Vastos são os recursos imagéticos que o interior do Nordeste, em especial da Paraíba, empresta ao cinema feito pelo diretor Guel Arraes. Seja como cenário para roteiros versando sobre as intermitências do sertão (“Auto da compadecida”), seja pela paisagem natural. Desta vez temos a oportunidade de ver o deslumbrante “Lajedo de Pai Mateus”, formação rochosa de Cabaceiras-PB, em “Romance”, novo filme de Arraes.
O filme apresenta a história de um diretor de teatro, Pedro (Wagner Moura), que se apaixona por Ana (Letícia Sabatella), uma atriz que escolhe para viver o papel de Isolda, da lenda “Tristão e Isolda”. O conflito começa quando, pelo sucesso no teatro, Ana vira “estrela de TV”. Anos mais tarde, Pedro cria um especial-de-fim-de-ano para a TV, sobre a lenda celta, tendo a paisagem paraibana como cenário.
A sempre atual discussão sobre as diferenças entre representar na TV, no teatro e, claro, no cinema é uma das questões centrais que atravessam o filme. Ponto resumidamente bem tensionado pela personagem de Andréa Beltrão (empresária de Ana) quando pergunta: "por que representar para 300 pessoas, se você pode representar para 30 milhões?".
A outra questão que direciona o roteiro passa sobre a representação do amor na dramaturgia e na vida real. É assim que Pedro e Ana tentam encontrar uma nova forma de amar, menos trágica e mais livre. Mas sem perder a emoção. Lançando-se na dialética da paixão imortal versus representação amorosa.
“Romance” se estrutura a partir de citações, referências e colagens de outras obras. Porém, se noutros filmes do diretor era possível identificar um “fôlego barroco” a partir de imagens sobrepostas e de filmes-dentro-do-filme, agora os artifícios intertextuais partem de textos literários e suas interpretações. Arraes alicerça o discurso das personagens dialogando com “Romeu e Julieta” e “Cyrano de Bergerac”, entre outros, decisivos para a construção do imaginário do amor romântico.
O resultado impressiona, não apenas por materializar os diálogos entre tais textos, mas por fazê-lo numa linguagem acessível para qualquer público. Se nos primeiros minutos do filme tudo soa como um vídeo-clip para o tema da ópera “Tristão e Isolda”, do compositor Richard Wagner, as teses levantadas ao longo do filme rendem boas discussões sobre o amor nos dias atuais, sem se perder nas falsas e fãs representações.
Texto Publicado no Jornal A União-PB 18/10/2008
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Show Marina Lima & Banda – A qualidade do som dos shows de Marina continua impecável e sempre atualizada.
= Show Ana Canãs – Ela tem excelente presença de palco e certa competência vocal. Precisa apenas encontrar um estilo próprio e exagerar menos no prolongamento de algumas notas.
= Exposição Corpo Humano Real e Fascinante – Inquietante e assustadora. Museu Histórico Nacional-RJ.
= Exposição Arte e Música – Maravilha de ver como a música pode estar conectada com outras linguagens artísticas. Caixa Cultural-RJ.
= Dança Ritornelo – Dentre todos os espetáculos de dança que já vi, este é o melhor. A consciência técnica e corporal dos bailairinos impressiona. A coreografia dialoga com o que há de mais atual na filosofia e literatura.
= Lendo História Sexual da MPB – Trabalho de fôlego que Rodrigo Faour desenvolveu sobre a evolução do amor e do sexo na nossa música popular. Estou devorando o livro e suas quase 600 páginas, com sua escrita acessível.
= Espetáculo Vida e Morte de Eloá – Desculpem, mas com a espetacularização do fato, com um enterro que a mídia quase comparou ao de Ayrton Senna e com camisas sendo vendidas com o rosto da jovem a R$15... Isto é ou não é um espetáculo?
A sempre atual discussão sobre as diferenças entre representar na TV, no teatro e, claro, no cinema é uma das questões centrais que atravessam o filme. Ponto resumidamente bem tensionado pela personagem de Andréa Beltrão (empresária de Ana) quando pergunta: "por que representar para 300 pessoas, se você pode representar para 30 milhões?".
A outra questão que direciona o roteiro passa sobre a representação do amor na dramaturgia e na vida real. É assim que Pedro e Ana tentam encontrar uma nova forma de amar, menos trágica e mais livre. Mas sem perder a emoção. Lançando-se na dialética da paixão imortal versus representação amorosa.
