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quinta-feira, março 10, 2011

O ilusionista

O filme O ilusionista, dirigido por Sylvain Chomet, não é recomendado para quem - ao menos uma vez na vida - tentou cortar os pulsos. O ilusionista é aterradoramente tristíssimo. E, por isso também, um filme assustadoramente belíssimo.
Merecedor de todos os superlativos, O ilusionista carrega as tintas nas referências à obra do diretor Jacques Tati para tematizar o fim das utopias.
"Mágicos não existem", escreve no bilhete final o ilusionista do título: o próprio Tati?
Tudo ao redor da personagem central é construção e ruína: desde a estrutura formal do filme - a técnica de animação utilizada - até a movimentação - encontros e despedidas - das personagens.
Todos caminham juntos para um mesmo (triste) fim. Sem esperanças: até mesmo a beleza da juventude da personagem feminina - sintomaticamente chamada de Alice - é borrada pelas nesgas de deslumbres que vem dela.
Aliás, o eterno retorno (nietzscheano) das coisas - que corrói nossa existência - é lindamente tematizado quando Alice (já devidamente envolvida nas seduções da cidade) cruza na rua com uma camponesa, como Alice fora um dia.
O rock, a TV (a única coisa que parece estar sempre ligada) e a cidade em si são sugeridas como cúmplices no apagamento do interesse do público (e do mercado de trabalho) pelos artistas artesanais: pela percepção clown do mundo.
O ilusionista é um filme que honra a obra melancólica e a vida de Jacques Tati, que tanto tematizou o estranhamento diante das promessas de felicidade e maravilhas que a modernidade oferece. E pergunta: há vida depois do amor?

Um comentário:

Lou Porto disse...

Leo, disse que iria ler o teu texto amanhã, mas não resisti. Tinha certeza de que valia a pena enganar o sono para lê-lo imediatamente. Não assisti ainda ao filme. Ele estava passando no cinema da fundação em Recife, mas eu e Leo (o teu xará que é meu namorado)perdemos a sessão. Ele conseguiu baixar e vamos vê-lo esse fim de semana. Quanto ao teu texto, posso dizer que também merece todos os superlativos. Arrisco dizer, inclusive, que é dos seus melhores.
Me senti ainda mais instigada para ver o filme e para escrever sobre ele. Beijão.