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sexta-feira, novembro 25, 2011

Judy Garland - o fim do arco-íris

O musical Judy Garland - o fim do arco-íris trata do processo de apagamento de uma estrela. Uma estrela que já em O Mágico de Oz (aos 17 anos) dependia de "remedinhos" para dormir, acordar, cantar. Uma estrela que quer para além do possível brilhar até o último instante. E brilha.
"Não há nada pior do que você saber que pode fazer (encontrar a nota certa) e não conseguir", reconhece.
Talvez para justificar o título, dado pelo autor do texto Peter Quilter, a conhecida canção de O Mágico de Oz atravessa a peça como um fantasma a perturbar Judy e plateia.
Mas nem só de "Over the rainbow" vive a estrela. E são nos momentos de palco que o brilho de Judy se intensifica: seja no excesso de tesão, de alongamentos vocálicos e vibratos, seja na força de sua presença física luminosa e ácida, Judy transmuta-se em um assum-preto-star.
O cenário tem a função exata de sugerir a relação íntima entre o público e o privado - no lugar onde cada um é afetado pelo outro - nas ações da personagem diante da vida, da dependência de drogas, da arte.
O piano é o elo entre os dois ambientes (o palco e o quarto de hotel) tão comuns quanto estranhos à estrela ora lúcida, ora confusa orgânica e mentalmente. Cambiante dos humores, sendo "a volta por cima" de sempre.
E é neste trânsito que surge o trabalho cênico impactante de Claudia Netto no papel título. Caricata e realista, corrosiva e frágil, engraçada e mordaz, trêmula e segura, encurvada e ereta, tudo junto e ao mesmo tempo, Claudia permite à plateia a recepção de toda a potência da tempestade solar que Judy era. Ou ainda é, para alguns.
Aliás, outro mérito de Judy Garland - o fim do arco-íris é abordar a relação íntima entre a construção e manutenção de uma diva (o mito e a lenda) e a cultura camp. Basta recolher os significantes Garland absorvidos na montagem de uma figura como Nany People, por exemplo.
Não fica dúvida à importância que cada parte exerce na outra: "Eu poderia vomitar no colo de uma bicha que isso seria uma honra para ela", diz Judy. "Nós bichas enchemos o teatro para vê-la", diz Antony (Gracindo Júnior), seu pianista e fiel escudeiro contra entidades como Mickey Deans (Igor Rickli), noivo de Judy, por exemplo.
Elogiar Charles Möeller e Claudio Botelho já virou clichê. Porém, diante de tantas lascas de mediocridade em arte espalhadas por aí, reafirmar o cuidado e a paixão que os dois imprimem em tudo que fazem nunca é bastante.
Judy Garland - o fim do arco-íris não é biografia, mas uma pintura íntima daquilo que foram os últimos tempos da estrela, sua última temporada, seus derradeiros dias. Cores, luzes e sons a serviço da permanência da lenda-viva.

Um comentário:

Wil Cabral disse...

Cheguei ao seu blog procurando informações sobre a canção do filme A pele que habito, conforme comentário que deixei lá embaixo, e adorei tudo o que vi aqui. Também fui dar uma olhada nos seus blogs sobre canções e fiquei de queixo caído! Adoraria conseguir escrever sobre música com tanta frequência, se meu trabalho me permitisse, mas tenho um blog só sobre música com cujo título acho que você vai se identificar (Music is my air) que atualizo só muito de vez em quando, mas pelo qual tenho muito carinho, e nele falo de Dalida, a qual vi que você menciona aqui embaixo, ao falar do filme Amores Imaginários (infelizmente ainda não passou na minha cidade). O post sobre Dalida está aqui: http://musicismyair.zip.net/arch2010-01-01_2010-01-31.html#2010_01-23_00_29_40-140870242-0
Já deixei lá inclusive links para os seus três blogs. Só espero conseguir acompanhá-lo, você escreve demais (tanto em quantidade quanto em qualidade!). Um grande abraço!