Pesquisar neste blog

quarta-feira, julho 18, 2012

Febre do rato

Comentar a excepcionalidade do trabalho do cineasta Claudio Assis é chover no molhado. Mas não dá para não dizer que Febre do rato é o filme mais superiormente interessante em cartaz. A visceralidade radical e desimpedida incorporada por todos os atores em cena, o texto (os poemas) declamado, as tomadas líricas e cruas, os cenários pouco usuais (de uma sub e febril Recife) dão a Febre do rato qualidade estética intrínseca. Porém nada disso resultaria na potência que é sem a direção rigorosa, irracionalista e/ou super-racionalista de Claudio Assis. O filme é peça obrigatória de quem quer ter a certeza de que sob a chuva rala e plasticidade lisa do cotidiano massificante há um incêndio; que sob o excesso de moral há uma ética promovedora de vidas (mais reais? Talvez, mas, safada, a vida é um vício, com certeza); e que a "razão" é a falsificadora dos sentidos, como Nietzsche anunciou. Rios, pontes, overdrives e mangue, Febre do rato é um testemunho dos sentidos, mostra que se o tempo do rio não é o tempo da ponte há ainda o tempo daquilo que se mantém (quase) suspenso no ar entre o rio e a ponte: a poesia colada ao corpo de quem geme e ri.

Nenhum comentário: