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terça-feira, maio 25, 2010

Arnaldo Antunes e Edgar Scandurra

Arnaldo Antunes e Edgar Scandurra
Peça MPB
Teatro dos Quatro
24/05/2010






segunda-feira, maio 10, 2010

Convite


Lançamento do novo livro de Lucas Viriato de Medeiros:

Contos de Mary Blaigdfield, a mulher que
não queria falar sobre o Kentucky (e outras histórias)


Restaurante Ettore do Leblon,

Rua Conde de Bernadotte, 26, lj.110

a partir das 19h

sábado, maio 08, 2010

Vanessa da Mata

Mulheres Brasileiras
Vivo Rio
07/05/2010


Participações: Dona Ivone Lara e Mart'nália

quarta-feira, maio 05, 2010

Carlinhos Brown Solo

Gravação do Programa Solo MPB
MPBFM

Teatro Poeira

04/05/2010


Apresentação Toni Platão

quinta-feira, abril 29, 2010

A urgência do instante

Dentre as efemérides da celebração pelos 50 anos de Renato Russo, o livro “Como se não houvesse amanhã” – coletânea de contos inspirados nas canções da Legião Urbana, organizada por Henrique Rodrigues – é uma boa homenagem ao cantor e compositor.
Todos os vinte contistas são, assumida e sensivelmente, fãs banda que ainda hoje mantém aficionados. A angústia produtiva e a inadaptação ao mundo, que atravessavam as canções também direcionam as tentativas de traduções interssemióticas do livro. Mesmo que as canções sejam uma referência distante, ou que versos apareçam diluídos nos textos, a lição de Renato foi introjetada.
Desde “Será”, de Daniela Santi, que abre o livro com lente hitchcockiana e persegue o amadurecimento prematuro, através de dramas sem motivos aparentes, de uma jovem estudante, até “Sagrado coração”, de Maurício de Almeida, de teor confessional, há algo que mina,
falta e jorra. Um remexer intenso e vazio nas caixas da memória.
O gozo erótico fica no plano escritural, pois a fisicalidade diegética está sempre fraturada. “Um corpo morto não goza”. Os sujeitos se paralisam diante dos convites e intimações da existência. Delírios, separações e sêmen no chão dão o tom.
A ausência de verdade, ou a proliferação exagerada delas, é uma das musas das canções da Legião Urbana. Buscar, dentro do sereno da madrugada, exaspera o querer do sujeito, como mostra o conto “Sereníssima”, de Ramon Mello. Há, aqui, um grito de alerta e a procura da palavra mais certa para dizer o indizível.
Este conto, aliás, é uma “ode” à canção popular. Muitas tessituras sonoras se cruzam, como os caminhos cruzados das personagens. A cama é tatame, o fracasso é relativizado pela inscrição do desejo amoroso e os atos são desenhados sobre acordos íntimos desbotados. O sujeito, exasperado, canta o eterno retorno do fim.
Para o bem e para o mal, o desespero, a ansiedade (adolescente) e o enfado diante do mundo provocam as ranhuras doídas e insofismáveis das canções da Legião Urbana e, consequentemente, dos contos. As personagens sem nomes próprios adensam o desejo de atingir o inconsciente do ouvinte-leitor e a intimidade é, por vezes, conseguida.
“Como se não houvesse amanhã”, com as irregularidades que marcam qualquer coletânea, é uma boa amostra sintomática de uma geração cuja certeza passa pela sabedoria de que algo se quebrou e está se quebrando.

Texto publicado no Jornal A União em 29/05/2010

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:


