A maioria dos trabalhos acadêmicos fica restrita a um pequeno número de leitores, seja porque os assuntos são tratados de forma hermética demais e não encontra mercado, seja pela falta de divulgação destes trabalhos. Felizmente alguns conseguem sair dos muros acadêmicos. É o caso da tese de doutorado defendida por Lúcia Facco, sob o título "Era uma vez um casal diferente: a temática homossexual na educação literária infanto-juvenil" que acaba de ser lançada em livro.
Para quem ainda não conhece, Lúcia Facco é autora de "As Heroínas Saem do Armário" – sua dissertação de mestrado. O livro analisa cinco "romances lésbicos", e aponta que, diferente de ser uma subliteratura, tais textos são "paraliteratura", devido à marginalização imposta a eles. Outro livro publicado pela autora é "Lado B: História de Mulheres". Coletânea de contos com histórias inteligentes e sutis de mulheres que vivem seus amores por outras mulheres sem levantar bandeira e sem culpa.
Voltando ao lançamento de agora, em "Era uma vez um casal diferente" Facco discute, entre outras coisas, os (des)compromissos dos currículos escolares, que tendem a padronizar os alunos. A autora investiga tanto os cânones literários, quanto os livros paradidáticos utilizados especificamente nas aulas de literatura. Ela traça já nos primeiros capítulos o percurso das práticas de controle do sexo e sua repercussão.
Discutir um tema ainda polêmico e direcioná-lo a um público "em formação", quando, na maioria das vezes, são os educadores que precisam de educação, não deve ter sido tarefa fácil. Um projeto de peso e fôlego realizado por alguém que trabalha no ramo. A forma romântica com que Lúcia Facco direciona seu trabalho e a apresentação de uma ética quase perdida em nossos dias conseguem quebrar barreiras prováveis sobre o tema. "Dar às pessoas a oportunidade de conhecer mais a necessidade de mudar as relações de poder e dominação" é o objeto esperado e provavelmente alcançado.
Se em "As Heroínas Saem do Armário" Lúcia Facco criou uma personagem, na tese, agora livro, ela usa a primeira pessoa correndo todos os riscos. Talvez porque, como ela mesma expressou, "não dava para se colocar de fora daquilo que estava defendendo". Assisti à defesa da tese de Facco e aguardei que o trabalho merecidamente fosse lançado em livro. Não perdi por esperar. Excelente leitura para educadores - professores e pais.
Texto publicado no Jornal A União em 16/05/2009
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Filme Se, jie (Desejo e perigo - Ang Lee) - A fotografia e o roteiro (mesmo longo demais) confirmam como Ang Lee é um grande diretor.
= Filme He's just not that into you (Ele não está tão a fim de você - Ken Kwapis) - Mais um filme de autoajuda e engraçadinho cheio de atores conhecidos.
= Exposição Ser Jovem na França - As sequências de Elina Brotherus (O espelho) e de Laurent Van Der Stockt (Os jovens) são o melhor desta exposição que esteve em cartaz na Caixa Cultural.
= Dança Mediatriz (Núcleo de Criação do Dirceu) - Proposta interessante, apesar de ter atos que parecem ainda em construção e precisam ser melhorados no resultado.
= Instalação Mono (Núcleo de Criação do Dirceu) - O público passeava entre espaços distintos que abrigavam três bailarinos nus. A intenção de estranhamento é alcançada tanto pelos objetos utilizados, quanto pelas atuações.
2 comentários:
Olá, querido.
Já li e amei!
Muito obrigada.
Beijos mil.
Leo, que interessante saber que vc escreveu uma crítica do livro de Lucia Facco.
Soube do lançamento dele na livraria do Rio Sul. Pena que não pude ir para apanhar autógrafo!
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