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segunda-feira, novembro 16, 2009

Apontamentos: Canção e Memória III

Não é sem motivo que programas como "Por toda a minha vida" tenham tido grande sucesso de público. Parece que começamos a despertar para a urgência do resgate da história de nossa canção. Para tanto, é preciso unir infraestrutura, mão de obra e canais de divulgação dos objetos. A TV, pela penetração cultural e apelo de público, pode ser um espaço pelo qual a canção pode ser guardada e disponibilizada. Sem falar da internet, com o Youtube promovendo a redefinição da imagem do ídolo pelo próprio fã.
Mas há ainda a pouca pesquisa sobre, por exemplo, as capas de discos; a semiologia da canção (responsável por apontar o que existe por trás da máscara da baiana de Carmen Miranda); e a "cena" contextual de cada canção e/ou movimento (algo que filmes como "Palavra (en)cantada", "Dzi Croquettes", "Loki", "Coração vagabundo"... parecem querer dar conta). De fato, estes filmes cujos arcos narrativos se apóiam na pesquisa da memória, iluminam caminhos que devem ser percorridos. O estudo do contexto histórico não desmerece (ao contrário) a apreciação técnica.
A diversidade de materiais a serem trabalhados é incrível. Faz tempo que o mundo come do nosso "biscoito fino", como queria Oswald de Andrade. A caduca discussão de letra de música é poesia (o que entrava muitas pesquisas) não tem eco no dia a dia. O contato com a literatura acontece diariamente no Brasil através das letras das canções. E este acesso é descentrado. Ninguém precisa "autorizar", como ocorre em outras artes.
Obviamente, nem todo poeta é cancionista (e vice-versa). Há letras que não se sustentam (teoricamente) sem a melodia. Vinícius de Morais tinha consciência desta distinção. Na canção a poesia parece perder o "ranço" acadêmico. Obviamente, isso não ratifica o mito da espontaneidade na canção versus o preciosismo literário. A canção, tendo raiz na fala, possui um tremendo poder de persuasão. Isto porque as falas cotidianas instruem a canção: O rap é exemplo máximo disso.
Assim, a canção é a fixação de algo que se "perde" todo dia, quando falamos. Mais uma vez, estamos no campo da memória. Precisamos de políticas públicas que estimulem a guarda delas: da memória e da canção. Senão continuaremos dependendo dos bravos colecionadores particulares para termos acesso às obras (quem é pesquisador sabe da dificuldade). E não nos enganemos, a mobilidade e a multiplicidade dos suportes não implica concluir, necessariamente, que estamos guardando algo.

Texto publicado no Jornal A União 14/11/2009


Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:


= Dança Répertoire (Ballet de Lorraine) - Boa amostra dos trabalhos de Isadora Duncan, Martha Graham, William Forsythe e Maguy Marin.
= Dança (Not) a love Song (Alain Buffard) - Mídias bem trabalhadas.

= Dança Uma misteriosa Coisa, disse o E.E. Cummings + A dança do existir (Vera Mantero) - Absurdo!
= Dança ATP (Tamara Cubas) - Angustiante e revelador.

= Dança True (10 Artists Collective From Japan) - Muita tecnologia e pouco corpo.

= Dança Va, Vis (Norma Claire) - A boa dança como êxtase. Muito bom!

= Dança Embodied Voodoo Game (Cena 11) - Muita tecnologia por nada.

= Dança De-vir (Fauller/Cia Dita) - Bons movimentos e plasticidade, mas com repetições desnecessárias.

= Dança Influx Controls: I wanna be wanna be (Boyzie Cekwana) - Político ao extremo. Forte!
= Exposição Pierre et Gilles: A apoteose do sublime - Pequena mas importante mostra do trabalho desta dupla que une fotografia e pintura para tematizar, barrocamente, a religião e o sexo, entre outros elementos culturais. Até 17/01 no Oi Futuro-RJ.
= Filme (500) days of summer - Um dos melhores filmes do ano. Roteiro, música, tema... tudo atinge o máximo de resultado.
= Teatro Solidão nos campos de algodão - Muito grito, boa cenografia, interpretações regulares.

Um comentário:

William Rogério disse...

Gostei do blog, meu jovem!

Abração.