Para Patrice Pavis "o performer é antes de tudo aquele que está presente de modo físico e psíquico diante do espectador". A afirmação é bastante categórica, mas serve para ilustrar um olhar sobre a performance "I’m not here ou A morte do cisne" de André Masseno.
De fato, a coreografia "A morte do cisne" foi criada é 1907 por Michel Fokine para a bailarina clássica-romântica Anna Pavlova. De 2004, "I’m not here ou A morte do cisne" – assim, com duas opções de título para que o espectador escolha uma, ou não – é a tentativa feliz de escapar dos podres poderes que teimam em querer aprisionar o corpo em movimentos estanques. André é ninfa, cisne, Ana e Michel: macho e fêmea esboroados.
Tudo é muito branco. Branco que inspira pureza e verdade, mas também frio e palidez da morte. O trabalho abre com balões de ar brancos cobrindo o chão do espaço cênico, no que se sugere uma festa que aconteceu, ou acontecerá. A dúvida cobre nosso olhar que é instante a instante desautomatizado pela presença física e psíquica do performer.
Dos balões que se enroscam no corpo em meio aos movimentos, aos outros que estouram enquanto Masseno tenta amarrá-los ao corpo, tudo é incerto e agônico. Porém, um bolo branco não deixa dúvidas de que estamos comemorando o aniversário da coreografia criada por Fokine para Pavlova. Há até um sacana "happy birthday" a la Monroe.
O espectador fica diante de um corpo cheio de informações, memórias fragmentadas e histórias conectadas com movimentos e pensares outros que não "apenas" os exigidos comumente tanto numa performance, quanto numa coreografia de balé clássico. O trânsito entre os movimentos corporais e sonoros e a palavra falada faz André Masseno repensar, adensar, e condensar referências e questionamentos que enriquecem sua obra.
Para se criticar algo é preciso conhecer o objeto alvo da crítica muito bem. Masseno enfrenta o desafio com rigor e apresenta uma homenagem que se confunde com uma revisão crítica. Quando ele questiona se o cisne em cena (apresentado por Pavlova) é o mesmo imaginado por Fokine, ele tenciona todo um mecanismo histórico de efeito crítico e intervenção estética. Quem está em cena? "I’m not here" dá pistas.
Não há personagens. Em "I’m not here ou A morte do cisne" André Masseno põe na roda criativa uma pomba-gira branca que nos arranha com a agonia da dúvida entre ser e estar (n)aquilo que se é, que quer ser ou que forças estranhas determinam que seja.
Texto publicado no Jornal A União em 30/05/2009
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
Tudo é muito branco. Branco que inspira pureza e verdade, mas também frio e palidez da morte. O trabalho abre com balões de ar brancos cobrindo o chão do espaço cênico, no que se sugere uma festa que aconteceu, ou acontecerá. A dúvida cobre nosso olhar que é instante a instante desautomatizado pela presença física e psíquica do performer.
Dos balões que se enroscam no corpo em meio aos movimentos, aos outros que estouram enquanto Masseno tenta amarrá-los ao corpo, tudo é incerto e agônico. Porém, um bolo branco não deixa dúvidas de que estamos comemorando o aniversário da coreografia criada por Fokine para Pavlova. Há até um sacana "happy birthday" a la Monroe.
O espectador fica diante de um corpo cheio de informações, memórias fragmentadas e histórias conectadas com movimentos e pensares outros que não "apenas" os exigidos comumente tanto numa performance, quanto numa coreografia de balé clássico. O trânsito entre os movimentos corporais e sonoros e a palavra falada faz André Masseno repensar, adensar, e condensar referências e questionamentos que enriquecem sua obra.
Para se criticar algo é preciso conhecer o objeto alvo da crítica muito bem. Masseno enfrenta o desafio com rigor e apresenta uma homenagem que se confunde com uma revisão crítica. Quando ele questiona se o cisne em cena (apresentado por Pavlova) é o mesmo imaginado por Fokine, ele tenciona todo um mecanismo histórico de efeito crítico e intervenção estética. Quem está em cena? "I’m not here" dá pistas.
Não há personagens. Em "I’m not here ou A morte do cisne" André Masseno põe na roda criativa uma pomba-gira branca que nos arranha com a agonia da dúvida entre ser e estar (n)aquilo que se é, que quer ser ou que forças estranhas determinam que seja.
Texto publicado no Jornal A União em 30/05/2009
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Filme Fälscher, die (Os falsários) - IMPERDÍVEL!!!
= Filme Star Trek - Efeitos e roteiro em perfeito equilíbrio.
= Filme Synecdoche, New York - Philip Seymour Hoffman somatiza nova Iorque com todas as repercussões que isso pode ter. Total esboroamento de arte e vida do personagem.
= Filme X-Men origins: Wolverine - Um belo presente para os fãs do personagem.
= Exposição Legado Sagrado - Excelente oportunidade para ver o trabalho etnográfico e artístico de reconstituição da história dos índios norte-americanos feito por Edward Curtis. Caixa Cultural RJ até 28/06.
= Show Os Matutos - Pesquisa sobre chorinho e canção é incrivelmente bem utilizada pelo grupo.
= Show Revirão (Jorge Mautner) - Um prazer imenso ouvir as canções e filosofia deste grande pensador da nossa cultura na canção.
= Show Orquestra Contemporânea de Olinda - Ótimo trabalho de percussão e pesquisa. Destaque para o "possuído" Gilú.
= Peça Quebra-quilos - Ótimo trabalho engajado do Coletivo de Teatro Alfenim sobre fatos da história do interior da Paraíba. É sempre muito bom ver Sôia Lira em cena.
= Filme Star Trek - Efeitos e roteiro em perfeito equilíbrio.
= Filme Synecdoche, New York - Philip Seymour Hoffman somatiza nova Iorque com todas as repercussões que isso pode ter. Total esboroamento de arte e vida do personagem.
= Filme X-Men origins: Wolverine - Um belo presente para os fãs do personagem.
= Exposição Legado Sagrado - Excelente oportunidade para ver o trabalho etnográfico e artístico de reconstituição da história dos índios norte-americanos feito por Edward Curtis. Caixa Cultural RJ até 28/06.
= Show Os Matutos - Pesquisa sobre chorinho e canção é incrivelmente bem utilizada pelo grupo.
= Show Revirão (Jorge Mautner) - Um prazer imenso ouvir as canções e filosofia deste grande pensador da nossa cultura na canção.
= Show Orquestra Contemporânea de Olinda - Ótimo trabalho de percussão e pesquisa. Destaque para o "possuído" Gilú.
= Peça Quebra-quilos - Ótimo trabalho engajado do Coletivo de Teatro Alfenim sobre fatos da história do interior da Paraíba. É sempre muito bom ver Sôia Lira em cena.
3 comentários:
aonde vc viu o cisne?
Não entendi a do cisne, não ví nenhum. Mas já viu crepusculo é o maximo.
Eita, Quebra-quilos caminhando pelo Brasil! Mui bueno!!
:**
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