Nise da Silveira é um exemplo de teimosia e coragem. Sem dúvidas, é uma das mulheres mais importantes do século XX e merecedora de todas as homenagens.
Já o espetáculo Nise da Silveira: senhora das imagens é uma tentativa cheia de boas intenções, porém frustrada, de glorificar à grande senhora.
Dirigida por Daniel Lobo, a atriz Mariana Terra vê-se presa a marcações e tramas que pouco dizem ao todo. As sensações são forçadamente forjadas e a atriz, que visivelmente imprime seu melhor, perde-se no jogo lúdico da direção da peça.
Dizer que a música de João Carlos Assis Brasil e a coreografia de Ana Botafogo (que não é coreógrafa) são funcionais é chover no molhado. E o uso dos recursos multimídias parecem ser o que justifica o título do espetáculo.
Há um mal aproveitado borramento biográfico: ora quem está em cena é Nise, ora é a própria Mariana. Mas na maior parte do tempo quem está mesmo em cena é o diretor.
O que poderia ser usado como recurso para arrastar o espectador, morre na praia; o que poderia, como Nise o fez, romper as fronteiras dos sentidos - e os recursos estão ali, em cena, todos à disposição - é digerido como uma egotrip que não agrega a todos.
Mariana é uma boa atriz e consegue vestir o escafandro dado pelo diretor; ela consegue imprimir soluções funcionais para a direção - o que justifica a emoção de algumas pessoas da plateia - mas o peso é enorme. A poesia é esmagada pelo excesso de sol (de emoção), apesar da água (dos vários recursos técnicos) na qual supostamente Mariana mergulha.
Como sabemos, Nise da Silveira não foi bem recebida pela Academia e Nise da Silveira: senhora das imagens não ajuda na recepção da doutora: nem pelos "doentes", nem pela Academia, nem pelo público em geral.
Ainda bem que a curiosidade e a admiração do público sobre a figura pretensamente capturada pela peça é maior que tudo isso.
quarta-feira, março 09, 2011
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Um comentário:
Embora estejamos cercados por uma variedade de opções teatrais, a qualidade da produção dramática em nossa cidade é inegavelmente reduzida. Raros são os trabalhos que provocam o espectador. Poucas são as peças que transformam aqueles que as assistem por meio dos efeitos estéticos que possam produzir. Penso que a arte de nada vale se não gerar algum modo de transformação interna. Uma das raras montagens atuais de qualidade artística é a peça Nise da Silveira - Senhora das Imagens. O trabalho traz a visceral atuação da atriz Mariana Terra. As sensações não são "forçadamente forjadas", mas evidenciadas por um verdadeiro transe dionisíaco que enlaça a disparidade dos personagens e dos tempos cronológicos. A peça supera os limites do tempo e do espaço, possibilitando, tanto aos personagens quanto aos espectadores, revirarem os escombros, vestirem os escafandros e mergulharem fundo em sua interioridade. O "mal aproveitado borramento biográfico" só pode ser visto por quem se frustra ao não encontrar um mero e simplificado documentário biográfico, deparando-se com uma obra que lida com as dimensões humanas profundas da criação e da imaginação.
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