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terça-feira, agosto 10, 2010

Sexo para ouvir

Desde que Rodrigo Faour verticalizou sua pesquisa (e interesse) sobre canção para o campo do sexo, somos brindados pelo seu ouvido atento, de quem coleciona e come música desde sempre, com raros objetos de desejo. De fato, Rodrigo exerce um papel fundamental e louvável, em um país que teima em esquecer sua história, no caso, sonora.

Depois de ter lançado o imprescindível livro História sexual da MPB, além de apresentar o programa de rádio e a séria de TV Sexo MPB, Rodrigo lança a coletânea de mesmo nome – Sexo MPB – com preciosidades que fazem despertar a libido de qualquer ouvinte afeito ao sabor do gesto cancional brasileiro: dengoso e malandro; solar e passional: tudo junto e agora.

Como a maioria das antologias, Sexo MPB tenta agradar diversos ouvidos e gostos, em uma mistura de ritmos que tem como ênfase o canto da hora da cama: o encontro dos corpos. Por isso, dias cinzentos de outono (as disjunções amorosas) convivem, tête-à-tête, com manhãs de luz (as conjunções afetivas). Aliás, a perspicácia do pesquisar está, justamente, em tornar tão convergentes diferentes miradas sobre as questões do corpo na canção: dar o mesmo tratamento a estilos e formas bem diversas.

As letras picantes e as melodias quentes (cheias de mormaço tropical) atravessam as 30 canções de Sexo MPB estimulando o interesse do ouvinte. Duplo, como dois corpos que se completam (se encaixam), o CD é dividido em “Canções sensuais”, em que o sexo é mais sugerido do que explícito, tratado com certa delicadeza – “Dois pra lá, dois pra cá”, na voz de Elis Regina; e em “Músicas safadinhas”, com o sexo exposto em sua malemolência (os famosos e gostosos “duplos sentidos”) e pletora de alegria – “Só gosto de tudo grande”, interpretada por Marinês, ou “Eu sou o cômico”, na voz de Zenilton; por exemplos.

Energias masculinas, femininas, neutras e demais se misturam e se devoram em uma festa (orgia) de sons e versos no ritmo dos corpos que curtem o barato total das canções. Em tempos de tanta caretice, quando as relações erótico-afetivas são cantadas em um tom que não chegam a afetar a pele das personagens, o trabalho de Rodrigo Fauor, em seu Sexo MPB, aponta que o sexo (a cantada que sanha e arranha o corpo) pede para ser lido, visto e ouvido naquilo que ele é: sexo, simples como fogo.

Texto publicado no jornal A União, em 31/07/2010

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

- Filme Natimorto – Baseado no livro homônimo, um mergulho vertiginoso.
- Filme Toy story 3 – O desempenho e o aproveitamento das personagens são comoventes: muito bem feitos.
- Filme Sex and the city 2 – Um desfile bacana de tipos e modas.
- Filme O bem amado – O clima criado pelo diretor é incrivelmente intenso e pesca o voyeur. Marco Nanini, como sempre, arrebenta.
- Peça O que eu gostaria de dizer – Um espetáculo de ator e diretor. Construções conscientes de personagens.
- Peça Fala comigo como a chuva – Proposta cênica interessante. Mas o texto se perde em atuações confusas.
- Peça Calígula – A entrega de Thiago Lacerda à personagem é surpreendente. Muito além de qualquer expectativa, que, no meu caso, era nenhuma.
- Peça O capitão e a sereia – Linda homenagem aos cavalos marinhos de nordeste.
- Exposição Sergio Rodrigues um designer dos trópicos – Excelente amostra da obra do nosso grande designer de móveis.
- Show TumTumTum (Déa Trancoso) – Confesso que não a conhecia: uma surpresa encantadora, tamanhas simplicidade e competência.
- Show Música de brinquedo (Pato Fu) – A banda conseguiu levar para o palco (trabalho ensandecido) a magia e sonoridades do disco de mesmo nome. Bravo!

5 comentários:

Iracema Alencar disse...

Gostei muito de sua resenha sobre o CD. Ao ler foi como se estivesse ouvindo-o. Abraço
Iracema Alencar

Iracema Alencar disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rodrigo Faour disse...

Linda resenha. Muito grato pela sua sensibilidade!

Bruno Lima disse...

Léo, estava aqui pensando comigo... espero um dia ter a mesma intimidade com o meu objeto de estudo que você demonstra ter com o teu.
Abraço
PS: perdeu o encerramento do simpósio com o Gustavo Bernardo, foi sensacional!

Déa Trancoso disse...

oi querido...
nós vamos lançar o livro com fotos do jequitinhonha, "esórias de luz", de Marcelo Oliveira, dia 31 de agosto, 19h, na Modern Sound (copacabana, 502D), com direito a pocket show de déa trancoso. te esperamos lá... beijo seu coração... déa.