A vida é um erro, um engano. Pelo menos quando o sujeito não se permite ser queimado pelo incêndio sobre a chuva rala. Ilusão e realidade são categorias que a cada instante perdem qualquer sentido racional. E as relações afetivas, no bojo da circularidade de emoções sem nome, tornam-se mais singulares, únicas e intransferíveis.
O livro “Salto mortal”, de Marion Zimmer Bradley (mais conhecida pelo livro que deu origem ao filme “As brumas de Avalon”), trata do amor entre dois trapezistas de circo. Apaixonados pela arte, Mário Santelli e Tommy Zane constroem uma relação pontuada de momentos que vão da mais delicada ternura à ira (quase) fatal.
Tommy (um adolescente, filho de domadores de leão) é o pupilo de Mário (o artista principal dos Santelli Voadores. O narrador (nas quase 900 páginas prazerosas do livro) acompanha de perto o amadurecimento (muitas vezes forçado) de Tommy e apresenta a relação dos dois com a mesma naturalidade com que o garoto se profissionaliza..
O trabalho de pesquisa desempenhado pela autora é de um rigor digno de muitos elogios. A riqueza de detalhes (sem quebrar a fluência da narrativa) é comovente e funciona para aprimorar a subjetividade das personagens. Marion Z. Bradley (incentivada pela exaustão técnica das personagens) cria o ambiente exato (tenso e luminoso) para que Tommy e Mário vivam. Ambos atravessados pelos acontecimentos históricos dos anos 1940 e início de 1950. Especialmente o moralismo norte-americano de então, que se reflete no perfeccionismo das personagens.
Apesar de o espaço narrativo (os bastidores dos espetáculos circenses) agir contra o amor dos dois, Tommy e Mário (cheios de medo e desejo) se arriscam no salto mortal. Eles percebem que as certezas, quando se trata do humano, minam e escoem a cada instante. O que solicita do sujeito a adaptação insofismável e contínua.
O amor à arte é o mesmo amor à vida e ao parceiro. Não há distinção, mas há a dificuldade (humana) de harmonizar as instâncias amorosas. Tommy e Mário precisam lutar tanto para manter a tradição de artistas exemplares, quanto para manter o amor que os une livre da hostilidade e do padrão moral ao redor.
Respeito aos sentimentos e admiração profissional é a meta das personagens de “The catch trap”, no original. Por fim, o livro de Bradley remete o leitor ao lugar em que a ilusão (um movimento bonito de corpo no ar) e a realidade (as queimaduras nas cordas da rede de proteção) se tocam, imbricam-se e dão sentido à vida humana.
Texto publicado no Jornal A União em 06/03/2010
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Filme Edge of darkness (O fim da escuridão) - Mais um na linha "teoria da conspiração". Mas com boas cenas de suspense.
= Filme An Education (Educação) - Um tema sempre atual, com ótimas atuações. Um ensaio sobre ser e ter.
= Filme Brothers (Entre irmãos) - O cartaz não diz nada sobre este bom filme.
= Show Pimenteira (Pedro Miranda) - Um acontecimento para a história do samba.
= Show Dez cordas do Brasil (Jaime Alem) - Quente como as noites quentes do interior. A participação de Rita Ribeiro é sempre especialíssima.
Tommy (um adolescente, filho de domadores de leão) é o pupilo de Mário (o artista principal dos Santelli Voadores. O narrador (nas quase 900 páginas prazerosas do livro) acompanha de perto o amadurecimento (muitas vezes forçado) de Tommy e apresenta a relação dos dois com a mesma naturalidade com que o garoto se profissionaliza..
O trabalho de pesquisa desempenhado pela autora é de um rigor digno de muitos elogios. A riqueza de detalhes (sem quebrar a fluência da narrativa) é comovente e funciona para aprimorar a subjetividade das personagens. Marion Z. Bradley (incentivada pela exaustão técnica das personagens) cria o ambiente exato (tenso e luminoso) para que Tommy e Mário vivam. Ambos atravessados pelos acontecimentos históricos dos anos 1940 e início de 1950. Especialmente o moralismo norte-americano de então, que se reflete no perfeccionismo das personagens.
Apesar de o espaço narrativo (os bastidores dos espetáculos circenses) agir contra o amor dos dois, Tommy e Mário (cheios de medo e desejo) se arriscam no salto mortal. Eles percebem que as certezas, quando se trata do humano, minam e escoem a cada instante. O que solicita do sujeito a adaptação insofismável e contínua.
O amor à arte é o mesmo amor à vida e ao parceiro. Não há distinção, mas há a dificuldade (humana) de harmonizar as instâncias amorosas. Tommy e Mário precisam lutar tanto para manter a tradição de artistas exemplares, quanto para manter o amor que os une livre da hostilidade e do padrão moral ao redor.
Respeito aos sentimentos e admiração profissional é a meta das personagens de “The catch trap”, no original. Por fim, o livro de Bradley remete o leitor ao lugar em que a ilusão (um movimento bonito de corpo no ar) e a realidade (as queimaduras nas cordas da rede de proteção) se tocam, imbricam-se e dão sentido à vida humana.
Texto publicado no Jornal A União em 06/03/2010
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Filme Edge of darkness (O fim da escuridão) - Mais um na linha "teoria da conspiração". Mas com boas cenas de suspense.
= Filme An Education (Educação) - Um tema sempre atual, com ótimas atuações. Um ensaio sobre ser e ter.
= Filme Brothers (Entre irmãos) - O cartaz não diz nada sobre este bom filme.
= Show Pimenteira (Pedro Miranda) - Um acontecimento para a história do samba.
= Show Dez cordas do Brasil (Jaime Alem) - Quente como as noites quentes do interior. A participação de Rita Ribeiro é sempre especialíssima.
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