O filme Bruna Surfistinha mostra que o veneno do escorpião não é tão doce assim. Aliás, noutra perspectiva de leitura, levando-se em conta que o filme foi baseado no livro de memórias da garota de programa - O doce veneno do escorpião -, Bruna Surfistinha é quase vazio de veneno.
Na busca pela classificação de 14 anos - o que, de fato, não aconteceu, pois o filme não é recomendado para menores de 16 anos -, o diretor Marcus Baldini excedeu no cuidado com os corpos.
Além de eliminar trechos importantes para o entendimento da persona da personagem do livro: nossa Hilda Furacão contemporânea. Por exemplo, o fato de que não há cenas de sexo lésbico, a não ser umas parcas insinuações e uma cena de cama com um casal.
Bem diferente do livro: aliás, uma boa leitura sobre a escrita-de-si; do fastio existencial meticulosamente escrito para picar o leitor em tempos de espetacularização da obviedade da dor de existir e ter que fazer escolhas.
Deixando de lado as comparações com o livro, Bruna Surfistinha (o filme) não permite ao espectador identificar um contexto temporal para o drama. A história de Bruna soa descolada de um tempo e de um espaço verossímeis. O que, por um lado, reforça o suporte frio e líquido da tela do computador: da blogosfera. Mas acaba deixando o espectador sem direção temporal: de repente, descobre-se Bruna na explosão das drogas, por exemplo.
Tirando a caracterização patética da fase adolescente, Deborah Secco - que mais uma vez está se repetindo na TV -, apesar de não conseguir deixar de ser Deborah (para o bem e para o mal) imprime uma personagem um grau diferente daquilo que habituamos ver nas telenovelas. A mudança de eixos na trajetória de vida, por exemplo, é bem marcada e convence na busca pela atenção alheia e na vontade (humana) de ser independente.
Em Bruna Surfistinha, desde a primeira cena, o diretor trabalha com a pulsão voyeur do expectador de cinema. A cena da blitz policial - sabiamente agregada ao trailler do filme - é a melhor de todas: há uma concentração de desejos, vontades, taras e sentidos impagáveis. Vale a pena ver a "fake plastic love" dela!
quinta-feira, março 03, 2011
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2 comentários:
Leo, gostei muito do teu texto. Como sempre!! Discordo, porém, em um ponto: acho que a temporalidade do filme transmite bem o desnorteamento da personagem. Mas, como não li o livro, não posso fazer comparações. Bom carnaval pra vc!! Beijão.
Parabéns pelo texto, Léo.
Não vi o filme e não li o livro. De todo modo, talvez o único interesse (para mim, pelo menos) esteja justamente na construção e na natureza desse "relato". O livro muito provavelmente foi escrito por um "ghost writer", o que acho que complica um pouco essa questão da escrita de si...
Grande abraço.
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