Depois de passar por Berlim, Londres, Chicago e Nova York, sob a curadoria de Carlos Basualdo, a exposição Tropicália: Uma revolução na cultura brasileira [1967 – 1972] chega ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
A exposição apresenta a Tropicália como um momento cultural original, envolvendo as áreas de arte plástica, música, literatura, arquitetura, teatro, cinema e moda. Buscando ainda mostrar as ressonâncias desse período nas novas gerações de artistas nacionais e estrangeiros.
Há 40 anos Hélio Oiticica apresentava a instalação Tropicália – um ambiente em forma de labirinto com plantas, areia, araras, um aparelho de TV e capas de Parangolé – dentro da exposição Nova Objetividade Brasileira, no mesmo MAM.
O nome Tropicália, por sugestão do cineasta Luís Carlos Barreto que viu a exposição de Oiticica, virou o título - após alguma relutância - de uma música de Caetano Veloso. No ano seguinte, 1968, sai o LP Tropicália: ou Panis et Circenses, considerado o disco manifesto, abrindo o brilhante momento de diálogo entre vanguarda e subdesenvolvimento. É o momento das imitações cômicas e os "arremedos" da história, e as experiências na linguagem como uma forma de colocar em xeque o ufanismo ingênuo de então.
Inaugurado por Caetano Veloso, o Tropicalismo tem também Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Os Mutantes e Nara Leão, como figuras centrais, acompanhadas ainda pelo maestro e arranjador Rogério Duprat e os letristas Capinan e Torquato Neto.
Celso Favaretto, no livro Tropicália: alegoria, alegria, aponta outubro de 1967, data do III Festival da MPB Record de São Paulo, a que concorreram "Alegria, Alegria", de Caetano e "Domingo no parque", de Gilberto Gil, como a época em que começa a proposta tropicalista.
Difícil de ser definida, Tropicália foi essencialmente a idéia e a tentativa de repensar a identidade brasileira e a arte no Brasil, em meio à agitação política e a uma ditadura repressiva, através da antropofagia cultural. Para Zé Celso Martinez Corrêa, em entrevista a O Globo, “só a antropofagia nos une. A filosofia de Oswald supera o grande impasse do mundo, o racismo, o fundamentalismo. E o multiculturalismo, que parece progressista, mas segue a filosofia do ‘cada macaco no seu galho’, setorizando gays, índios...”.
Zé Celso tem importância histórica no movimento como diretor da montagem de O rei da vela, baseada em texto de Oswald de Andrade, cuja tela feita para o cenário da peça, por Hélio Eichbauer à la Carmem Miranda, também estáem exposição. A famosa tela foi usada por Caetano como capa para o disco Estrangeiro, de 1989, entre outros exemplos, numa demonstração de que conceitualmente as idéias tropicalistas norteariam sua carreira como compositor e cantor.
Na exposição, através de vídeos, verifica-se o comportamento tropicalista. Interessante perceber que, apropriando-se dos recursos tecnológicos, os tropicalistas conseguiram burlar a ideologia vigente, através do discurso alegórico, realizando uma crítica consciente e não-alienada. Alguns críticos julgaram e ainda julgam os tropicalistas como alienados, posto que não eram abertamente engajados nos movimentos políticos de esquerda.
Os visitantes de Tropicália: Uma revolução na cultura brasileira [1967 – 1972], além de interagir nas instalações Tropicália e Éden e com os Parangolés de Oiticica, podem ver trabalhos de Lygia Clark, Antonio Dias, Lygia Pape, Nelson Leirner, Lina Bo Bardi, cartazes de filmes de Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade e capas de discos tropicalistas.
É possível ver ainda as coloridíssimas roupas da Rhodia e obras concretas e neoconcretas, de Augusto de Campos (primeiro defensor crítico do Tropicalismo) e Ferreira Gullar.
Também está exposta a polêmica bandeira criada por Oiticica com a frase "seja marginal, seja herói", homenagem ao bandido Cara de Cavalo morto pela polícia em 68, e usada por Caetano nos shows. Após uma apresentação na Boate Sucata, um juiz não só proibiu o show, como fechou a boate e dias depois justificou a prisão de Caetano.
Os tropicalistas responderam aos apelos das posições regressivas da esquerda. Universalizaram a MPB com a incorporação de guitarras elétricas e o rock, modernizando a cultura brasileira de forma geral. Não esquecendo a influência pop, tendo Abelardo Chacrinha Barbosa como referência maior.
O fim do momento Tropicalista começou com a prisão e exílio de Caetano e Gil. Porém, ao que tudo indica, se a escravidão permanecerá como característica nacional do Brasil, como afirmou Joaquim Nabuco, em contrapartida, ou paralelo a isso, a antropofagia tropicalista permanecerá nos unindo e nos caracterizando.
O cantor Ney Matogrosso e a vanguarda paulistana do final dos anos 70, que incluía Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e o Grupo Rumo beberam na fonte tropicalista. Seus “acordes dissonantes” ainda ressoam hoje, num mundo cada vez mais interativo, com o advento da internet, seja pela liberdade criativa da Nação Zumbi e o movimento Mangue Beat, seja pelo experimentalismo de Marcelo D2 a "procura da batida perfeita".
