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sexta-feira, dezembro 12, 2008

André Masseno

A discussão sobre qual é a dose de ficção no real e vice-versa é algo que sempre gera muita controvérsia. Ainda mais em um contexto em que a tecnologia cada vez mais interfere nas narrativas e na arte. Os textos autobiográficos ou autoficcionais proliferam, a arte performática ganha força, com manifestação soberana do livre-arbítrio. Ao encontro disso os limitem que separam um gênero artístico de outro são cada vez mais tênues e os críticos encontram cada vez mais dificuldades para analisá-los ou defini-los.
De fato, como ressaltou o cineasta Peter Greenaway, semana passada no Rio de Janeiro, os performers, como pintores sensibilizados com o cenário ao redor, conseguem agir no cruzamento entre o compromisso criador ficcional e a clara consciência da dimensão psicológica. A aproximação entre performance e artes plásticas vem da certeza de que nem uma das duas se preocupam com o público. Ou seja, durante a sua existência, ambas existem como um todo fechado, com começo, meio e fim.
Assim, chamo atenção para a obra de André Masseno, artista contemporâneo que sabe trabalhar com humor e crítica uma arte em permanente auto-(re)visão. Seu trabalho une informação visual e a palavra escrita, questionando o cotidiano real.
Em seu recente espetáculo “Outdoor Corpo Machine”, por exemplo, ele aprofunda sua pesquisa sobre movimento e gênero. Tematiza e tenciona as imagens midiáticas do corpo masculino e em dado momento da performance seu corpo apresenta as várias possibilidades de posições do boneco Ken (aquele da Barbie). Masseno não representa nenhuma personagem, apresenta ele mesmo, seu humor e seu intenso desejo de ir fundo nas coisas, com sua experiência enquanto indivíduo e artista queer. Sabedor de que nenhum resumo dá conta da vida, ele faz de sua apresentação um todo instantâneo.
Para o crítico Pierre Restany o “fetichismo da ação [comum em nossos dias] se inscreve na perspectiva lógica de um procedimento extremista, tanto mais desejosa de ir ao fundo das coisas quanto se proíbe qualquer compromisso criador mais clássico em paralelo”.
André Masseno vem desenvolvendo um instigante projeto de se despir em cena para questionar o instantâneo da vida. Ele entende que não há um repertório exterior ao performer, além da sua própria percepção da pluralidade da vida e sabe usar isso muito bem.

Texto Publicado no Jornal A União-PB 29/11/2008

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Musical A Noviça Rebelde – Maravilhoso!
= Exposição O Barroco no Popular e o Popular no Barroco – Mostra com muito bom gosto o período histórico e as ressonâncias do Barroco no Brasil. Imperdível! Caixa Cultural-RJ.
= Encontro Internacional de Palhaços Anjos do Picadeiro 7 – Boa mostra de como a arte do riso inocente (as vezes nem tanto) sobrevive.

2 comentários:

Café Solilóquio disse...

Confesso que meu banco de dados é um pouco limitado dentro desse universo tão vasto que é a dança contemporanea- A única experiencia que tive foram as peças da fabulosa DENISE STOKLOS.Ou seja:mais teatrais e menos dançantes. Ficarei atento aos próximos trabalhos desse ator-dançarino. Alis eu quase vi um trabalho dele chamado I`M NOT HERE- acho que foi esse o nome ( igual ao filme do Bob Dylan).

Anônimo disse...

Olá Leonardo,

Muito boas as matérias sobre seu blog... fiquei a fim de conhecer melhor o trabalho de André Masseno e vou comprar o CD do Tomzé... Um tipo de crítica que faz a gente ter vontade de conhecer os trabalhos comentados... Mandou bem!

Abraços e parabéns!

Victor