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domingo, novembro 20, 2011

Les amours imaginaires

"Gosto de gente" tem sido a resposta muderna dada com frequência por algumas pessoas quando são questionadas quanto às suas predileções sexo-afetivas.
Se por um lado podemos interpretar tal atitude como um sintoma contemporâneo de negar consciente e radicalmente os rótulos limitadores quando o assunto é a múltipla possibilidade do desejo, por outro lado isso alerta a nossa própria incompetência ao lidar com o desejo, com a libido.
Quando vale muito mais ser "seguido" e "curtido" por 1000 pessoas do que ter contato íntimo com 1, é preciso repensar as qualidades das relações.
O fato é que, ao que tudo indica, não temos sabido lidar com a virtualidade do sexo, do amor em tempos de reality shows (shows da realidade).
Frágeis e descartáveis - eles não sobrevivem à primeira divergência, afinal, haverá mais presumíveis e bacanas 999 pessoas para suprir nossas carências -, os amores líquidos intensificam a manutenção da nossa infância emocional.
E o mundo tem conspirado para que sintamo-nos mimados o tempo todo: a dor está fora do jogo. Assim como a incompatibilidade de gênios.
Todas estas questões e tantas outras são tematizadas com estética visual superiormente interessante a qualquer descrição que eu possa fazer aqui no filme Les amours imaginaires, de Xavier Dolan.
Como não poderia deixar de ser, destaco a escolha de "Bang bang", cantada com a singularidade da voz da Dalida, tanto como moldura de cenas decisivas, quanto como a síntese das personalidades frágeis, inseguras, carentes e infantis - por trás das máscaras de segurança - de Marie (Monia Chokri) e de Francis (o próprio Xavier Dolan) em relação às emoções que eles direcionam para o indiferente (anestesiado emocionalmente) Nicolas (Niels Schneider).
"Bang Bang / e resto cui / Bang Bang / a piangere / Bang Bang / hai vinto tu / Bang Bang / il cuore non l'ho più", diz o sujeito da canção.
Marie e Francis são o duplo, o espelho e a prisma deles mesmos e das disputas por atenção, brilho e forjada lucidez do indivíduo contemporâneo.

2 comentários:

Bruno Lima disse...

Gostei do que você escreveu. Acrescentaria que, em tempos de seguidores e de dificuldades em se relacionar sexo-afetivamente com "apenas" um parceiro (a), mais difícil é estar sozinho, por opção e em paz com isso.

Lou Porto disse...

Leo, estava com saudade das tuas críticas de cinema. Elas sempre me deixam com sede de assistir aos filmes sobre os quais você escreve. Pena que por essas bandas vai ser difícil conseguir vê-lo. Belo texto!! Saudades. Bjs.