Tropicália: Uma revolução na cultura brasileira [1967 – 1972] fica em cartaz até 30 de setembro, expondo o avesso de um país onde o luxo e o lixo, o erudito e o popular... não são opostos, mas "a face de uma mesma fazenda" (C. V.).
Para quem se interessa pelo assunto sugiro a leitura do livro Verdade Tropical que é, acredito, a melhor fonte sobre este período.
O nome Tropicália, por sugestão do cineasta Luís Carlos Barreto que viu a exposição de Oiticica, virou o título - após alguma relutância - de uma música de Caetano Veloso. No ano seguinte, 1968, sai o LP Tropicália: ou Panis et Circenses, considerado o disco manifesto, abrindo o brilhante momento de diálogo entre vanguarda e subdesenvolvimento. É o momento das imitações cômicas e os "arremedos" da história, e as experiências na linguagem como uma forma de colocar em xeque o ufanismo ingênuo de então.
Inaugurado por Caetano Veloso, o Tropicalismo tem também Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Os Mutantes e Nara Leão, como figuras centrais, acompanhadas ainda pelo maestro e arranjador Rogério Duprat e os letristas Capinan e Torquato Neto.
Celso Favaretto, no livro Tropicália: alegoria, alegria, aponta outubro de 1967, data do III Festival da MPB Record de São Paulo, a que concorreram "Alegria, Alegria", de Caetano e "Domingo no parque", de Gilberto Gil, como a época em que começa a proposta tropicalista.
Difícil de ser definida, Tropicália foi essencialmente a idéia e a tentativa de repensar a identidade brasileira e a arte no Brasil, em meio à agitação política e a uma ditadura repressiva, através da antropofagia cultural. Para Zé Celso Martinez Corrêa, em entrevista a O Globo, “só a antropofagia nos une. A filosofia de Oswald supera o grande impasse do mundo, o racismo, o fundamentalismo. E o multiculturalismo, que parece progressista, mas segue a filosofia do ‘cada macaco no seu galho’, setorizando gays, índios...”.
Zé Celso tem importância histórica no movimento como diretor da montagem de O rei da vela, baseada em texto de Oswald de Andrade, cuja tela feita para o cenário da peça, por Hélio Eichbauer à la Carmem Miranda, também está
Na exposição, através de vídeos, verifica-se o comportamento tropicalista. Interessante perceber que, apropriando-se dos recursos tecnológicos, os tropicalistas conseguiram burlar a ideologia vigente, através do discurso alegórico, realizando uma crítica consciente e não-alienada. Alguns críticos julgaram e ainda julgam os tropicalistas como alienados, posto que não eram abertamente engajados nos movimentos políticos de esquerda.
Os visitantes de Tropicália: Uma revolução na cultura brasileira [1967 – 1972], além de interagir nas instalações Tropicália e Éden e com os Parangolés de Oiticica, podem ver trabalhos de Lygia Clark, Antonio Dias, Lygia Pape, Nelson Leirner, Lina Bo Bardi, cartazes de filmes de Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade e capas de discos tropicalistas.
É possível ver ainda as coloridíssimas roupas da Rhodia e obras concretas e neoconcretas, de Augusto de Campos (primeiro defensor crítico do Tropicalismo) e Ferreira Gullar.
Também está exposta a polêmica bandeira criada por Oiticica com a frase "seja marginal, seja herói", homenagem ao bandido Cara de Cavalo morto pela polícia em 68, e usada por Caetano nos shows. Após uma apresentação na Boate Sucata, um juiz não só proibiu o show, como fechou a boate e dias depois justificou a prisão de Caetano.
Os tropicalistas responderam aos apelos das posições regressivas da esquerda. Universalizaram a MPB com a incorporação de guitarras elétricas e o rock, modernizando a cultura brasileira de forma geral. Não esquecendo a influência pop, tendo Abelardo Chacrinha Barbosa como referência maior.
O fim do momento Tropicalista começou com a prisão e exílio de Caetano e Gil. Porém, ao que tudo indica, se a escravidão permanecerá como característica nacional do Brasil, como afirmou Joaquim Nabuco, em contrapartida, ou paralelo a isso, a antropofagia tropicalista permanecerá nos unindo e nos caracterizando.
O cantor Ney Matogrosso e a vanguarda paulistana do final dos anos 70, que incluía Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e o Grupo Rumo beberam na fonte tropicalista. Seus “acordes dissonantes” ainda ressoam hoje, num mundo cada vez mais interativo, com o advento da internet, seja pela liberdade criativa da Nação Zumbi e o movimento Mangue Beat, seja pelo experimentalismo de Marcelo D2 a "procura da batida perfeita".
Tropicália: Uma revolução na cultura brasileira [1967 – 1972] fica em cartaz até 30 de setembro, expondo o avesso de um país onde o luxo e o lixo, o erudito e o popular... não são opostos, mas "a face de uma mesma fazenda" (C. V.).
Para quem se interessa pelo assunto sugiro a leitura do livro Verdade Tropical que é, acredito, a melhor fonte sobre este período.
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