O rigor cênico alcança a perfeição. Os figurinos
confeccionados com requintes de detalhes, a iluminação, a orquestra, as
perucas, a maquiagem, as marcações, as coreografias, o texto... cada parte
unida às outras com harmonia resulta em um todo emocionante e festivo, trágico
e sublime.
O ônibus-personagem é um show a parte: são tantas minúcias
que os olhos nem conseguem captar tudo.
A peça mostra como as questões discutidas no clássico do
cinema são atemporais.
É impossível não se contagiar. Mesmo para quem não curte
musicais.
E como não ser tocado pelo modo preciso com que canções do
universo pop e camp - de "It's rainning men" a "We belong"
e "Dancin days", passando por "Like a virgin", "Don't
leave me this way", "I will survive" e "The floor
show", entre outras - se oferecem como cenário à aventura que é viver?
Canções que embalaram muitas lutas individuais e coletivas.
É Bernadette (Ruben Gabira) quem lembra a Adam/Felicia (André Torquato):
"Para você poder ser quem é hoje eu precisei lutar muito".
Como não imaginar que se mais crianças, como Benji, filho de
uma drag queen com uma dona de cassino, fossem criadas respeitando a liberdade
de gênero teríamos um mundo mais solidário? E isso beneficiaria a toda a
sociedade, não apenas a uma parcela, como alguns pensam e professam.
Confesso que chorei um pouquinho, entre tantos risos, vindos
da alegria de me reconhecer humano e relembrando alguns momentos históricos que
cada uma daquelas canções guarda. Coisas que nem "vivi", mas que
estão agregadas à minha história. E pensando quantos desertos ainda teremos que
atravessar?
Tudo em Pricilla – o musical quer afirmar a vida como
entrega e risco, dor e sim. E para isso as atuações apaixonadas e lúcidas de
cada ator em cena são a melhor tradução. E já que citei duas das três corajosas
drags, não posso deixar de citar a Tick/Mitzi (Luciano Andrey).
Priscilla – o musical é grandioso. Como a vida pode ser.
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