Depois de emocionar com o belo e sutil Delicada relação (Yossi & Jagger), de 2002, o diretor israelense Eytan Fox, apresenta-nos The Bubble, em cartaz no Brasil desde 17 de agosto.
Mais do que uma história de amor entre um israelense e um palestino, o novo longa de Fox tem forte teor pacifista, sendo o mais político dos seus filmes, mas longe do planfletarismo.
The Bubble (Ha-Buah no original), com estréia internacional no Festival de Cinema de Toronto 2006, mostra a história de Noam (Ohad Knoller), que mora na moderna Tel Aviv, e de Ashraf (Yousef 'Joe' Sweid), da Cisjordânia palestina. Uma história de amor impossível de não ser afetada pela política. Talvez por isso o título preliminarmente pensado para ser "Romeo and Julio", tenha sido trocado. Para refletir melhor os acontecimentos em Israel.
A história dos dois começa quando Noam, soldado do Exército Israelense, dando plantão numa fronteira, conhece o palestino Ashraf. Há um corte na narrativa e a história continua com Noam jáem Tel Aviv com os companheiros de quarto, o irônico Yali (Alon Friedman), gerente de um café, e a bela Lulu (Daniela Virtzer), vendedora em loja de essências para banho. A construção das personagens aponta para a maturidade e consciência crítica de cada um dos atores.
Bubble, “bolha” em português, pode ser a metáfora tanto de Tel Aviv, cidade que parece isolada do resto de Israel, quanto da república onde vivem os três amigos. Além das inquietações individuais de cada um.
A história de Noam e Ashraf poderia terminar com a simples troca de olhares. Porém, Ashraf é obstinado e, tendo encontrado os documentos que o outro deixou cair num incidente na fronteira, busca e encontra Noam. Este, decepcionado com o Exército, trabalha agora numa loja de CD. A partir de então, os amigos de Noam passam a ajuda-los neste “amor explosivo”, outra metáfora que é filigranamente trabalhada ao longo do filme, até a cena final.
Com sua situação ilegal em Israel, Ashraf acaba sendo "adotado" pelos amigos de Noam e vai trabalhar com nome falso, como garçom, do café que Yali é gerente. Destaque para a trilha sonora do café, como “Aganju”, na voz de Bebel Gilberto. Uma metáfora para um país “que canta e é feliz”?
Os quatro amigos, mais outros jovens, organizam uma festa rave pela paz. “Vamos dançar em vez de matar", grita Lulu ao distribuir flyers pelas ruas de Tel Aviv. A rave é um sucesso, tendo bebida e ecstasy como combustível.
No entanto, a ilegalidade de Ashraf é descoberta, fazendo-o sentir a tensão entre judeus e árabes. Ele foge, para desespero de Noam, que auxiliado pelos amigos de quarto, vai atrás do amado.
As ações do filme são entrecortadas por cenas líricas, como num momento em que todos os personagens estão num bar e, ao piano, um crooner (Ivri Lider, responsável pela trilha sonora do filme) interpreta “The man I love”, de George Gershwin e Ira Gershwin, ou quando a irmã de Ashraf, sem aceitar que o irmão seja gay, nega-lhe uma dança, durante o casamento dela, e por cenas que revelam fundamentalismos, extremismos e separações. A câmera em movimento, os flashbacks de um passado harmônico e os cortes certeiros de Fox são a prova de sua competência.
A direção e o roteiro trabalham de mãos dadas o tempo todo, aliados de uma fotografia precisa. Todavia na parte final o diretor se perde. Numa tentativa desnecessária – haja vista o excelente papel que o roteiro de Gal Uchovsky vinha desempenhando até então – de chocar, ou mesmo de tentar finalizar a história por um viés romântico-utópico, Fox descarrila o filme.
Mesmo assim, o conjunto da obra não fica prejudicado. A mensagem do amor que rompe fronteiras físicas e espirituais, a busca por soluções de questões históricas e políticas através da arte e da festa, a supremacia da paz sobre os preconceitos e a intenção de instigar à saída da “bolha” individual em que cada um de nós nos fechamos - tudo isso costurado por imagens e diálogos que funcionam - são bem trabalhadas.
Previsível, mas imperdível para qualquer público.
A história dos dois começa quando Noam, soldado do Exército Israelense, dando plantão numa fronteira, conhece o palestino Ashraf. Há um corte na narrativa e a história continua com Noam já
Bubble, “bolha” em português, pode ser a metáfora tanto de Tel Aviv, cidade que parece isolada do resto de Israel, quanto da república onde vivem os três amigos. Além das inquietações individuais de cada um.
