
Com autoria do jornalista paraibano Astier Basílio e Gustavo Paso e sob direção deste, a peça narra uma saga poética (começando pela marcante morte de seu pai), em que o jovem Ariano, interpretado pelo pernambucano Gustavo Falcão, segue em busca do Reino de Acauã, uma referência à Fazenda Acauã, onde o escritor nasceu, no interior da Paraíba.
Há uma reverência ao conjunto de criações do autor de O auto da compadecida, vemos o Ariano-personagem às voltas com seus adversários ou com suas criaturas de teatro e romance – quase todos retirados da admirável mitologia nordestina, sem esquecer do sebastianismo (Dom Sebastião é interpretado por Jorge Luís Cardoso), tão presente na obra do criador de Chicó (Ney Motta) e João Grilo (Maurício Baduh).
Misturando referências biográficas de Suassuna com personagens de sua obra, a peça segue a estrutura da Divina Comédia, de Dante Alighieri, com três atos, Sol (representando o inferno) Sangue (purgatório) e Sonho (paraíso).
Obviamente, uma peça com muitos atores – o talentoso Gustavo Falcão lidera um elenco de 14 atores, da Cia Epigenia Arte Contemporênea – tem lá uns personagens mal interpretados, mas nada que ofusque a totalidade e a magia criadas pelo texto, cenário e iluminação.
“A saída está na poesia” é uma frase sempre dirigida ao Ariano quando o personagem se encontra diante dos dilemas levantados, mais uma poética e metalingüística solução, encontrada pelos autores da peça, para homenagear o autor da frase:
“A gente tem uma tendência a querer que o tempo da história coincida com o tempo de nossa biografia. O progresso moral da Humanidade é muito lento.”
Fica registrado que há homenagens e Homenagens. Ariano é uma Homenagem apaixonada, inteligente – com todos os recursos intertextuais do texto e da encenação – e merecida, feita ao autor de A pedra do reino, o nosso Quixote sertanejo!