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quinta-feira, novembro 29, 2012

Esta Criança

Como é enriquecedor ver Renata Sorrah em cena! E ver e sentir as possibilidades que o trabalho (a técnica) e a paixão já imprimiram em sua potência-atriz. Tudo isso é valorizado na peça Esta criança. Ali é possível se emocionar a cada deslizamento feito por Sorrah de um personagem a outro.
Para isso agem também: o vigor do texto de Jöel Pommerat, brilhantemente traduzido por Giovana Soar, a direção de Marcio Abreu atenta às mudanças sutis das ações, o elenco em equilíbrio perfeito com as exigências de cada ato (Giovana Soar, Ranieri Gonzalez e Edson Rocha) e o cenário de Fernando Marés, que se protubera sobre a plateia, instigando o público a também estar em cena, ir além do buraco da fechadura, fazer parte das questões do palco, da vida: todos diante do espelho.
A direção de Marcio Abreu aproveita cada camada, o melhor e o mais cruel de cada situação-limite na promoção da liga entre as 10 pequenas peças dentro da peça, com a sensibilidade de quem sabe que "antes de existir alfabeto existia a voz / antes de existir a voz existia o silêncio / o silêncio".
É nos embates entre pais e filhos, os modos de criar a cria que o texto se move, cutucando feridas, iluminando recantos escuros. E a cada progressão de cena, a cada evolução de corpo e alma dos atores em cena, um riso e/ou uma lágrima no espectador. Tudo junto: cortes secos, relações prazerosamente dolorosas, extremamente íntimas e singulares, sem manuais. Porque assim é a vida: onde nos damos no melhor espetáculo que podemos, onde os sentidos de cada coisa são múltiplos e dói e é bom vivê-los em suas multiplicidades.
Que experiência enriquecedora sentir um só sentimento na plateia e no corpo-voz dos atores (os quatro em mergulho profundo): arte e humano em diálogo simbiótico. Assim é (foi, para mim) Esta criança, em cartaz no CCBB RJ até 27 de janeiro de 2013.

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