A história de Noam e Ashraf poderia terminar com a simples troca de olhares. Porém, Ashraf é obstinado e, tendo encontrado os documentos que o outro deixou cair num incidente na fronteira, busca e encontra Noam. Este, decepcionado com o Exército, trabalha agora numa loja de CD. A partir de então, os amigos de Noam passam a ajuda-los neste “amor explosivo”, outra metáfora que é filigranamente trabalhada ao longo do filme, até a cena final.
Com sua situação ilegal em Israel, Ashraf acaba sendo "adotado" pelos amigos de Noam e vai trabalhar com nome falso, como garçom, do café que Yali é gerente. Destaque para a trilha sonora do café, como “Aganju”, na voz de Bebel Gilberto. Uma metáfora para um país “que canta e é feliz”?
Os quatro amigos, mais outros jovens, organizam uma festa rave pela paz. “Vamos dançar em vez de matar", grita Lulu ao distribuir flyers pelas ruas de Tel Aviv. A rave é um sucesso, tendo bebida e ecstasy como combustível.
No entanto, a ilegalidade de Ashraf é descoberta, fazendo-o sentir a tensão entre judeus e árabes. Ele foge, para desespero de Noam, que auxiliado pelos amigos de quarto, vai atrás do amado.
As ações do filme são entrecortadas por cenas líricas, como num momento em que todos os personagens estão num bar e, ao piano, um crooner (Ivri Lider, responsável pela trilha sonora do filme) interpreta “The man I love”, de George Gershwin e Ira Gershwin, ou quando a irmã de Ashraf, sem aceitar que o irmão seja gay, nega-lhe uma dança, durante o casamento dela, e por cenas que revelam fundamentalismos, extremismos e separações. A câmera em movimento, os flashbacks de um passado harmônico e os cortes certeiros de Fox são a prova de sua competência.
A direção e o roteiro trabalham de mãos dadas o tempo todo, aliados de uma fotografia precisa. Todavia na parte final o diretor se perde. Numa tentativa desnecessária – haja vista o excelente papel que o roteiro de Gal Uchovsky vinha desempenhando até então – de chocar, ou mesmo de tentar finalizar a história por um viés romântico-utópico, Fox descarrila o filme.
Mesmo assim, o conjunto da obra não fica prejudicado. A mensagem do amor que rompe fronteiras físicas e espirituais, a busca por soluções de questões históricas e políticas através da arte e da festa, a supremacia da paz sobre os preconceitos e a intenção de instigar à saída da “bolha” individual em que cada um de nós nos fechamos - tudo isso costurado por imagens e diálogos que funcionam - são bem trabalhadas.
Previsível, mas imperdível para qualquer público.
***
10 comentários:
Hum... Deu vontade de furar essa bolha...
;)
Leo!!!!!!!!!!
O blog está bom!bando! rpz, parabéns pelas matérias mais descoladas da net!
Acabei de ler "Brasil como Brasil" e já tem outra novidade sobre um
filme super interessante que nem ouvi falar!
VC sempre na vanguarda!
@br@ço!
ótima crítica!
Muito boa a crítica.
Só não sei se concordo com o comentário sobre o final do filme.
Apesar de ser obvio desdo começo que eles não iriam ficar juntos, eu gostei de como foi feito.
Claro que ele forçou um pouco a barra com a cena do celular tocando e com o giro da camera dando uma bela romantizada, mais isso não afetou o fato deu ter adorado o filme!
Abraço!!!
Cara, arrebentou no comentário do Bubble! Coisa de gente grande que sabe exatamente o que está fazendo... Ainda não vi o filme, semana que vem com certeza!
