O desenvolvimento da performance como modalidade artística se deu durante a década de 1960 e é exatamente neste período que Ney de Souza Pereira estava iniciando suas intervenções na arte brasileira. Na década seguinte o teríamos como Ney Matogrosso e líder, em uma figura híbrida única, do grupo Secos e molhados – de vida (infelizmente) curtíssima, mas, sem dúvida, decisiva para o conceito performático que acompanharia Ney para sempre.
Ele sabe como ninguém causar controvérsia. Seja pela carga erótica com que alimenta suas apresentações, seja pela excelência nas escolhas de seu repertório musical, seja pela figura e voz inclassificáveis.
Importante sempre lembrar que muitos dos comportamentos tidos como modernos de alguns artistas de hoje rendem graças às portas escancaradas por ele.
Mesmo quando se dedica a (re)interpretar clássicos do cancionista nacional, como Cartola e Noel Rosa, não raro vestido de terno, ainda assim podemos identificar o desejo de criar uma persona, que possa melhor “traduzir” a mensagem que o artista quer transmitir.
Agora ele nos presenteia com o disco Inclassificáveis. São 16 músicas, majoritariamente inéditas, extraídas do roteiro do espetáculo de mesmo nome. No show ele mostra que, se “o tempo não pára” – canção que abre (quase aos berros) o disco –, os 66 anos de idade não afetaram nem sua voz nem a persona sexual carregadas de signos diversos.
A “entidade performática” criada por Ney Matogrosso, em seu novo trabalho, percebe, como homem contemporâneo, que é um homem, um bicho, uma mulher. Tudo ao mesmo tempo e agora. Ele é ainda febre que queima, o novo, o antigo, o que não tem tempo... como sugere a faixa “Mal Necessário” (Mauro Kwitko), regravação de faixa de seu disco Feitiço, de 1978.
O próprio nome do cd dá o tom e as pistas do que o ouvinte terá: letras que têm as perguntas ontológicas do ser como mote. Arnaldo Antunes, na música que dá nome ao disco, sugere “somos inclassificáveis”. Já o rock de Cazuza, Ezequiel Neves e Frejat pergunta “por que a gente é assim?” E a canção “Leve” (Iará Rennó e Alice Ruiz), aponta que “viver ou morrer / é o de menos / a vida inteira pode ser / qualquer momento / ser feliz ou não / questão de talento”.
As incertezas deste homem contemporâneo estão ainda presentes na regravação de “Novamente” (Fred Martins e Alexandre Lemos). “Quem sabe o que se dá em mim? / Quem sabe o que será de nós? / O tempo que antecipa o fim / Também desata os nós”, diz a letra.
“Coragem, Coração” (Cláudio Monjope e Carlos Rennó), talvez seja a letra mais objetiva dentre todas as outras, com sua temática sobre universo virtual e fakes. Cabe ressaltar ainda as brilhantes interpretações de “Ode aos Ratos” (Chico Buarque e Edu Lobo) e “Divino Maravilhoso” (Caetano Veloso e Gilberto Gil), que fecha o disco. Aliás, nada mais apropriado para um disco com esta temática do que o imperativo tropicalista “é preciso estar atento e forte”. Mas, sem dúvida, “Veja bem, meu bem” (Marcelo Camelo), que já havia sido gravada por Maria Rita, ganha uma interpretação ímpar e definitiva.
Ney Matogrosso manda, provoca, instiga e estimula o pensar sobre a (in)certeza de que somos inclassificáveis e de natureza mutante. Sem deixar de seguir o seu “Lema” (Carlos Rennó e Lokua Kanza) de “envelhecer com a mente sã, se renovando dia a dia, a cada manhã, tendo prazer” e “nem dar de não ‘se’ maravilhar, diante do mar e do céu da vida”, “perto de ser um Deus e certo de ser mortal”.
O cd não sai do disc play.
Importante sempre lembrar que muitos dos comportamentos tidos como modernos de alguns artistas de hoje rendem graças às portas escancaradas por ele.
Mesmo quando se dedica a (re)interpretar clássicos do cancionista nacional, como Cartola e Noel Rosa, não raro vestido de terno, ainda assim podemos identificar o desejo de criar uma persona, que possa melhor “traduzir” a mensagem que o artista quer transmitir.
Agora ele nos presenteia com o disco Inclassificáveis. São 16 músicas, majoritariamente inéditas, extraídas do roteiro do espetáculo de mesmo nome. No show ele mostra que, se “o tempo não pára” – canção que abre (quase aos berros) o disco –, os 66 anos de idade não afetaram nem sua voz nem a persona sexual carregadas de signos diversos.
A “entidade performática” criada por Ney Matogrosso, em seu novo trabalho, percebe, como homem contemporâneo, que é um homem, um bicho, uma mulher. Tudo ao mesmo tempo e agora. Ele é ainda febre que queima, o novo, o antigo, o que não tem tempo... como sugere a faixa “Mal Necessário” (Mauro Kwitko), regravação de faixa de seu disco Feitiço, de 1978.
O próprio nome do cd dá o tom e as pistas do que o ouvinte terá: letras que têm as perguntas ontológicas do ser como mote. Arnaldo Antunes, na música que dá nome ao disco, sugere “somos inclassificáveis”. Já o rock de Cazuza, Ezequiel Neves e Frejat pergunta “por que a gente é assim?” E a canção “Leve” (Iará Rennó e Alice Ruiz), aponta que “viver ou morrer / é o de menos / a vida inteira pode ser / qualquer momento / ser feliz ou não / questão de talento”.
As incertezas deste homem contemporâneo estão ainda presentes na regravação de “Novamente” (Fred Martins e Alexandre Lemos). “Quem sabe o que se dá em mim? / Quem sabe o que será de nós? / O tempo que antecipa o fim / Também desata os nós”, diz a letra.
“Coragem, Coração” (Cláudio Monjope e Carlos Rennó), talvez seja a letra mais objetiva dentre todas as outras, com sua temática sobre universo virtual e fakes. Cabe ressaltar ainda as brilhantes interpretações de “Ode aos Ratos” (Chico Buarque e Edu Lobo) e “Divino Maravilhoso” (Caetano Veloso e Gilberto Gil), que fecha o disco. Aliás, nada mais apropriado para um disco com esta temática do que o imperativo tropicalista “é preciso estar atento e forte”. Mas, sem dúvida, “Veja bem, meu bem” (Marcelo Camelo), que já havia sido gravada por Maria Rita, ganha uma interpretação ímpar e definitiva.
Ney Matogrosso manda, provoca, instiga e estimula o pensar sobre a (in)certeza de que somos inclassificáveis e de natureza mutante. Sem deixar de seguir o seu “Lema” (Carlos Rennó e Lokua Kanza) de “envelhecer com a mente sã, se renovando dia a dia, a cada manhã, tendo prazer” e “nem dar de não ‘se’ maravilhar, diante do mar e do céu da vida”, “perto de ser um Deus e certo de ser mortal”.
O cd não sai do disc play.
Um comentário:
Caro amigo, parabens por esta postagem em homenagem a Ney, sem dúvida nenhuma, um dos nossos maiores ícones da nossa cultura! Este cd/dvd/show "Inclassificáveis" é realmente inclassificavel! Tb escrevi algumas coisas sobre o Ney em meu blog, qdo puder, visite, grande abraco do Planalto Central pra vc!
Mister Teles
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