= Filme - Alice in the Wonderland - Não vi os créditos para as traduções de Augusto de Campos, mas o filme, um recorte bacana das histórias, é muito bem feito.
= Filme - Shutter Island - Mais um título brasileiro ridículo (Ilha do medo), para um filme bem armado.
= Filme - The box - Roteiro confuso para uma ideia forte.
= Filme - Did you hear about the Morgans? - Rende umas risadas aqui e ali.
= Filme - The men who stare at goats - Excelente e desbundado roteiro. Além das atuações brilhantes.
= Filme - Histórias de amor duram apenas 90 minutos - Um dos melhores filmes brasileiros de agora. Maduro, bem acabado e com enredo empolgante.
= Filme - Chico Xavier - Um roteiro de "novela das seis", mas que merece ser visto pela história de Chico.
= Filme - The road - Denso e pessimista (ao ponto).
= Filme - From Paris with love - Ação e humor (quase) em harmonia.
= Filme - The bounty hunter - Rende algumas risadas.
= Peça - Vicente celestino: a voz orgulho do Brasil - Impecáveis interpretações e um musical à altura do grande mestre.
= Peça - Dona Otília e outras histórias - Leve e precisa como um encontro casual em uma floricultura.
= Peça - Acorda, Zé! - Cenografia, figurino e atuações em perfeita sincronia.
= Peça - Fronteiras - Filosofia em cena.
= Dança - P.P.P. de Philippe Ménard - Performance aterradora fora a liquefação das certezas.
= Dança - Trittico do Balletto Dell'Esperia - Bonito de se ver.

segunda-feira, abril 26, 2010

Viradão Carioca 2010

Rita Ribeiro
24/04
18h
Praia do Leme





Sandra de Sá
24/04
20h
Praça XV





Paula Toller
24/04
22h
Cinelândia





Milton Nascimento
25/04
21h
Praça XV




segunda-feira, abril 05, 2010

Coleção Raízes da MPB

São 25 livros-CDs de compositores que representam
o nascimento da expressão musical brasileira,
contemplando suas biografias,
influências musicais e repertório.

Acesse:
http://raizesmpb.folha.com.br/

Já nas bancas!

quinta-feira, abril 01, 2010

Poemúsica ou Showversa

O Instituto Moreira Sales abrigou no recente 29/03 uma noite memorável, tanto para quem curte/estuda poesia, quanto para quem curte/estuda música e canção.
O evento Poemúsica reuniu Augusto de Campos, Cid Campos e Adriana Calcanhotto em uma celebração cerebral, corporal, visual e vocal da palavra feita canção.

Através de uma showversa, Augusto apresentou como as inovações da Poesia Concreta fizeram a cabeça sonora dos compositores contemporâneos brasileiros e vice-versa.
Augusto lembrou que a Poesia Concreta começou com música, pela ênfase no canto não "operístico" e pela substituição da declamação pelo que os concretistas chamaram de oralização.
Não é segredo para nenhum interessado no assunto que Webern, Schönberg, Berg, Cage e Varèse por exemplo, fizeram parte do paideuma dos concretistas. Mas Augusto destacou ainda a dicção de Lupicínio Rodrigues e Noel Rosa como "autores" básicos para a construção da filiação musical do movimento. Além de Billie Holiday, Dizzy Gillespie e Miles Davis, que fizeram da chegada de João Gilberto à cena cancional um júbilo de certezas.
Ou seja, Poesia Concreta pode sim ser ouvida, falada ou cantada. Contrariando alguns detratores de primeira ordem, Caetano Veloso, que segundo Augusto de Campos (em referência a uma fotografia em que Caetano aparece sombreado na cabeça de Augusto) "radiogravou" a intenção do poeta concretista ao cantar o poema "Dias dias dias" (1973) com a ênfase no som (polivocal) e nas citações metalinguísticas de Webern e Lupicínio.

Mais tarde, em 1975, Caetano reafirmaria a mirada sonora da Poesia Concreta ao gravar "O pulsar". Poema que regravaria outras vezes, inclusive ao vivo.
Sistematicamente, o trabalho de Cid Campos é a melhor tradução sonora da Poesia Concreta. O disco Poesia é risco, não me deixa mentir.
Mas, voltando a Poemúsica, os três poetas apresentaram a bela interpretação de "O verme e a estrela". Poesia de Pedro Kilkerry que está registrado no disco A fábrica do poema, de Adriana Calcanhotto. Aqui, graves e agudos se sobrepoem e dialogam buscando alcançar o eixo da mensagem de Kilkerry.

