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terça-feira, agosto 07, 2007

O cheiro do fosso

Um elenco liderado por Fernanda Torres e Wagner Moura está fazendo muita gente rir nas salas de cinema. Em cartaz desde 20 de julho “Saneamento básico, o filme”, longa do diretor e roteirista Jorge Furtado, conta a história de um grupo de moradores de Linha Cristal, uma cidadezinha no interior do Rio Grande do Sul.
Sem dinheiro para construir uma fossa para solucionar os problemas de saneamento da cidade, Marina (Fernanda Torres) e seu marido Joaquim (Wagner Moura) descobrem que existe uma verba pública de R$10 mil destinada à premiação de um vídeo de ficção. Mesmo sem saber sequer o que significa ficção, decidem fazer o vídeo para solucionar o problema do mau-cheiro. A partir desse mote o que se vê na telona é uma sucessão de atuações impecáveis.
Além de Fernanda e Wagner, estão no elenco Camila Pitanga (Silene – irmã de Marina que sonha em fazer sucesso como atriz), Lázaro Ramos (dono de uma produtora de vídeo na cidade vizinha), Bruno Garcia (Fabrício – namorado de Silene e aspirante a prefeito da cidade), Paulo José (Otaviano – pai de Marina e desiludido com a política) e Tonico Pereira (Antônio – empreiteiro e amigo de Otaviano).
Um monstro de luvas verdes, uma mocinha com aspirações de estrela e as precariedades de uma filmagem caseira são os ingredientes saborosos dessa mistura de atores talentosos. Embora o enredo seja conduzido pela obstinada Marina e seu marido, cada personagem tem seu peso bem distribuído e, ao longo do filme, vamos percebendo como o cinema muda todas as relações inter-pessoais.
É interessante assistir a um elenco que acostumamos ver interpretando papéis de cariocas, numa paisagem totalmente diferente. Diferente inclusive de grande parte dos filmes nacionais que nos últimos anos têm gravitado entre sudeste e nordeste.
Mas além do humor, que perpassa todos os seus 112 minutos de duração, a história desse filme-dentro-do-filme desenvolve-se sobre a questão: o Brasil tem dinheiro para cultura e não tem para o esgoto? Isto é: o dinheiro está sendo bem empregado ou o modelo de se fazer cultura no Brasil, só se preocupa com os fins? As interrogações passam pelas polêmicas leis de renúncia fiscal que financiam quase 100% da produção nacional, entre outras questões. O longa de Furtado não dá as respostas, mas sugere.
O filme acaba sendo uma ode inteligente e bem-humorada ao cinema e a cultura em geral, problematizando o fazer cultura num país como o Brasil, com tantas deficiências básicas em vários setores essenciais.

Um comentário:

Robson de Moura disse...

Leo, a Bravo! do mês passado fez uma matéria sobre esse filme com o foco no roteiro dele (e na profissionalização da produção de roteiros do cinema nacional), já que o diretor Jorge Furtado se considera um "roteirista que dirige" porque não quer ver os seus roteiros serem estragados por outros diretores (o que, segundo ele, já ocorreu).

Vale a pena dar uma olhada.

Abs!