Depois de Estudando o samba (1976) e Estudando o pagode (2005), Tom Zé aproveita as comemorações dos 50 anos da Bossa Nova e acaba de lançar seu disco assumidamente mais cantável: Estudando a bossa – Nordeste Plaza.
Nesse trabalho, ele dá seqüência ao uso da fusão entre consciência política e experimentação estética, aliado ao deboche “incorreto”, característico de suas composições. De fato seu trabalho é uma “obra aberta”, ou melhor, in progress.
Estudando a bossa, faz um passeio por referências ao contexto histórico do “surgimento” do movimento. Passa pela histórica gravação de “Chega de saudade” feita por Elizeth Cardoso. E deságua nos desdobramentos pós Bossa Nova.
Não é preciso dizer que a batida do violão de João Gilberto atravessa todo o disco. Um disco limpo, sem os ruídos e desperdícios comuns à música “doideca” de Tom Zé. Ele buscou a sofisticação e clareza típica do estilo sob estudo. Mas engana-se quem pensa que é um disco fácil. Há inúmeras referências, ora claras, como quando ele cita diretamente fatos ou personagens, ora obscuras, como quando faz reminiscência a trechos e acontecimentos. Enfim, tudo que foi base para o surgimento daquela estética.
O “barquinho” de Bôscoli & Menescal é substituído pelo “vapor de cachoeira” que não navega mais no mar e aparece no cancioneiro popular da Bahia. Aliás, Tom Zé sugere que se a Bossa Nova surgiu com o “ventríloquo” João Gilberto, foi Mãe Menininha quem a amamentou, e faz a ponte do Bonfim à Guanabara. Obalalá. Bela aula sobre como as curvas do Rio de Janeiro inspiraram poetas, músicos e arquitetos da época.
Mas Tom Zé não “rende graças”, ao contrário, destrona o cânone. Ironiza na canção “O Céu Desabou” todo o rebuliço que o movimento causou, e lembra que se a Bossa Nova atraiu os olhos do mundo para o Brasil, o país continua a ter Buenos Aires como capital. Versa sobre temas caros aos bossanovistas como o sol, a praia e o mar. Esboça o “quase silêncio” característico das interpretações de João Gilberto, o “cara do bim bom”. E, se nas canções o amor ainda era interdito, apesar da Bossa Nova ter tentado romper com a “fossa” e os bolerões, tratando de temas solares, hoje, nas letras de Tom Zé, o amor manda recado por email.
Aparentemente longe de seu processo criativo, Tom Zé aprofunda seus estudos sobre nossa música. É o bárbaro estudando o fino, antropofagicamente, na eterna e lenta luta.
Texto Publicado no Jornal A União-PB 15/11/2008
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Filme Ensaio sobre a cegueira – Boa adaptação para o texto de Saramago. Um tanto holywoodiano demais, mas com resultado bacana.
Estudando a bossa, faz um passeio por referências ao contexto histórico do “surgimento” do movimento. Passa pela histórica gravação de “Chega de saudade” feita por Elizeth Cardoso. E deságua nos desdobramentos pós Bossa Nova.
Não é preciso dizer que a batida do violão de João Gilberto atravessa todo o disco. Um disco limpo, sem os ruídos e desperdícios comuns à música “doideca” de Tom Zé. Ele buscou a sofisticação e clareza típica do estilo sob estudo. Mas engana-se quem pensa que é um disco fácil. Há inúmeras referências, ora claras, como quando ele cita diretamente fatos ou personagens, ora obscuras, como quando faz reminiscência a trechos e acontecimentos. Enfim, tudo que foi base para o surgimento daquela estética.
O “barquinho” de Bôscoli & Menescal é substituído pelo “vapor de cachoeira” que não navega mais no mar e aparece no cancioneiro popular da Bahia. Aliás, Tom Zé sugere que se a Bossa Nova surgiu com o “ventríloquo” João Gilberto, foi Mãe Menininha quem a amamentou, e faz a ponte do Bonfim à Guanabara. Obalalá. Bela aula sobre como as curvas do Rio de Janeiro inspiraram poetas, músicos e arquitetos da época.
Mas Tom Zé não “rende graças”, ao contrário, destrona o cânone. Ironiza na canção “O Céu Desabou” todo o rebuliço que o movimento causou, e lembra que se a Bossa Nova atraiu os olhos do mundo para o Brasil, o país continua a ter Buenos Aires como capital. Versa sobre temas caros aos bossanovistas como o sol, a praia e o mar. Esboça o “quase silêncio” característico das interpretações de João Gilberto, o “cara do bim bom”. E, se nas canções o amor ainda era interdito, apesar da Bossa Nova ter tentado romper com a “fossa” e os bolerões, tratando de temas solares, hoje, nas letras de Tom Zé, o amor manda recado por email.
Aparentemente longe de seu processo criativo, Tom Zé aprofunda seus estudos sobre nossa música. É o bárbaro estudando o fino, antropofagicamente, na eterna e lenta luta.
Texto Publicado no Jornal A União-PB 15/11/2008
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Filme Linha de passe – Walter Salles encontrou o tom mais que perfeito, aliado a fotografia e atuações ímpares, para apresentar o avesso de nossas questões nacionais.
= Filme Baby Love – Um bom filme-pipoca-gay. Dentro do melhor "padrão hétero" de enguadrar as relações homoafetivas, o filme traz bons temas para discussão.= Filme Ensaio sobre a cegueira – Boa adaptação para o texto de Saramago. Um tanto holywoodiano demais, mas com resultado bacana.
= Livro Tim Maia, O som e a fúria – Nelson Motta narra com muito humor as loucuras do saudoso e grande Tim Maia. E é por isso que vale a leitura: pelo personagem.
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