No momento Arnaut Daniel, Adriana cantou ao modo medieval uma bela canção - "Canção de amor cantar eu vim" - do poeta (conhecido pelas estruturas rítmicas e rímicas inventivas), fazendo a frequente questão - letra de música é poesia? - caducar. A sofisticação de Adriana deu a leveza exata à canção.Obviamente, Ezra Pound não poderia ficar de fora; e muito menos Herman Melville (com Calcanhotto tirado o "canto da baleia" do Cello).

"Sem saída" poema de Augusto, cantado por Calcanhotto no disco Maré, foi apresentado com citações e referências à "It's a long way", de Caetano Veloso. Afinal, sem saída é it's a long long long long way.

O momento Lewis Carrol, em que Augusto, Adriana e Cid apresentaram as traduções de Augusto, para a obra do escritor, foi a mais encantadora. No sentido de que a persona Partimpim de Adriana (quase) se fez presente. "O mocho e a gatinha" e "Canção da falsa tartaruga" foram interpretadas com cuidado estético e graça. Além de "Alface", tradução de Augusto para poema de Edward Lear.

Emily Dickson e Janis Joplin, entre outros, também foram lembradas e identificadas com a Poesia Concreta.

Por fim, ficou a confirmação de que a informação musical formou a poesia que pretendia ser “verbivocovisual” (expressão do Finnegans Wake, de Joyce).
Em um momento em que as produções (acadêmicas, ou não) sobre canção não param de aumentar, ouvir Augusto de Campos lembrar pontos (comodamento esquecidos) da história de nossa poesia e de nossa canção é fundamental e iluminador.
A união entre poesia experimental e música (para além da letra com a melodia) , oxalá, ainda renderá outros bons trabalhos e momentos como este do Poemúsica.
Quanto a Augusto, como ele próprio registrou, como disse Schönberg, “a melhor forma de entender a minha música é: esqueçam as teorias, o dodecafonismo, a dissonância e, se possível, a mim mesmo”.

segunda-feira, março 22, 2010

Convite


23/03 - 19h30
Terraço Brasil
Av. Cabo Branco, 1870 - João Pessoa/PB

Uma cidade cantada

O Rio de Janeiro está completando 445 anos. A cidade, pela generosidade da natureza e por servir como cenário de fatos decisivos da política e da cultura, é musa de odes e antiodes. Desde os tempos em que o Rio era mais tocado do que cantado (choros, polcas e maxixes), até os cantos falados do rap.
O livro “Canções do Rio – A cidade em letra e música”, organizado por Marcelo Moutinho, tenta registrar as mudanças da canção na cidade e da cidade na canção. Para tanto, o livro reúne seis ensaios de pesquisadores apaixonados pela cidade e pelo tema.
Seguindo a linha histórica, João Máximo abre os trabalhos escrevendo sobre a Lapa idealizada e a Mangueira vista como um céu no chão, do início do século 20. A favela e o Rio “por inteiro” se destacam e o jeito carioquês de sobreviver começa a ser formado.
Pegando o bastão, Sérgio Cabral escreve sobre as marchinhas. Para o autor, são elas que, com humor (carioca) e olhar agudo, abordam as questões sérias do cotidiano.
Em seguida, Nei Lopes, em uma espécie de texto-testemunho, observa o Rio através do samba. O subúrbio é cartografado e o autor defende que a violência está disseminada e influenciando os compositores. Ora mãe, ora mulher, o sambista tem sempre uma relação uterina com a cidade.
Já Ruy Castro, como não poderia deixar de ser, escreve sobre a Bossa Nova. O outro lado da cidade partida: a Zona Sul. Ele lembra que através da geografia de Copacabana e Ipanema o mundo conhece um Rio ensolarado. Pelo menos até as abordagens sociais, na década de 60, quando surge o “Nordeste de cartão-postal”, como tema.
Hugo Sukman amplia a abordagem da dissonância carioca. As injustiças e a consequente violência. O cantado arrastão é metáfora tanto do golpe militar, quanto dos assaltos coletivos. E é do centro dessa brutalidade que surge a MPB.
Sílvio Essinger fecha o livro com um texto sobre o rock (das bermudas), o rap e o funk. Ele aponta como estes ritmos se “descontraem” no contato com a carioquice, sem deixar de polemizar e criticar a beleza e o caos da cidade.
Por fim, vaza de todos os ensaios a vontade de entender a construção de identidade do Rio de Janeiro feito canção. O livro “Canções do Rio”, irregular, como a cidade, resulta em leitura leve, ideal para uma tarde quente de verão.

