Aquilo que os móbiles
bem executados sustentam são tensões flutuantes. Equilibrando tais tensões no
ar, o móbile resignifica o peso dos objetos e, consequentemente, dos sujeitos.
"Simples e suave coisa / Suave coisa nenhuma / Que em mim amadurece",
como cantou o grupo Secos e molhados; "Posso ser leve como uma brisa ou
forte como uma ventania", como escreveu Clarice Lispector.
À mercê do vento, os
móbiles apontam calmarias, sem deixar de significar e justapor signos de
elementos vitais ao humano – à história, aos afetos deste. Feitos para
tencionar tais signos, o móbile parece presentificar virtualmente – para fora
do pensamento do indivíduo – os artifícios de uma poesia haikai, posto que
condensa e prolifera, também pensamentos.
Se aproximarmos nossa
reflexão ao pensamento Eisensteiniano sobre montagem e procedimentos, podemos
dizer que a eficácia de um móbile está na 'naturalidade' com que dois ou mais
elementos opostos e em conflito se amalgamam no fio teso no ar. Ou seja, essa
sensação de frágil soltura promovida no móbile combina – não soma, conceitua –
objetos de conceitos concretos para formar uma apreciação abstrata de algo, ou
de alguém, transformando o exótico em óbvio. E vice-versa.
Isso é para falar da
lindeza que é a instalação sonora CarmenMiranda - uma ópera da imagem, que Laercio Redondo expõe até 05 de maio na
Casa França-Brasil (Rio de Janeiro), dentro da exposição Contos sem reis, sob a curadoria de Fred Coelho.
A eficácia e o encanto
da instalação vão da seleção e combinação dos objetos de cada móbile até a
ambiência clara/asséptica do espaço expositivo (um todo-orgânico em movimento),
passando pela re-apresentação de Carmen Miranda como escultura sonora bailante:
signo aglutinador dos resíduos imagético-afetivos de brasilidade.
No resultado, Carmen
está e não está. Ela é corpo e fantasma. Ela é no cacho de uvas de plástico e
na mosca-joia que orna o cacho. Ela é na pluma, na folha de palmeira (onde o
sabiá é ela) e no limão siciliano. Ela é ela no som-alma.
Laercio suprime,
reordena e harmoniza Carmens, em procedimento que evoca a voz da cantora
vocalizando: "Cai, cai, cai, cai / Eu não vou te levantar / Cai, cai, cai,
cai / Quem mandou escorregar". Há sensação de ser móbile maior que estes
versos na voz de Carmen?
Ensaio de
étnico-estética, Carmen Miranda - uma
ópera da imagem (2010) é uma list
song – tipo tão comum a Carmen cantora – que solapa e sustem, reflete e
refrata os balangandãs que o tabuleiro da baiana tem: fragmentos de memórias na
iminência de um chica chica boom chic.
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