Está em cartaz no Centro Cultural Dejair Cardoso, na Lapa, a peça “Não matarás”, de Dejair Cardoso. Às pessoas que gostam de gêneros definidos uma advertência logo de início: não se sabe ao certo se assistimos a uma tragédia ou a uma comédia. O diretor acrescenta a esta indefinição traços de thriller e humor negro. Essa quantidade de possibilidades expressa bem a indefinição do texto, que no fim das contas é mais uma abordagem sobre a pedofilia dentro de uma instituição católica.
O passado de um padre pedófilo retorna com força total quando um de seus “coroinhas”, já crescido, exige uma reparação financeira pelos danos psicológicos causados pelo relacionamento com o padre. Este, por sua vez, aproveita a presença, na cidade, de um matador de aluguel e o contrata para livrar-se do chantagista.
O jogo, que vai levando às sucessivas descobertas, é um pálido reflexo de questões psicológicas que poderiam ser mais bem aproveitadas. Não traz revelações que sejam realmente significativas. E a peça acaba sendo mais do tipo de veículo para atores.
A encenação é simples. O cenário, até por causa do espaço minúsculo do Centro Cultural, é extremamente pequeno, restringindo-se apenas a uma escrivaninha, no que se sugere a sacristia, onde o padre recebe ora o chantagista, ora o matador, ora ambos. A luz é correta, funciona nas tentativas de criar os momentos de dramaticidade dos atos.
Há uma Bíblia, em um dos lados do palco, mencionada várias vezes durante os diálogos, dando respaldo ao título da peça. O livro é um dos aspectos mais originais, pois é nele, ou sobre o que ele representa, que se sustentam as certezas do matador de aluguel, o sentimento de culpa e as dúvidas do padre e a revolta do coroinha crescido. Ou seja, a crítica é sobre o porquê da instituição que condena o homoerotismo, ser a mesma que fecha os olhos para o que acontece internamente
Os atores – Francisco Alves, Elcio Monteze, Daniel Moragas – ocupam ao máximo os mínimos espaços oferecidos, mas de algum modo fica faltando motivação para as aproximações e os afastamentos, por causa das instruções que vêm do texto.
“Não matarás” possivelmente foi escrita para despertar algum tipo de reflexão, mas esta idéia é abortada, tanto pelo exagero da caracterização do coroinha em busca de vingança, quanto pelo matador que monta a personagem de homem-mau utilizando “caras e bocas”. O que leva a soar como falsas algumas falas. Certamente, são atores que ainda estão criando a carga de experiência necessária de palco, indispensável para que a peça viva.
O estereotipo do gay efeminado e promíscuo é reforçado seja pelo padre, que se diverte em saunas, na capital, seja pelo ex-coroinha, em suas falas e atitudes.
Sabe-se hoje em dia, que já não é mais preciso, em qualquer arte cênica, a confirmação da inclinação homoerótica de uma personagem através de recursos como “rebolados” e “voz afetada”. Obviamente isso exerce a função de gerar o riso, ou a identificação, com a platéia, mas, e ao mesmo tempo, subestima essa mesma platéia, deixando o conjunto e o resultado óbvios demais.
Apesar dos pontos fracos vale a pena assistir à peça. É um esforço (bem sucedido, sob alguns aspectos) de manter na cidade uma opção para o público gay. Ele, como qualquer outro público, quer “comida, diversão e arte”. O que vemos, em geral, é um circuito muito restrito de opções de entretenimento, fora às relacionadas ao sexo e dança, claro. Parabéns ao Centro Cultural Dejair Cardoso pela coragem de fugir deste “arroz com feijão”.
O passado de um padre pedófilo retorna com força total quando um de seus “coroinhas”, já crescido, exige uma reparação financeira pelos danos psicológicos causados pelo relacionamento com o padre. Este, por sua vez, aproveita a presença, na cidade, de um matador de aluguel e o contrata para livrar-se do chantagista.
O jogo, que vai levando às sucessivas descobertas, é um pálido reflexo de questões psicológicas que poderiam ser mais bem aproveitadas. Não traz revelações que sejam realmente significativas. E a peça acaba sendo mais do tipo de veículo para atores.
A encenação é simples. O cenário, até por causa do espaço minúsculo do Centro Cultural, é extremamente pequeno, restringindo-se apenas a uma escrivaninha, no que se sugere a sacristia, onde o padre recebe ora o chantagista, ora o matador, ora ambos. A luz é correta, funciona nas tentativas de criar os momentos de dramaticidade dos atos.
Há uma Bíblia, em um dos lados do palco, mencionada várias vezes durante os diálogos, dando respaldo ao título da peça. O livro é um dos aspectos mais originais, pois é nele, ou sobre o que ele representa, que se sustentam as certezas do matador de aluguel, o sentimento de culpa e as dúvidas do padre e a revolta do coroinha crescido. Ou seja, a crítica é sobre o porquê da instituição que condena o homoerotismo, ser a mesma que fecha os olhos para o que acontece internamente
Os atores – Francisco Alves, Elcio Monteze, Daniel Moragas – ocupam ao máximo os mínimos espaços oferecidos, mas de algum modo fica faltando motivação para as aproximações e os afastamentos, por causa das instruções que vêm do texto.
“Não matarás” possivelmente foi escrita para despertar algum tipo de reflexão, mas esta idéia é abortada, tanto pelo exagero da caracterização do coroinha em busca de vingança, quanto pelo matador que monta a personagem de homem-mau utilizando “caras e bocas”. O que leva a soar como falsas algumas falas. Certamente, são atores que ainda estão criando a carga de experiência necessária de palco, indispensável para que a peça viva.
O estereotipo do gay efeminado e promíscuo é reforçado seja pelo padre, que se diverte em saunas, na capital, seja pelo ex-coroinha, em suas falas e atitudes.
Sabe-se hoje em dia, que já não é mais preciso, em qualquer arte cênica, a confirmação da inclinação homoerótica de uma personagem através de recursos como “rebolados” e “voz afetada”. Obviamente isso exerce a função de gerar o riso, ou a identificação, com a platéia, mas, e ao mesmo tempo, subestima essa mesma platéia, deixando o conjunto e o resultado óbvios demais.
Apesar dos pontos fracos vale a pena assistir à peça. É um esforço (bem sucedido, sob alguns aspectos) de manter na cidade uma opção para o público gay. Ele, como qualquer outro público, quer “comida, diversão e arte”. O que vemos, em geral, é um circuito muito restrito de opções de entretenimento, fora às relacionadas ao sexo e dança, claro. Parabéns ao Centro Cultural Dejair Cardoso pela coragem de fugir deste “arroz com feijão”.
2 comentários:
Caramba Léo, que critica poderosa essa tua, madura, consciente, envolvente. Fiquei até curioso em assistir essa montagem, será que vem para Sampa? Aqui a gente tem tido várias montagens de textos gays, a tradicional e abandonada Praça Roosevelt tem ganhado fôlego com o pessoal do Satyros, a um preço acessível e tem lotado, ganho espaço na mídia mas falta um comentarista do teu naipe... E só para registrar, fui o visitante número 1000! Vida longa ao teu blog! Abração
Muito boa sua critica, também fiquei curioso para assistir essa peça!
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