Texto publicado no Jornal A União em 17/04/2010

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Peça O Ensaio - Montagem e atuações precisas para um roteiro cheio de meandros.
= Peça As cochambranças de Quaderna - As peças de Ariano Suassuna, quando montadas com o cuidado que elas exigem, como é o caso, rendem excelente entretenimento inteligente.
= Peça Tango, bolero e cha cha cha - A certeza de muita risada. Edwin Luise está impecável na pele da transexual Lana Lee.
= Peça Amadeus - Texto excelente desperdiçado em cruas atuações.
= Show Amor, festa e devoção - A diva Maria Bethânia em plena forma.
= Filme Um homem sério - Uma espiral de fumaça alimentada pelo humano em nós.

quarta-feira, março 17, 2010

segunda-feira, março 15, 2010

Convite


Cinema Odeon - Cinelândia
Rio de Janeiro
23/03 - 18h

sexta-feira, março 12, 2010

Convite


Cinemathèque
Voluntários da Pátria, 53 - Botafogo - RJ
27/03
19h

segunda-feira, março 08, 2010

Salto para a vida

A vida é um erro, um engano. Pelo menos quando o sujeito não se permite ser queimado pelo incêndio sobre a chuva rala. Ilusão e realidade são categorias que a cada instante perdem qualquer sentido racional. E as relações afetivas, no bojo da circularidade de emoções sem nome, tornam-se mais singulares, únicas e intransferíveis.
O livro “Salto mortal”, de Marion Zimmer Bradley (mais conhecida pelo livro que deu origem ao filme “As brumas de Avalon”), trata do amor entre dois trapezistas de circo. Apaixonados pela arte, Mário Santelli e Tommy Zane constroem uma relação pontuada de momentos que vão da mais delicada ternura à ira (quase) fatal.
Tommy (um adolescente, filho de domadores de leão) é o pupilo de Mário (o artista principal dos Santelli Voadores. O narrador (nas quase 900 páginas prazerosas do livro) acompanha de perto o amadurecimento (muitas vezes forçado) de Tommy e apresenta a relação dos dois com a mesma naturalidade com que o garoto se profissionaliza..
O trabalho de pesquisa desempenhado pela autora é de um rigor digno de muitos elogios. A riqueza de detalhes (sem quebrar a fluência da narrativa) é comovente e funciona para aprimorar a subjetividade das personagens. Marion Z. Bradley (incentivada pela exaustão técnica das personagens) cria o ambiente exato (tenso e luminoso) para que Tommy e Mário vivam. Ambos atravessados pelos acontecimentos históricos dos anos 1940 e início de 1950. Especialmente o moralismo norte-americano de então, que se reflete no perfeccionismo das personagens.
Apesar de o espaço narrativo (os bastidores dos espetáculos circenses) agir contra o amor dos dois, Tommy e Mário (cheios de medo e desejo) se arriscam no salto mortal. Eles percebem que as certezas, quando se trata do humano, minam e escoem a cada instante. O que solicita do sujeito a adaptação insofismável e contínua.
O amor à arte é o mesmo amor à vida e ao parceiro. Não há distinção, mas há a dificuldade (humana) de harmonizar as instâncias amorosas. Tommy e Mário precisam lutar tanto para manter a tradição de artistas exemplares, quanto para manter o amor que os une livre da hostilidade e do padrão moral ao redor.
Respeito aos sentimentos e admiração profissional é a meta das personagens de “The catch trap”, no original. Por fim, o livro de Bradley remete o leitor ao lugar em que a ilusão (um movimento bonito de corpo no ar) e a realidade (as queimaduras nas cordas da rede de proteção) se tocam, imbricam-se e dão sentido à vida humana.

