O Rio de janeiro não é e é aquilo que vemos em Rio. Não é, e nem precisa ser, porque estamos no campo da intervenção, da criação. E é porque potencialmente desejamos que a cidade seja aquele lugar divino, maravilhoso.
Seja como for, Rio é um deslumbre: um show para os olhos e demais sentidos; uma sincera - e alheia ao ressentimento tolo - festa da alegria.
Em Rio, o Rio de janeiro é mais do que uma cidade, é o tempo-espaço que revela, vela e desvela fernandos (garotos sem pai, nem mãe: futuros rapazes maus?!) e dentista que usa fio dental para fazer o carnaval e machões que se travestem de tangas douradas e chocalhos amarrados na canela para brincar com o avesso de si.
Se temos o traficante de aves (de nossas belezas naturais), temos também o pesquisador ingênuo e romântico fazendo sua parte para reverter o mal instalado.
O Rio de janeiro de Rio é tão mutante - paisagem tão movediça quanto inspiradora - quanto o Rio de janeiro com o qual nos deparamos na vida "real".
Mas, claro, em Rio, o Rio de janeiro é muito mais: há uma emocionante retomada de uma delicadeza perdida. Por vezes, parece que estamos diante de um filme da Atlântida: ufanista porque apaixonado e querendo que, de fato, o Rio "real" seja daquele jeito. Ou seja, que o Rio de Janeiro seja para o morador da cidade o mesmo que é para o turista: praia e sol, Maracanã, carnaval e futebol deslumbrantes e pacificados (sem falsas promessas). E, claro, a trilha sonora tem parte importante no sucesso do show: é a apoteose do jeito de corpo carioca!
Carlos Saldanha investe nas potências, contrastes e signos mais intrínsecos da cidade - dos quais muitas vezes nos envergonhamos: máscaras impostas pela emergência social tacanha.
O que é o cachorro babão Luiz vestido de Carmen Miranda (nosso espelho inconfesso) senão a afirmação de que podemos ser e ter muito mais? O que são Nico e Pedro senão uma mostra da parceria malandra que nos faz ser e ter muito mais do que a realidade oferece?
A felicidade (e a ponta de orgulho) que sentimos ao sair de Rio precisa dar força para que amemos e deixemos a cidade ser o que ela é: capital sangue-quente do melhor e do pior do Brasil; o lixo que consome e que tem nele o maná da criação.
sexta-feira, abril 15, 2011
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4 comentários:
Eu sempre fico com vontade de ver o filme quando você faz comentários assim.
Rio, aí vamos nós!
Leo, concordo com todas as tuas impressões sobre o filme. E que impressão... você está se superando. Só um paraioca como você pra sentir o Rio de forma tão intensa assim. Te espero aqui pra gente ver filme e tomar café, como combinado. Ansiosa já!! Bjs.
realmente, vx disse tudo o que gostaríamos. E aquela esquina do lavradio hein??? ficou na minha memória a exatidão dos traços dos desenhistas com suas cores, as mesas desbotadas de copacabana, a bunda da mulata, a beleza dos desfiles da Sapucaí. Rio é colírio para os olhos e delírio para o coração carioca, cearoca ou paraioca.
Mas que beleze esse post Leo. Já estava bem curioso para ver Rio. Agora mais ainda! @br@ção!
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