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segunda-feira, março 01, 2010

Cafona ao ponto

O fato de Wilson Simonal aparecer (depois de ter sido posto no limbo musical) ao lado de Waldick Soriano (no documentário Wilson Simonal - Ninguém sabe o duro que dei) é por demais forte simbolicamente.
Independente do que Simonal tenha feito na vida particular, nada justifica a forma tacanha de como sua carreira terminou, depois dele ter revolucionado a canção popular com sua voz e seu modo de cantar. Ele alcançou o ápice do sucesso popular.
Já Waldick Soriano sempre foi tido como um cantor polêmico e cafona, portanto, desde sempre lidou com as críticas elitistas às suas canções e interpretações. Até tornar-se cult e querido dos moderninhos.
No livro Eu não sou cachorro, não: Música popular cafona e ditadura militar, o historiador Paulo César de Araújo tenta argumentar que ser ou não ser cafona é uma questão que passa pelo gosto individual de quem ouve. Seja o crítico, seja um pequeno grupo que não pode responder pelo todo.
Mesmo exagerando em alguns pontos, como quando comete afetadas generalizações, na tentativa de justificar o corpus e a tese, Paulo César levanta a coerente questão: vender muito, lotar casas de shows e ser popular (ter o aceite do povo) significa que a obra do artista não presta? O fato é que, com o nosso costume de pichar quem faz sucesso (muitos artistas se vangloriam de vender pouco), muitas obras, na maioria das vezes, nem são analisadas com o cuidado necessário. Já são lançadas sob estigmas destrutivos.
Ora, Simonal agregou duas atitudes fatais: vendia muito (os shows lotavam) e perdeu o crédito com a esquerda política. Ou seja, passou do cantor, que gravara os hits dos "cheios de bossa" da época, ao cafona (desprestigiado), que cantou para meia dúzia de gatos pingados nas praças públicas. Ao ponto de dividir o espaço de um comercial de supermercado, ao lado de (pasmem!) Waldick Soriano, o hiper cafona.
O caso Simonal prova que a crítica, tristemente, teima em lidar com uma questão de gosto e não com instrumentos isentos de afetos que limitam a análise. Simonal era o moderno, mas "atingiu" a inteligentzia brasileira e caiu no limbo.
O livro de Paulo César de Araújo - "Eu não sou cachorro, não" - deve ser lido (criticamente) naquilo que tem de essencial: a invisibilidade das canções e dos artistas cafonas promovida pela crítica musical e acadêmica.

Texto publicado no Jornal A União em 27/02/2010

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Peça Hamelin - Montagem crua para um texto denso e de tema complexo. Até 25/04 no CCBB-RJ.
= Disco Tantas marés (Edu Lobo) - Delicado e belo.
= Show Badi Assad - Excepcional performance de uma excepcional estrela de nossa canção.

2 comentários:

Elam disse...

Me pergunto quantas pessoas tera interesse por esse livro.
alem de defesa dos cafonas( do ponto de vista individual) sera q el vai ensinar e nos tornar um, indicando musicas etc?rs

Anônimo disse...

parabens pelo blog...
Na musica country VIRGINIA DE MAURO a LULLY de BETO CARRERO vem fazendo o maior sucesso com seu CD MUNDO ENCANTADO em homenagem ao Parque Temático em PENHA/SC. Asssistam no YOUTUBE sessão TRAPINHASTUBE, musicas como: CAVALEIRO DA VITÓRIA, MEU PADRINHO BETO CARRERO, ENTRE OUTRAS...
é o sonho eterno de BETO CARRERO e a mão de DEUS.