Paul Valéry
afirmou que “o futuro não é mais o que era”, relativizando nossas certezas. Se
o passado, que é o único tempo que existe, ou sabemos existir, porque lá já
estivemos, está perdido e o futuro deve ser o que no passado era apenas uma
promessa, somos no presente – perfeito ou imperfeito – aquilo que foi sonhado
pelos que estiveram no passado. Em Pretérito imperfeito Bruno Lima adensa essas
complexas relações do indivíduo com o tempo que não para. Entre esquecimentos e
lembranças, os sujeitos líricos expõem experiências íntimas e projetam
esperanças para um futuro que, se diferente do que era, ao menos sagre os
desejos e as angústias que ainda não foram (nem serão) digeridos.
Sempre no
tempo afetivo e contínuo, as vozes que em Pretérito
imperfeito cantam parecem saber que a indeterminação e a incerteza são os
únicos absolutos em uma vida grávida de transformações e de portas que só se
abrem por dentro, mesmo afetadas pelas técnicas de fora. E assim se esboça uma
poética do fluxo. E os poemas se conectam para forja auras (almas) que individualizam
– no mundo das palavras operárias – o pulso que ainda pulsa tanto no sujeito
lírico, quanto no indivíduo ordinário de um mundo desmemoriado e sem cais.
Não se pense,
porém, que toda essa ambiência estética esteja a serviço de textos tristes que
tentam, na (retro)visão negativa, limpar e aperfeiçoar o passado. O que Bruno
Lima elabora é um relicário das muitas marcas de imperfeição que fazem alguém
ser aquilo que se é: poesia.
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