Texto publicado no Jornal A União em 06/03/2010

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Filme Edge of darkness (O fim da escuridão) - Mais um na linha "teoria da conspiração". Mas com boas cenas de suspense.
= Filme An Education (Educação) - Um tema sempre atual, com ótimas atuações. Um ensaio sobre ser e ter.
= Filme Brothers (Entre irmãos) - O cartaz não diz nada sobre este bom filme.
= Show Pimenteira (Pedro Miranda) - Um acontecimento para a história do samba.
= Show Dez cordas do Brasil (Jaime Alem) - Quente como as noites quentes do interior. A participação de Rita Ribeiro é sempre especialíssima.

sábado, março 06, 2010

Convite


Livraria Travessa
Rua Visconde de Pirajá - Ipanema-RJ
15/03
19h30

segunda-feira, março 01, 2010

Cafona ao ponto

O fato de Wilson Simonal aparecer (depois de ter sido posto no limbo musical) ao lado de Waldick Soriano (no documentário Wilson Simonal - Ninguém sabe o duro que dei) é por demais forte simbolicamente.
Independente do que Simonal tenha feito na vida particular, nada justifica a forma tacanha de como sua carreira terminou, depois dele ter revolucionado a canção popular com sua voz e seu modo de cantar. Ele alcançou o ápice do sucesso popular.
Já Waldick Soriano sempre foi tido como um cantor polêmico e cafona, portanto, desde sempre lidou com as críticas elitistas às suas canções e interpretações. Até tornar-se cult e querido dos moderninhos.
No livro Eu não sou cachorro, não: Música popular cafona e ditadura militar, o historiador Paulo César de Araújo tenta argumentar que ser ou não ser cafona é uma questão que passa pelo gosto individual de quem ouve. Seja o crítico, seja um pequeno grupo que não pode responder pelo todo.
Mesmo exagerando em alguns pontos, como quando comete afetadas generalizações, na tentativa de justificar o corpus e a tese, Paulo César levanta a coerente questão: vender muito, lotar casas de shows e ser popular (ter o aceite do povo) significa que a obra do artista não presta? O fato é que, com o nosso costume de pichar quem faz sucesso (muitos artistas se vangloriam de vender pouco), muitas obras, na maioria das vezes, nem são analisadas com o cuidado necessário. Já são lançadas sob estigmas destrutivos.
Ora, Simonal agregou duas atitudes fatais: vendia muito (os shows lotavam) e perdeu o crédito com a esquerda política. Ou seja, passou do cantor, que gravara os hits dos "cheios de bossa" da época, ao cafona (desprestigiado), que cantou para meia dúzia de gatos pingados nas praças públicas. Ao ponto de dividir o espaço de um comercial de supermercado, ao lado de (pasmem!) Waldick Soriano, o hiper cafona.
O caso Simonal prova que a crítica, tristemente, teima em lidar com uma questão de gosto e não com instrumentos isentos de afetos que limitam a análise. Simonal era o moderno, mas "atingiu" a inteligentzia brasileira e caiu no limbo.
O livro de Paulo César de Araújo - "Eu não sou cachorro, não" - deve ser lido (criticamente) naquilo que tem de essencial: a invisibilidade das canções e dos artistas cafonas promovida pela crítica musical e acadêmica.

Texto publicado no Jornal A União em 27/02/2010

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Peça Hamelin - Montagem crua para um texto denso e de tema complexo. Até 25/04 no CCBB-RJ.
= Disco Tantas marés (Edu Lobo) - Delicado e belo.
= Show Badi Assad - Excepcional performance de uma excepcional estrela de nossa canção.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Eterna batucada

