A Cia Corpos Nômades (SP) esteve no Rio para apresentar “Algum Lugar Fora do Mundo”. Sob direção e coreografia de João Andreazzi, o espetáculo propõe unir diversos segmentos da arte, como dança, teatro, vídeo, literatura e música. Já na abertura do espetáculo, que acontece já na sala de espera do teatro, o público entra no clima através da aproximação verbal e tátil com o elenco.
É sempre estimulante assistir a um espetáculo que usa o diálogo entre as diversas linguagens da arte como base criativa. Ainda mais quando no release afirma-se que os movimentos e atuações são inspirados em trechos das obras de Fernando Pessoa, Rimbaud, Baudelaire e Cocteau.
Porém, o que se vê é uma confusão de gêneros, sem um fio condutor que guie o espectador. Aliás, o público é convidado, por vezes intimado, a subir ao palco e entrar em cabanas de camping. Numa referência ao nome da encenação, em cada cabana – ou relicário, como diz o texto de apresentação –, acontecia um espetáculo particular. Algo realmente interessante, se fosse bem desenvolvido. Não foi o caso.
Para os que ficam na platéia, a impressão é de um amontoado de cenas isoladas que não resultam em um todo. A curtição fica só para os que entram nas cabanas e o curto espetáculo termina inesperadamente, com o público apreensivo sem saber se já era hora de aplaudir.
Não se sabe, ao final, qual é a proposta artística, apesar de se tratar de uma companhia de dança e algumas técnicas utilizadas neste campo serem realmente eficazes. Prova de quanto é complicado romper os limites que separam um gênero do outro.
Um espetáculo híbrido, tão caro a arte contemporânea, quando não é bem compreendido por quem o faz, resulta na perda do objeto e se esvai em simples sucessões aleatórias de cenas e imagens desconexas. E quando o objeto se perde, perde-se a arte.
O espectador-participante pode até fruir e deleitar-se na “vivência”, mas sairá do contato da mesma forma que entrou. Experimento artístico - justificativa comumente utilizada por muitos grupos para suas atuações - é o compromisso de ser sempre provisório e eternamente mutável, mas pautado na consciência e domínio das linguagens que se pretende dialogar. Desejo rever a Cia, que, pelo histórico, sempre procurou desenvolver um trabalho sério e de pesquisa.
Morreu esta semana o artista plástico Rubens Gerchman. Há 40 anos sua tela “A Bela Lindonéia”, também conhecida como “Gioconda do Subúrbio”, inspirou o bolero “Lindonéia”, composto por Caetano Veloso e Gilberto Gil e interpretado por Nara Leão, no disco-manifesto do movimento tropicalista.
“Lindonéia” faz referência à ditadura militar brasileira e às pessoas desaparecidas neste período. O olhar da moça na tela tenciona algo entre o susto e a irritação. "Um amor impossível - a bela Lindonéia - de 18 anos morreu instantaneamente".
Fica aqui o registro.
Aliás e a propósito, “Lindonéia” foi regravada agora, com novo arranjo, por Fernanda Takai (Pato Fu), em seu excelente disco solo "Onde brilhem os olhos seus". Vale a pena conferir!
Porém, o que se vê é uma confusão de gêneros, sem um fio condutor que guie o espectador. Aliás, o público é convidado, por vezes intimado, a subir ao palco e entrar em cabanas de camping. Numa referência ao nome da encenação, em cada cabana – ou relicário, como diz o texto de apresentação –, acontecia um espetáculo particular. Algo realmente interessante, se fosse bem desenvolvido. Não foi o caso.
Para os que ficam na platéia, a impressão é de um amontoado de cenas isoladas que não resultam em um todo. A curtição fica só para os que entram nas cabanas e o curto espetáculo termina inesperadamente, com o público apreensivo sem saber se já era hora de aplaudir.
Não se sabe, ao final, qual é a proposta artística, apesar de se tratar de uma companhia de dança e algumas técnicas utilizadas neste campo serem realmente eficazes. Prova de quanto é complicado romper os limites que separam um gênero do outro.
Um espetáculo híbrido, tão caro a arte contemporânea, quando não é bem compreendido por quem o faz, resulta na perda do objeto e se esvai em simples sucessões aleatórias de cenas e imagens desconexas. E quando o objeto se perde, perde-se a arte.
O espectador-participante pode até fruir e deleitar-se na “vivência”, mas sairá do contato da mesma forma que entrou. Experimento artístico - justificativa comumente utilizada por muitos grupos para suas atuações - é o compromisso de ser sempre provisório e eternamente mutável, mas pautado na consciência e domínio das linguagens que se pretende dialogar. Desejo rever a Cia, que, pelo histórico, sempre procurou desenvolver um trabalho sério e de pesquisa.
Morreu esta semana o artista plástico Rubens Gerchman. Há 40 anos sua tela “A Bela Lindonéia”, também conhecida como “Gioconda do Subúrbio”, inspirou o bolero “Lindonéia”, composto por Caetano Veloso e Gilberto Gil e interpretado por Nara Leão, no disco-manifesto do movimento tropicalista.
“Lindonéia” faz referência à ditadura militar brasileira e às pessoas desaparecidas neste período. O olhar da moça na tela tenciona algo entre o susto e a irritação. "Um amor impossível - a bela Lindonéia - de 18 anos morreu instantaneamente".
Fica aqui o registro.
Aliás e a propósito, “Lindonéia” foi regravada agora, com novo arranjo, por Fernanda Takai (Pato Fu), em seu excelente disco solo "Onde brilhem os olhos seus". Vale a pena conferir!
2 comentários:
Léo, resolvi ouvir o disco da Takai depois de ler sua crítica e ele é realmente muito bom! Eu já gostava dela no Pato Fu, mas seu disco solo está irreparável.
Abraços
Bruno, fico muito feliz que tenha gostado. O disco é realmente muito bom. Vale a pela divulga-lo.
Abraços
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