Abração
Léo, como já te disse em e-mail, não gostei do final do filme... Mas a impressão inicial de que foi melodramático e desnecessário está se desvanecendo, à medida em q começo a refletir sobre as motivações de Ashraf: o remorso q ele sentia por ter-se tornado um judeu, mesmo que de mentira, após o atentado israelense q resultou na morte de sua irmã (e é bem reveladora a passagem em q ele aperta e rasga o cartaz da rave, que o mostra como o único de cabeça pra baixo). Ele se sente tão mal, que decide descarregar (literalmente, rsrsrs) justamente no café em que trabalhou, ou seja, aqueles que o acolheram terminaram por "perverter" sua identidade palestina. Evidentemente, jamais isso ocorreu contra a vontade dele, mas a projeção da culpa nos judeus é bem característica da forte rejeição de si mesmo após conviver entre eles, os assassinos de sua irmã. A rejeição que sofreu por parte desta ao contar sobre sua sexualidade e a subsequente morte dela fizeram-no negar sua nova e instável identidade, que transitava entre palestinos e judeus de forma neutra, pra finalmente crer que deveria engajar-se, como forma de expiar sua culpa. E Bent, obviamente, funciona como uma referência extremamente marcante da história narrada em The Bubble, com um diálogo entre a intolerância clara do campo de concentração e a tolerância "alienante" e transitória da bolha, cujo rompimento era inevitável, cercada da intolerância patente entre árabes e judeus, e ainda contra homossexuais, é lógico, já que Bent trata do amor homoerótico. Afinal, como eles poderiam se relacionar deixando de lado suas identidades, fundamentalmente ancoradas no conflito político-religioso? Tais conflitos sempre constituem motivos de separação do casal, bem como de diferença praticamente impossível de ser superada, a não ser de forma ilusória e fugaz. Ainda sinto, sim, um quê melodramático no final que me incomoda, assim como ainda vejo em Bent. Mas consigo compreender as razões dos personagens, levados ao desespero extremo, qdo vislumbram apenas uma saída possível. E, como vc bem notou, o filme é mt bem estruturado, seja na referência ao amor explosivo, seja na própria escolha do título, com forte carga de sentido, como tb nas referências a Bent, especialmente no toque na sobrancelha, que significa "eu te amo". Qdo vai embora após ser descoberto, Ashraf faz esse gesto para seu amado à distância, só que este não vê. Esse gesto prenuncia o final, pois antes de se suicidar, em Bent, um dos personagens repete o gesto, ao que o outro se suicida em seguida. Em The Bubble, Noam não vê o "eu te amo", o que, em paralelo com Bent, significa dizer que ele morrerá em um "suicídio" que sequer escolheu. Segundo Ashraf, o amor "explosivo" deles só seria possível em um mundo sem guerra, portanto, irreal. E as folhas de figo tb são reveladoras: seriam Noam e Ashraf o casal primordial que conseguiria concretizar uma amor homossexual e superar as divergências políticas e religiosas, dando origem a uma nova prole de pessoas conscientes e tolerantes?
A primeira coisa que me chamou a atenção foi a música da abertura...depois que ouvi música brasileira tive a certeza de que gostaria da trilha...acabo de baixar o cd...
O final...o filme é lindo, e bom, não paro de pensar nas cenas, isso é um sinal de ter sido forte. A história de amor é linda.
Mas...como esta guerra é atual, penso que perdeu (o filme, o diretor) a oportunidade de mostrar que há pessoas dos dois lados da questão que pensam em paz. Saber que mesmo entre radicais existem pessoas sensíveis, que pensam em paz, amor e nos erros da guerra, seria melhor do que a impressão de que o carinha palestino entrou na onda do pior pernsonagem (seu cunhado)...
Dentre as pessoas que se mostravam esclarecidas, o "lado palestino" parece ter tido uma atitude menos inteligente e não acho isso legal nem interessante já que a guerra ainda acontece......O cara me parecia contrário suficientemente ao terror...gostaria de saber alguma opinião a respeito...
Essa peça BENT, já esteve em cartaz em São Paulo, e tive o prazer de assistir...existe o filme também e essa cena é bem famosa....
o filme é ótimo, sua crítica também não fica atrás. Porém ainda estou digerindo tudoo que vi.... vlw
Leornardo,
Parabéns pela excelente crítica que fizestes em teu blog sobre o filme "The Bubble". Infelizmente, ainda não o assisti. Mas todos os que já o viram, o recomendam com entusiasmo. Tive oportunidade de ver o belíssimo "Yossi & Jagger"), que além de muito bem realizado, prova que baixo orçamento não decide a qualidade técnica de filme nenhum. Inclui teu blog nos meus preferidos e acompanharei atentamente teus textos.
Felicitações e um grande abraço,
Marco.
The Bubble (Ha-Buah no original), com estréia internacional
Me emocionei muito com o final do filme. Porém acho que não foi a melhor solução. No fim
de Bubble o personagem judeu vê um amigo ficar paraplégico e mesmo com a imagem
na tv mostrando que o seu namorado tem um cunhado líder do Hamas, ele compreende
que nada tem a ver com o atentado.
Já o palestino não só não compreende como quase sai de seu território disposto a matá-lo provocando um atentado.
Esse final PERMITE (e que fique bem claro que permite não estou dizendo que é o que o diretor quis passar) a interpretação de uma superioridade judaica. Como se dissesse: Cuidado com um palestino. Eles podem ser legais, românticos, até se ocidentalizar mas se ficarem com raiva de vc podem te mandar pelos ares.
Mas continuo gostando (e muito) do filme, apesar dessa escorregada.
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