Como é enriquecedor
ver Renata Sorrah em cena! E ver e sentir as possibilidades que o trabalho (a
técnica) e a paixão já imprimiram em sua potência-atriz. Tudo isso é valorizado
na peça Esta criança. Ali é possível se emocionar a cada deslizamento
feito por Sorrah de um personagem a outro.
Para isso agem
também: o vigor do texto de Jöel Pommerat, brilhantemente traduzido por Giovana
Soar, a direção de Marcio Abreu atenta às mudanças sutis das ações, o elenco em
equilíbrio perfeito com as exigências de cada ato (Giovana Soar, Ranieri
Gonzalez e Edson Rocha) e o cenário de Fernando Marés, que se protubera sobre a
plateia, instigando o público a também estar em cena, ir além do buraco da
fechadura, fazer parte das questões do palco, da vida: todos diante do espelho.
A direção de Marcio
Abreu aproveita cada camada, o melhor e o mais cruel de cada situação-limite na
promoção da liga entre as 10 pequenas peças dentro da peça, com a sensibilidade
de quem sabe que "antes de existir alfabeto existia a voz / antes de
existir a voz existia o silêncio / o silêncio".
É nos embates entre
pais e filhos, os modos de criar a cria que o texto se move, cutucando feridas,
iluminando recantos escuros. E a cada progressão de cena, a cada evolução de
corpo e alma dos atores em cena, um riso e/ou uma lágrima no espectador. Tudo
junto: cortes secos, relações prazerosamente dolorosas, extremamente íntimas e
singulares, sem manuais. Porque assim é a vida: onde nos damos no melhor
espetáculo que podemos, onde os sentidos de cada coisa são múltiplos e dói e é
bom vivê-los em suas multiplicidades.
Que experiência
enriquecedora sentir um só sentimento na plateia e no corpo-voz dos atores (os
quatro em mergulho profundo): arte e humano em diálogo simbiótico. Assim é
(foi, para mim) Esta criança, em cartaz no CCBB RJ até 27 de
janeiro de 2013.
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