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segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Cisne negro

Apoiado em uma trama forte e rica de possibilidades, Cisne negro não consegue o mergulho que insinua. O filme tem um roteiro que abre várias perspectivas. Porém, nenhuma delas se complexifica de fato, nem tem funcionalidade dentro do todo fílmico.
Nas cenas de balé, por exemplo, os closes busto-e-rosto tentam esfumaçar do despreparo corporal (para a dança) de Natalie Portman: como personagem principal, suas cenas de dança simplesmente não existem - falta a presença do corpo, dos pés - e cansam o espectador que espera alguma grande cena de dança.
Aliás, a atriz não consegue imprimir força ao jogo "real versus imaginação" e as tênues mudanças de personalidade - provocadas por interessante histórico de perfeccionismo dado ao público em flashs - que a personagem Nina exige, ficando a cargo dos maquiadores, diretor de fotografia, movimentos de câmera e trilha sonora oferecer alguma carga dramática.
O roteiro é bom, segue a rotineira progressão das experiências. Mas a ferrugem psicológica que corrói a personagem por dentro é dada gratuitamente, sem esforço real.
Não restam dúvidas de que Cisne negro é um filme feito para concorrer a prêmios - as cenas forçosamente apoteóticas provam isso -, porém, não resiste a uma análise mais detalhada de suas partes.

6 comentários:

Lou Porto disse...

Leo, tive uma impressão bem parecida com a tua. Achei "Cisne Negro" um filme feito para ganhar prêmio, embora tenha muita coisa boa. Criei uma expectativa grande e saí da sala de cinema frustrada.
Parabéns pelo texto!! Bjs.

Tiago Germano disse...

O comentário que eu postaria aqui: http://bit.ly/dD7Pud

Café Solilóquio disse...

Leo: Acho curioso como as pessoas tem olhares completamente diferentes sobre a mesma obra. É claro que, dependendo das referências de cada um, criamos uma obra única...a nossa obra. A sua lembra um pouco o que XeXéo disse -no conteúdo e nao na forma, afinal, ele escreve muito mal , usando um artíficio medíocre de ser sarcástico quando nao gosta de algo e é contestado.
O Arnaldo Bloch - também do Globo - escreveu no sábado sobre o filme e de quebra deu uma espetadinha nele. Achei ótimo. Aliás , a opinião dele é muito semelhante com a minha.
Não vou comentar sobre o filme contigo , afinal foram tantos os pontos discordantes que teria que escrever um texto! rsrs
Críticas à parte, eu gostei mesmo é de ter lido o que escreveu, afinal nada como um bom texto nesse universo digital recheado de baboseiras.

OBS: Adorei o termo "Ferrugem Psicológica" : Nada como uma boa metáfora para ratificar uma idéia.

Fabiana Farias disse...

Eu já fui assistir bem empolgada por algumas coisas que li e principalmente por ser um filme do mesmo diretor de The Wrestler que está no meu top ten.
Mas minhas expectativas foram muitas.
Mesmo assim, gostei do filme. Acho que Natalie foi perfeita como a protagonista.
E achei que teve muito corpo, talvez não dançando, mas se deteriorando como sua mente.
Mas concordo com o que você disse: muita coisa no filme só se anuncia e não se complexifica suficiente.
Umas promessas vazias de um filme melhor.

Anônimo disse...

As cenas de dança da Portman foi feito por uma bailarina profissional que após o Oscar disse que fez 90% das cenas.

O que você conceitua como ferrugem psicológica é, justamente, uma idéia do roteiro, a falta de identidade.

Ainda que não tenha percebido um dos pilares da narritiva. O conceito entre arte perfeita e seres humanos aquebrantados.

Leonardo Davino disse...

Sim, todos sabemos que a Portman não teria competência (talvez nem precisasse ter) para fazer as cenas de dança...

O roteiro não consegue resolver o que ele mesmo propõe, eis a questão que levanto.

O pilar da narrativa é a subjetividade múltipla (ou em dobradiça) da personagem principal, mas aí também o roteiro se perde numa espetacularização estéreo do "humano aquebrantado".

O filme é um grande mote, mas fracassado nos volteios...