O que há em comum entre "Pra você gostar de mim (Taí)", "Elogio da raça", "Alô... Alô?...", "Tic tac do meu coração", "Adeus batucada", "No tabuleiro da baiana", "Camisa listada", "Na baixa do sapateiro", "O que é que a baiana tem?", "Mamãe, eu quero" e "Tico-tico no fubá" é que, além de serem canções (sambas e marchinhas) que fazem parte do imaginário (orgânico) da história da nossa canção popular (e do nosso carnaval), elas são do repertório de Carmen Miranda.
O livro "Carmen", de Ruy Castro é imprescindível. A frase de efeito tenta resumir o assombroso trabalho do biógrafo (são quase 600 páginas) sobre a vida da brasileira mais famosa do século XX. O cuidado com as informações e a construção da personagem marca a obra de Ruy Castro. Apesar de seguir a ordem cronológica dos acontecimentos, aqui e ali o autor faz recuos precisos, ou antecipações luminosas, a fim de instigar o leitor e criar a trama da história a ser narrada.
Ruy Castro narra em linguagem bastante próxima do leitor. Muitas vezes parece estar pensando junto com o leitor, quando, por exemplo, em mais de uma vez, atônito, diante de atitudes que certamente resultarão em algo ruim, ele pergunta: por quê? Autor e leitor ficam sem respostas, pois elas não existem, ou, se existem, escapam à racionalidade de quem está distanciado emocional e temporalmente dos fatos.
Não restam dúvidas de que Carmen, a mulher que fez o Brasil sair da toca, com sua força e presença física, eternizou as canções de seu repertório. E como fomos ingratos com Carmen! Isso enquanto intelligentsia, porque o povo, este nunca se enganou. Ele sabia (e sabe, porque ainda se embalam com suas canções) que Carmen personificava a explosão colorida da alegria de um povo que, apesar da dor, canta e é feliz. Isso não é utopia, basta observar ao redor, para perceber; basta ter os olhos livres, como Carmen, literalmente (com um toque de Dorival Caymmi), tinha; basta sair às ruas.
Perdemos tempo criticando Carmen, enquanto o que ela fazia, carregando nas costas o nome do Brasil, era dar uma resposta sublime ao nosso ato mesquinho. Não sabíamos como defini-la. Ela expunha nossa brejeirice de forma radical. Envergonhamo-nos.
Por mais que saibamos a história de Carmen, e de que modo ela tristemente acaba (ou melhor, se eterniza), é difícil não fechar o livro com a sensação de que tudo poderia ser diferente. Ficam os porquês, mas, sobretudo, as canções que ela batucou.

Texto publicado no Jornal A União em 19/02/2010

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Filme A fita branca - A crueldade se ramifica de forma lenta e certeira durante este filme (de fato) cruel.
= Peça Um navio do espaço ou Ana Cristina César - Ver Paulo José em cena é sempre um deslumbramento.
= Peça A chegada de Lampião no inferno (Cia. PeQuod de Teatro de Animação) - Mais um excelente espetáculo da Cia. Com muitas referências ao mestre Vitalino, o roteiro ganha muito no que se refere à emoção.
= Peça Pernas pro ar - Claudia Raia confirma sua veia para comédia e musical. Ela arrebenta, mesmo com texto e versões musicais fracos.
= Disco Cauby interpreta Roberto (Cauby Peixoto) - A interpretação de Cauby Peixoto dá às canções de Roberto Carlos certa dramaticidade (sem exageros) que toca fundo o coração do ouvinte.
= Exposição Cuide de você (Sofie Calle) - Calle faz do limão (a perda amorosa) uma limonada (embora ácida) fácil de apreciar.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Entrevista para o Saraiva Conteúdo

27 de Janeiro de 2010
Por Ramon Mello

Em tempos de MP3, há quem dispense o shuffle para ouvir música no rádio. Diferente dos moderninhos, o jornalista Leonardo Davino mergulha no universo da Música Popular Brasileira através das ondas do rádio, analisando letra e música.
Brincando com o acaso, ele idealizou o projeto/blog 365 Canções, um espaço “para fazer comentários (breves e leves)” sobre a primeira canção que ouvir no dia. Sintonizado na MPB FM (90,3), Davino faz a contagem regressiva de 2010 ao som de poetas da canção como Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil.
No blog, cada post está relacionado à letra de uma música e, às vezes, a um vídeo com a interpretação do cantor. Pode ser um trecho do histórico show do Secos e Molhados nos anos 70. Ou, um clipe do Lenine. Tudo depende do acaso.
Paraibano radicado no Rio de Janeiro (ou “parioca”, como gosta de dizer), Leonardo Davino é Mestre Literatura Brasileira com Pesquisa sobre Canção e Teoria da Literatura. E, ainda, possui uma pesquisa sobre a obra de Caetano Veloso. 365 Canções, sem dúvidas, pode se tornar um belo livro. Ouça:

Você ouve rádio diariamente?

