Nordestino não gosta de ver carioca e/ou paulista representando sua gente. Não se trata de identificação, nem purismo. A questão é que na maioria das vezes tudo descamba para uma caricatura tacanha: que apenas busca o riso fácil, não dos nordestinos, mas dos próprios cariocas e paulistas. Como a "senhora do destino" feita por Susana Vieira, por exemplo.
Por isso meu completo encantamento com o texto de Newton Moreno para a excelente As centenárias. Aliás, Moreno também é autor de Maria do caritó, outro excelente espetáculo.
Claro que, sem uma montagem e atores à altura nem mesmo um texto excepcional sobrevive no palco.
Daí destacar em As centenárias o trabalho de Marieta Severo e Andréa Beltrão. A primeira como a casmurra e astuta Socorro e a segunda como a excessivamente alegre e ingênua Zaninha.
Ambas com preparação vocal e corporal exatas. Ambas trabalhando sobre a tênue fronteira que separa a caricatura desrespeitosa e débil e a construção orgânica e lúcida de seus papéis.
Merece destaque, ainda, o impactante cenário: um fundo feito por bonecos tão diversos (em tamanho e tipos) quanto os corpos chorados e cantados pelas duas carpideiras.
Quem tem o mínimo de conhecimento de Nordeste se emociona e se alegra. O riso é de festa e celebração, pelo teatro bem feito e por aquelas mulheres cuja função, tão importante para a cultura oral e vocal, perde-se no progresso vazio.
Só impliquei com a solução cênica (música e picadeiro) dada para o fato da morte ser a mestre de cerimônia - que tudo conduz - do espetáculo. Mas isso não interfere no brilhantismo arrebatador de As centenárias.
sábado, abril 02, 2011
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2 comentários:
Olá vc já teve acesso ao texto das centenárias?
Olá vc já teve acesso ao texto das centenárias?
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