita Ribeiro
Tecnomacumba
Teatro Odylo Costa Filho
09/12/2011

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Amor confesso

Se você quer assistir a uma peça de teatro em que a entrega e a qualidade técnica dos atores seja visceral - daquele modo cada vez mais raro, em tempos de peças cool - não deixe de assistir a Amor confesso, no Centro Cultural dos Correios.
Feita a partir dos contos de Arthur Azevedo, o que por si só já mereceria atenção, Amor confesso é de difícil definição e descrição no campo do gênero, tamanhas são as misturas felizes de possibilidades cênicas utilizadas: da comédia de costumes ao metateatro, passando pela opereta, entre outros.
Em Amor confesso há saudade - do Rio de Janeiro ingênuo do bonde elétrico - e contemporaneidade - das questões atemporais das parcerias amorosas - em equilíbrio certo: vibrante, solar, viçoso e risonho.
Tudo é emoldurado pelo diálogo direto com a plateia e pelos temas cancionais - postos em situações bem díspares do comumente consumido - facilmente reconhecíveis do grande público, o que intensifica a empatia.
Sobre a trilha sonora (direção musical de Marcelo Alonso Neves), ainda é preciso destacar a presença do pianista Roberto Bahal: um importante terceiro ator em cena dando melodia à movimentação das personagens interpretadas por Claudia Ventura e Alexandre Dantas.
Para que tudo isso aconteça com harmonia age a direção segura de Inez Viana pondo foco nos muitos recursos (vocais e físicos) e repertórios (cênicos) dos dois atores, facilitando o jogo e o embate lúdicos.
Os encontros e desencontros de toda parceria erótico-afetivas, fotografados na pena de Arthur Azevedo - em contos como "Como o diabo arma", "Vingança", "A melhor amiga" e "Incêndio do Polytheama" - dançam com canções como "A nível de" (João Bosco), "Errei, sim" (Ataulfo Alves) e "Futuros amantes" (Chico Buarque) numa festa que enriquece a arte e a vida.
Ou seja, a peça Amor confesso é construída e atravessada por referências literárias, cancionais, musicais e, claro, teatrais diversas. O resultado é uma festa íntima - do casal em cena às voltas com os minutos que antecedem a subida ao altar - e coletiva - do público que se vê diante de um grande momento do teatro brasileiro.
Amor confesso não responde (nem quer responder) para que, porque, por quem casar. Mas se as uniões da "vida real" tiverem um-terço da cumplicidade e do tesão que Claudia Ventura e Alexandre Dantas têm em cena, a vida a dois vale muito à pena.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

DVD Sexo MPB

Ficou mesmo muito difícil distinguir uma cantora de outra, tão parecidas são suas vozes e trejeitos ao cantar.
Felizmente temos pesquisadores atuantes e apaixonados por Canção Popular Brasileira como Rodrigo Faour, cuja vida tem sido dedicada a pescar pérolas. Algumas raríssimas, só percebidas por quem tem uma sensibilidade realmente forjada na pesquisa séria e na vivência entre a diversidade vocal brasileira.
Entre tantos trabalhos importantes, chamo atenção ao registro do prêmio-festa-show Sexo MPB recém lançado. Mostrando que o tesão não está apagado, como o "bom-gosto" de alguns críticos querem fazer crer, Faour reuniu no mesmo palco artistas de tempos, espaços e estilos diversos, a fim de celebrar e reconhecer o trabalho de cada um deles e suas tentativas bem sucedidas em manter a alta temperatura da canção feita no Brasil.
Gravado no Centro Cultural Carioca, no Rio de Janeiro, em setembro de 2010, o DVD Sexo MPB é um luxo para os ouvidos e olhos de todo interessado em canção. Com ar descontraído e clima de intimidade, que só Faour consegue entre seus convidados, os artistas passeiam e se alegram em cada cena.
Anárquico, porque feito para ser um encontro cheio de improvisos e viçoso, o DVD Sexo MPB aprecia cantores cujo brilho vocal ainda se mantem aceso, apesar de distantes dos holofotes midiáticos massivos.
É o caso de Lana Bittencourt, por exemplo, e sua voz rara em tempos de autotune.
Mas há muitos outros momentos singularmente belos e só passíveis de apreciação apenas neste DVD.
Manhoso fazendo "O modo de usar (Só capim canela)"; Alcione cantando "Sabiá Marrom", de Paul Mauriat, Pierre Delanoe, Totonho e Paulinho Rezende, lendo a letra, tanto tempo fazia do encontro da canção com a voz da cantora; Márcia Castro cantando - como só ela faz - "Vergonha", de Luciano Salvador Bahia; Eliana Pittman e seus floreios vocais em "Chuva", de Durval Ferreira e Pedro Camargo; Fernanda Abreu e sua carioquice intrínseca encarnando um blend paulista de Rita Lee; sem falar das Frenéticas desbundando com "É que nessa encarnação eu nasci manga, de Luli e Lucina; e da libido à flor da pele em Edy Star cantando "Claustrofobia", de Roberto e Erasmo Carlos.
E ainda tem Ângela Ro Ro, Toni Garrido, João Roberto Kelly, Eliana Pittman, Cláudia, Perla, Fátima Guedes, Pedro Paulo Mauta, Alfredo-Del-Penho, Márcio Gomes e Ademilde Fonseca.
O DVD Sexo MPB é um registro de importância inegável e cheio de tesão pelo objeto exposto: as canções e seus cantores, todos grandes artistas na mitologia da linha evolutiva de nossa canção popular.
Fico ansioso pelo próximo DVD Sexo MPB: um momento imprescindível emoldurado de muito tesão e afeto em que Rodrigo Faour lança luz sobre artistas que nunca deveriam ter saído do foco dos holofotes.