quinta-feira, março 07, 2013
Aos nossos filhos
De
um lado uma filha lésbica (Laura Castro), prestes a ser mãe, pois a
companheira está grávida por inseminação artificial. Do outro lado uma
mãe (a diva Maria de Medeiros), ex-exilada, ex-guerrilheira, que apesar
de todas as dificuldades da vida clandestina e errante, nunca deixou de
oferecer a filha uma figura paterna. No meio, unindo e separando as
personagens, um embate cheio de ressentimentos,
mágoas e verdades individuais. Emoldurando tudo, um cenário (Rodrigo
Cohen) que ora remete a um espaço desértico ampliador da disjunção entre
as partes, ora lembra um colóquio grego. O vinho está lá, mas não chega
a desautomatizar as personagens. Ao contrário. Ambas se concentram na
defesa doída de seus sentimentos, escolhas e ações. O bom e velho
conflito de gerações em um texto (Laura Castro) excepcional. Liberal, a
mãe não entende que a filha queira gerar um filho sem pai. Careta, a
filha se ressente tanto das ausências da mãe psiquiatra, quanto do
excesso de liberdade. Inspirada na canção "Aos nossos filhos", de Ivan
Lins e Vitor Martins, a peça homônima dirigida por João das Neves é um
libelo à certeza de que não há uma verdade única, fechada em si: as
motivações para cada um ser o humano que é, da melhor forma possível,
são variadas e multifacetadas. E o diálogo ainda é a melhor forma de
aparar arestas e equilibrar amor e dor. Sob o piano ao vivo de Filipe
Bernardo, auxiliado pela luz (Paulo César Medeiros) e figurino -
greco/clássico da mãe e romântico/formal da filha, o jogo cênico se
empenha em atiçar memórias, afetos e vontade de acertar, de ser a melhor
mãe que podem para seus filhos.
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