Leonardo Davino - Sim, tanto para ouvir as "novidades", quanto para perceber como algumas canções permanecem enquanto outras somem. Seja pelo celular, no aparelho de som de casa, ou no micro (na maioria das vezes), quando não tenho um disco específico para curtir, ligo o rádio e me deixo à sorte.

Como surgiu a idéia do projeto 365 Canções? É uma referência ao livro 31 Canções, de Nick Hornby?

Davino - Não há nenhuma referência ao livro de Nick Hornby. No caso dele, ao que me parece, há uma questão de gosto, na escolha das canções. No caso do meu projeto 365 canções o que acontece é a total aleatoriedade. Mas é engraçado você citar o Hornby, pois comecei a ler Frenesi polissibálico, outros textos me desviaram dele, e não consegui terminar.
Um leitor do projeto perguntou se haveria (também) alguma referência ao filme Julia & Julie. Respondi que não pois, mesmo tendo o conhecimento das questões do filme, eu ainda não o havia assistido na época de montar o projeto.
De fato, o desejo surgiu exatamente da vontade de me testar diante da surpresa das canções que surgirem. Sair da zona de conforto na qual, muitas vezes, nos colocamos e refletir sobre peças que, talvez, pela questão do gosto, eu não fosse parar para pensar.

Como as tecnologias interferem no mercado musical? É uma vantagem para o público ou o artista?

Davino - Hoje não se precisa mais comprar um disco para curtir uma canção, a não ser os colecionadores e os fãs. Basta comprar apenas a música de desejo e pronto: cada um monta sua trilha sonora particular. Paralelo a isso, sem dúvidas, a relação entre o público e o artista ficou muito mais fácil, no sentido de mais próxima e acessível. As possibilidades são enormes. Assim como as possibilidades de feitura e de divulgação de um trabalho.
E, acredito, em um futuro próximo, a renda do artista virá das apresentações e dos produtos paralelos ao disco propriamente dito. Porém, não saberia precisar o nível de vantagem ou desvantagem para cada parte envolvida, apesar de pensar que o público tem certos ganhos. Sei que há mudanças e as gravadoras estão se mobilizando.

Por que pesquisar a Música Popular Brasileira?

Davino - Pela riqueza absurda dos nossos cancionistas. Há um manancial incomensurável para ser estudado. Além disso, desde a graduação em Letras na UFPB, quando fiz parte de um Projeto de Pesquisa chamado O neobarroco em Caetano Veloso, orientado pelo competente professor Dr. Amador Ribeiro Neto, descobri que meu objeto seria a canção.
Importa dizer ainda que sou do interior da Paraíba, cresci ouvindo os desafios dos repentistas no rádio da minha avó paterna. Sempre fui curioso para entender o malabarismo do texto com a melodia. Mais tarde entrei na faculdade e tive o privilégio de fazer parte dessa pesquisa.

Você é mestre em Literatura Brasileira, com pesquisa sobre Canção e Teoria da Literatura. Sua especialização é em Caetano Veloso? Por quê?

Davino - Sim, pesquiso a obra de Caetano Veloso desde a graduação. A obra de Caetano, com seu projeto tropicalista e por apresentar ao ouvinte-leitor personagens e temas híbridos e abertos às leituras diversas, me oferece a possibilidade de manter o "olho livre", como sugeria Oswald de Andrade. Dito de um modo geral: encontro na obra de Caetano referências de vanguarda e "cafona", o que é um forte estimulante para mim, enquanto pesquisador, pois não me deixa cair em preconceitos e/ou academicismos.

Você acredita nas profecias sobre o fim da canção?

