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sexta-feira, maio 06, 2011

Rabbit hole

Rabbit hole - que no Brasil recebeu o medonho título Reencontrando a felicidade - é o mais recente filme do ultracontemporâneo diretor John Cameron Mitchell.
Dito a grosso modo: se no filme Hedwig a personagem-título vivia a solidão pelo viés do confronto consigo mesma e do embate pela afirmação de si na sociedade e no filme Shortbus as personagens experimentaram a solidão diante da profusão de opções que a vida moderna oferece, em Rabbit hole John Mitchell investe na ausência física do filho morto para tematizar a intraduzibilidade da dor.
No papel da mãe (Becca) que perde o filho e se aproxima do (acidental) assassino para tentar conviver com a dor, Nicole Kidman valoriza cada palavra do texto com uma performance de desamparo comovente e sem pieguismo.
Por sua vez, Aaron Eckhart - interpretando o pai (Howie) - compõe, junto com Nicole, o casamento de forças contrárias, porém complementares: a fúria e a apatia; o movimento e o repouso. É no equilíbrio destas potências - com cada um vivendo o luto à sua maneira, mas contaminando às ações alheias - que John Cameron Micthell coloca o seu filme, cujo roteiro trabalha com aquela tragédia que mais parece ferrugem: vai roendo aos poucos (e por dentro) cada um dos envolvidos.
Em nenhum momento as personagens parecem querer superar a dor, pelo contrário - afinal, como superar a morte de um filho? - elas tentam conviver e sobreviver na dor: ora com o perdão, ora com o rancor que a tudo invadem, levando-as a criar muletas salvadoras: a tal Rabbit hole - bolhas íntimas forjadamente protetoras: vulneráveis a qualquer vento mais forte.
Nestes nossos tempos em que é proibido sofrer, Rabbit hole (adaptação da peça de David Lindsay-Abaire) é lento e difícil como todo luto, mas necessário.

2 comentários:

Anônimo disse...

Davino,

Seu olhar sobre o filme me deixou curioso por saber se não há semelhanças com outros dois filmes, "A Liberdade é Azul" e "Anticristo", nessa relação do personagem com a perda.

Confio no seu crédito a Nicole Kidman porque é uma das poucas atrizes que sabem usar o olhar e a respiração para conduzir o ritmo da narrativa (Em "Os Outros", fiquei impressionado)

Estando numa ilha limitada em relação à produção de arte que circula no resto do país, fico esperando o link para download, se você tiver disponível.

Alberto.

Fabiana Farias disse...

Que texto lindo, Leo. Como sempre fico curiosíssima para ver os filmes que vc comenta.
Vc tinha que ter uma coluna no guia da semana!
Depois que eu assistir volto aqui!