“Devemos conservar no centro do nosso mundo o lugar das nossas incertezas, o lugar da nossa fragilidade, das nossas dificuldades em dizer e ouvir” Jean-Luc Lagarce
A peça “Apenas o Fim do Mundo” em cartaz na CAIXA Cultural do Rio de Janeiro é muito mais do que o depoimento de um filho que volta ao lar, depois de anos afastado, para contar de sua doença incurável e da morte próxima. Encenada pela Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba, e dirigida por Marcio Abreu, ela traz uma aguda e pontual reflexão sobre a capacidade de identificar o que realmente é importante na vida.
Assistimos ao confronto do protagonista Luiz com a família, entrecortado por flashes em que o personagem vai resgatando na memória todas as fases da descoberta da doença. Diante das reações que sua presença impõe nos parentes, Luiz encerra sua visita sem ter conseguido dizer nada, tamanha é a dimensão das aproximações e afastamentos nas relações e revelações que se desenrolam. O fracasso de sua intenção evoca o fracasso nosso de cada dia, mas escancara portas, o que talvez seja mais importante, para vitórias cotidianas impensadas.
Temas como ausência, morte, amor, desamor, medo, ressentimento que permitiriam, em mãos erradas, resultar sobrecarregados de tintas escuras, ao contrário, mesmo emocionando bastante, são apresentados com uma leveza bastante delicada. Há a lágrima e o riso. A emoção é atingida exatamente pela maturidade fluida da magnífica interpretação dos atores. Sem dúvidas, resultado de um exaustivo trabalho de pesquisa sobre o texto.
Aliás, o texto do francês Jean-Luc Lagarce foi o que mais me encantou. Cada frase, palavra e sílaba parecem ter sido (re)pensadas a mais não poder para se encaixarem na hora certa, no lugar certo e na emoção certa de cada atuação. A dicção primorosa dos atores, em especial de Rodrigo Ferrarini e Rodrigo Bolzan, permite que a platéia absorva todas as filigranas do refinado texto.
Quando do lançamento da peça, em Paris, falou-se muito de uma obra autobiográfica o que foi rejeitado depois pelos críticos, mas há sim um paralelo com a vida do próprio Lagarce. Ele escreveu a peça logo após descobrir que tinha AIDS. Autor de poucos textos, ele que ainda foi ator, diretor e editor é hoje - pouco mais de 10 anos após sua morte, em 1995 - um dos autores contemporâneos mais montado na França.
Sem dúvida, a escrita de Lagarce é delicada, sofrida e dolorosa, mas fala dos conflitos permanentes com a alteridade e da dor do não-dito. Transforma assuntos localizados em incômodos universais com maestria, como convém a um bom escritor. A impressão que tenho é a de que esta peça poderia ser encenada em qualquer lugar que conseguiria atingir objetivos semelhantes.
Ainda estão no elenco Christiane de Macedo, Giovana Soar, responsável pela tradução do texto, Lori Santos e Simone Spoladore. O espaço cênico elaborado por Marcio Abreu e Nadja Naira é minimalista, “apenas” a sala de visitas da casa, com os móveis se movimentando pela manipulação dos próprios atores, tencionando o desconforto da presença do “visitante”, voltando a nossa atenção principalmente para os atores e a palavra, ou a busca exata dela. É a comunicação entre os personagens, ou a sua falta, o que importa.
Reafirmo: a encenação é exemplar. Os atores sorveram tudo o que podiam a respeito de Jean-Luc Lagarce (foto ao lado), autor que merecerá minha melhor atenção. As atuações parecem empenhadas em captar a sinceridade e sofisticada simplicidade do texto, provocando na alma o desejo de ser um ser melhor e de entender “o lugar da nossa fragilidade” individual e das “nossas dificuldades em dizer e ouvir”. Um lindo espetáculo!
Aliás, o texto do francês Jean-Luc Lagarce foi o que mais me encantou. Cada frase, palavra e sílaba parecem ter sido (re)pensadas a mais não poder para se encaixarem na hora certa, no lugar certo e na emoção certa de cada atuação. A dicção primorosa dos atores, em especial de Rodrigo Ferrarini e Rodrigo Bolzan, permite que a platéia absorva todas as filigranas do refinado texto.
Quando do lançamento da peça, em Paris, falou-se muito de uma obra autobiográfica o que foi rejeitado depois pelos críticos, mas há sim um paralelo com a vida do próprio Lagarce. Ele escreveu a peça logo após descobrir que tinha AIDS. Autor de poucos textos, ele que ainda foi ator, diretor e editor é hoje - pouco mais de 10 anos após sua morte, em 1995 - um dos autores contemporâneos mais montado na França.
Sem dúvida, a escrita de Lagarce é delicada, sofrida e dolorosa, mas fala dos conflitos permanentes com a alteridade e da dor do não-dito. Transforma assuntos localizados em incômodos universais com maestria, como convém a um bom escritor. A impressão que tenho é a de que esta peça poderia ser encenada em qualquer lugar que conseguiria atingir objetivos semelhantes.
Ainda estão no elenco Christiane de Macedo, Giovana Soar, responsável pela tradução do texto, Lori Santos e Simone Spoladore. O espaço cênico elaborado por Marcio Abreu e Nadja Naira é minimalista, “apenas” a sala de visitas da casa, com os móveis se movimentando pela manipulação dos próprios atores, tencionando o desconforto da presença do “visitante”, voltando a nossa atenção principalmente para os atores e a palavra, ou a busca exata dela. É a comunicação entre os personagens, ou a sua falta, o que importa.
Reafirmo: a encenação é exemplar. Os atores sorveram tudo o que podiam a respeito de Jean-Luc Lagarce (foto ao lado), autor que merecerá minha melhor atenção. As atuações parecem empenhadas em captar a sinceridade e sofisticada simplicidade do texto, provocando na alma o desejo de ser um ser melhor e de entender “o lugar da nossa fragilidade” individual e das “nossas dificuldades em dizer e ouvir”. Um lindo espetáculo!
Está em cartaz no Rio um filme que evoca o caráter de divertimento puro que certo tipo de cinema nos traz. Planet Terror, de Robert Rodriguez (Sin City, Balada do Pistoleiro, etc) foi lançado no último Festival do Rio e é quase um trash-movie. Mas não se engane: é um mix, muito bem humorado, de inúmeras referências dos filmes dos anos 70. Com direito até um falso trailler de um filme fictício chamado Machete. Planet Terror foi exibido nos USA em programa duplo com Death Proof, de Quentin Tarantino, sob o nome de Grindhouse. Aqui pagaremos duas vezes para assistir a mesma coisa. Mas vale a pena.
3 comentários:
Perfeito: fico imaginando vc assistindo a tais espetáculos nesse centro da cultura e "bolando" o q já seriam suas críticas no blogg. Deve ser magnífico parar as atividades e te olhar concentrado...abração Sr Paraioca!!!
Paulinho - João Pessoa
Fiquei curiosa a respeito de uma coisinha: por que você imagina que a estrutura da peça seja em torno das fases de descoberta da doença? Em nenhum momento consegui verificá-la nesse sentido. Estou estudando bastante este texto do Lagarce e fiquei muito interessada no seu ponto de vista.
Um abraço,
Brunella
Brunella, esta é uma leitura possível e no momento que escrevi este texto foi a que mais me chamou atenção. As variações térmicas corporais e de humor, além da "vida passada a limpo" e do cenário psíquico em ruínas do protagonista, me fizeram ter esta leitura da peça. Para mim, foi imediata as associações, mas também pelo conhecimento prévio das implicações contextuais da feitura do texto de Lagarce.
Sucesso nos estudos.
Estou por aqui.
Abraço
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