“Romance” se estrutura a partir de citações, referências e colagens de outras obras. Porém, se noutros filmes do diretor era possível identificar um “fôlego barroco” a partir de imagens sobrepostas e de filmes-dentro-do-filme, agora os artifícios intertextuais partem de textos literários e suas interpretações. Arraes alicerça o discurso das personagens dialogando com “Romeu e Julieta” e “Cyrano de Bergerac”, entre outros, decisivos para a construção do imaginário do amor romântico.
O resultado impressiona, não apenas por materializar os diálogos entre tais textos, mas por fazê-lo numa linguagem acessível para qualquer público. Se nos primeiros minutos do filme tudo soa como um vídeo-clip para o tema da ópera “Tristão e Isolda”, do compositor Richard Wagner, as teses levantadas ao longo do filme rendem boas discussões sobre o amor nos dias atuais, sem se perder nas falsas e fãs representações.
Texto Publicado no Jornal A União-PB 18/10/2008
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Show Marina Lima & Banda – A qualidade do som dos shows de Marina continua impecável e sempre atualizada.
= Show Ana Canãs – Ela tem excelente presença de palco e certa competência vocal. Precisa apenas encontrar um estilo próprio e exagerar menos no prolongamento de algumas notas.
= Exposição Corpo Humano Real e Fascinante – Inquietante e assustadora. Museu Histórico Nacional-RJ.
= Exposição Arte e Música – Maravilha de ver como a música pode estar conectada com outras linguagens artísticas. Caixa Cultural-RJ.
= Dança Ritornelo – Dentre todos os espetáculos de dança que já vi, este é o melhor. A consciência técnica e corporal dos bailairinos impressiona. A coreografia dialoga com o que há de mais atual na filosofia e literatura.
= Lendo História Sexual da MPB – Trabalho de fôlego que Rodrigo Faour desenvolveu sobre a evolução do amor e do sexo na nossa música popular. Estou devorando o livro e suas quase 600 páginas, com sua escrita acessível.
= Espetáculo Vida e Morte de Eloá – Desculpem, mas com a espetacularização do fato, com um enterro que a mídia quase comparou ao de Ayrton Senna e com camisas sendo vendidas com o rosto da jovem a R$15... Isto é ou não é um espetáculo?
6 comentários:
Oi Leo, ótimas referências nesse post. Parabólica cultural esse teu blog =D
Concordo sobre a exploração sem limites da mídia no caso de Eloá. No mínimo grotesco tudo isso.
@br@ço!
Esse filme promete! Como sempre, ao vir aqui, tenho vontade de devorar td q vc digita... Mas Eloá, que Deus a tenha, nao merecia um castigo tao infame assim, teve realmente um espetaculo desnecessario, fora do tom. Nao sabia nem das camisetas... Aaaaaahh ng merece isso.
Leo, assim que possível comente também esse livro que pretendi agora devorar.
Não é de hoje que a catarse criminal mobiliza à parcela conservadora do zé povinho: espetaculização sobre crimes fazem sucesso desde a era do rádio.
No entanto.......
.... aguardo um Chico Buarque policial escrever algo como que a Roda Vida da bandidagem. Algo sobre os mecanismos sociais que levam sanguinolentas histórias escabrosas a provocar orgasmos públicos.
Abraços!
Um país vazio como nosso, adora espetáculos de morte e tortura. Não me espantou mais um... afinal o casal Nardoni & Jatobá já estão presos mesmo. Em Vigiar e Punir Foucault, segundo Juarez Cirino dos Santos descreve "a história do
poder de punir como história da prisão, cuja instituição muda o estilo penal, do suplício do corpo da época medieval para a utilização do tempo no
arquipélago carcerário do capitalismo moderno. Assim, demonstrando a natureza política do poder de punir, o suplício do corpo do estilo medieval (roda, fogueira etc.) é um ritual público de dominação pelo terror: o objeto da pena criminal é o corpo do condenado, mas o objetivo da pena criminal é a massa do povo, evocado para testemunhar a vitória do soberano sobre o criminoso, o rebelde que ousou desafiar o poder.O processo medieval é
inquisitorial e secreto: uma sucessão de interrogatórios dirigidos para a confissão, sob juramento ou sob tortura, em completa ignorância da acusação
e das provas; mas a execução penal é pública, porque o sofrimento do
condenado, mensurado para reproduzir a atrocidade do crime, é um ritual político de controle social pelo medo." Estaremos entrando em uma nova era medieval pós-contemporânea? Parabéns sempre pelo blog e fiquei com vontade de ver o filme, mesmo!
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