O monólogo já foi visto por 100 mil espectadores e continua a encher o Teatro dos Quatro, na Gávea. Daí minha curiosidade, atiçada ainda pelo fato da crítica comentar sempre muito bem. A temática é o grande trunfo, pois causa identificação imediata com o espectador. Difícil não relembrar ao menos uma passagem da relação com nossas mães. Por exemplo: em uma determinada hora, ela diz: "Esse menino não sabe o que é um copo de água desde os 12 anos, só quer saber de Coca-Cola!", ou ainda “Essa menina abre a geladeira pra pensar o que vai pegar”. Situações assim levam o público às gargalhadas.
Vale muito a pena conferir e rir de si mesmo.
A segunda foi Farsa. Um espetáculo que reúne 4 textos curtos de 4 grandes autores: Os Faladores, de Cervantes – em torno da volúpia verbal de dois tagarelas incorrigíveis; O Urso, de Tchekhov – sobre as desavenças e o enlace entre um rude fazendeiro e uma suspirosa viúva; O Médico Saltador, de Molière – que fala das impagáveis peripécias de um criado para promover a união do patrão com a sua amada e Os Ciúmes de um Pedestre, de Martins Pena - conta as artimanhas de um fogoso vizinho e de um jovem enamorado para ludibriar o terrível capitão-do-mato que, para seguir tranqüilo em suas andanças atrás de escravos fugidos, mantém sempre trancafiadas a mulher e a filha.
Cada história requer uma atmosfera e é absolutamente bem apresentada. O conjunto dos textos resulta em uma comédia deliciosa encenada pela excelente Bianca Byington, Cláudia Ohana, Luciana Braga, Mário Borges, Sérgio Marone e o sensacional Marcos Breda. Impossível não destacar o excelente trabalho vocal e corporal de Breda e Borges, ambos impecáveis.
Com o objetivo de entreter e provocar risos, a farsa busca humor basicamente em atividades físicas, ritmo acelerado, violência e efeitos visuais. Neste item destaca-se o figurino criado por Coca Serpa, em contraste às cores discretas do cenário de Hélio Eichbauer, que lembra antigas gravuras.
O espetáculo em cartaz no Teatro SESC Ginástico, com direção de Luiz Arthur Nunes, tem dinâmica harmoniosa com os textos, com marcas impensáveis e soluções muito engraçadas. Um espetáculo grandioso e arrebatador em tudo.
E a terceira foi o monólogo estrelado por Zezé Polessa, Não sou Feliz, Mas tenho Marido. Aliás, o que esperar de um espetáculo que tem cenário de Gringo Cardia, direção de movimento de Débora Colker, figurino de Alexandre Herchcovitch, iluminação de Maneco Quinderé e direção de Victor Garcia Peralta? Que seja, no mínimo, perfeito. E é!
Zezé Polessa está impecável nesta adaptação do livro homônimo da jornalista argentina Viviana Gómez Thorpe. A atriz demonstra concentração e maturidade tais que quem vê a naturalidade da representação, não imagina o trabalho para conseguir o perfeito clima de intimidade apresentado.
Viviana (Zezé), uma mulher casada há 27 anos, está lançando seu livro Não sou feliz, mas tenho marido, e em entrevista confessa: “sou romântica”, o que dá o tom da encenação. O romantismo faz com que a personagem não perca nunca a fé no casamento, mesmo passando por todas as confusões e frustrações - sempre vistas pela ótica do humor - de qualquer relação. O texto chama atenção pela forma bem-humorada de tematizar o delicado equilíbrio entre a comunhão com o outro e a preservação da individualidade. Imperdível!
Semana que vem comento as outras peças que já comprei ingresso. Aliás, quem estiver no Rio, corra e compre também. É a oportunidade de por seu teatro em dia.
RODAPÉ
Vinheta: http://br.youtube.com/watch?v=eWVACsvp5qE
Programação: http://www.mixbrasil.org.br/
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