Davino - Acredito, como falei, nas mudanças no modo de feitura e de acesso à canção. Aliás, acredito tanto nisso que pesquiso canção e meu projeto de doutorado tematiza exatamente a produção de canção na era da mobilidade. Penso junto com o semioticista Luiz Tatit, ou seja, enquanto existir gente falando, haverá canção. Obviamente, os temas e as estruturas mudam junto com o tempo que passa, mas a canção não morre.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Sessão de autógrafos


Travessa 1
Travessa do Ouvidor, 17
25/02
17h30

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Aqueles quatro

Caio Fernando Abreu é um autor bastante conhecido. Infelizmente, alguns de seus textos ganharam sofríveis adaptações para cinema e teatro. Salvos a memorável “Dama da noite”, criada por Gilberto Gawronski e a peça “Aqueles dois”, da Cia. Luna Lunera.
“Aqueles dois”, do livro Morangos mofados, é um conto excepcionalmente machadiano, com estruturas, ironias e insinuações trabalhadas para deixar nas mãos do leitor a tarefa de fechar a questão. O texto trata da relação entre Raul (moço do norte que tem um sabiá chamado Carlos Gardel) e Saul (moço do sul, com seu livro de reproduções de Van Gogh), tendo como pano de fundo São Paulo e uma repartição pública: “um deserto de almas”.
Mas, como em Machado de Assis, neste conto de Caio Fernando, o mais desafiador estar em perceber as sutilezas formais do texto do que em responder a débil pergunta se Raul e Saul são mais do que amigos. Afinal, quais são os limites da amizade?
Os principais êxitos da adaptação são: o entendimento do universo criado pelo autor e a interpretação consciente dos quatro atores em cena: Cláudio Dias, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves e Rômulo Braga. Os quatros assinam a direção e a dramaturgia, junto com Zé Walter Albinati. O resultado é um trabalho honesto e competente. Os atores se revezam na interpretação das duas personagens (nenhum dos quatro sai de cena), estabelecendo uma leitura e apresentação plural das ações, dinamizando as situações e embaralhando a percepção do público, como o texto faz com o leitor.
O cenário merece atenção e destaque. Tendo como base um tatame cercado por inúmeros objetos, que são manipulados ora para montar o ambiente doméstico de cada personagem, ora para impor o desértico espaço da repartição, ele nunca fica vazio. Há sempre resíduos de um lugar interferindo no outro, sugerindo a luta psíquica e física enfrentada por Raul e Saul. Os figurinos são funcionais e a trilha sonora é exata.
Em um trabalho cercado de tantos cuidados, mas, ao mesmo tempo, tão despojado em sua totalidade e capacidade de transmitir a história (com o aspecto de um grande ensaio aberto), não dá para deixar de elogiar, mais uma vez, a competência dos atores-diretores. O conto de Caio Fernando Abreu é demasiado humano (com avanços e recuos). A peça capta e entrega ao público o humano contido no texto, mas, e aí reside a beleza das boas montagens, a peça “Aqueles dois” amplia a engenhosidade do texto.

Texto publicado no Jornal A União em 30/01/2010
E no site da Secretária de Cultura do Rio:
http://www.cultura.rj.gov.br/artigos/aqueles-quatro

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Filme Sherlock Homes - Humor e ação a serviço de um personagem clássico.
= Filme Amor sem escalas - Atual e com roteiro bacana.
= Filme Chèri - A cenografia, o trabalho de arte e o figurino são incríveis.
= Show Todos Dominguinhos (Flávia Bittencout) - Uma bela homenagem ao mestre.
= Dança Boca do lobo (Cia. Renato Vieira) - Renato Vieira e Bruno Cezário assumem o risco de, através do brilho apolíneo, revelarem a pulsão dionisíaca de todos nós.
= Peça Macbeth - Ver Renata Sorrah em texto clássico é sempre um deslumbre.
= Peça Carmen, o it do Brasil - Honesta tentativa de homenagear nossa grande estrela.
= Exposição José Patrício: o número - Excelente trabalho visual. Até 07/03, na Caixa Cultural.
= Livro Cabeça a prêmio (Marçal Aquino) - A melhor narrativa policial(!) que já li. Forma e conteúdo em perfeito equilíbrio.