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quarta-feira, janeiro 09, 2013

O som ao redor



O som ao redor é um acontecimento cinematográfico! Porque ‘conta’ as histórias através de imagens, e sons; porque prima em criar climas a partir de contextos que chegam à naturalidade, quase despretensiosa, do cotidiano vazio; porque tem um roteiro cujas muitas pontas se tocam e se amarram, quase sem querer, querendo, eroticamente; porque suas personagens (seus atores) entendem e traduzem no corpo, na voz a estética (vida mais real) da expressividade hipermidiática da ausência de silêncio; porque é cruel, cru, duro, a partir da ironia em que o expectador se sente (des)confortável; porque pergunta se , de fato, estamos evoluindo, progredindo; porque não aponta ‘soluções’, foca nas tensões multifacetando as causas, efeitos e respostas; porque esmiúça sem pudor as microfísicas dos poderes; porque totemiza tabus; porque anda sobre o fio teso da pseudo troca de turno entre o coronelismo e a milícia, abordando a promiscuidade entre rural e urbano, individual e coletivo, ingênuo e sabido, simples e complexo; porque entende, quase desleixadamente, a não-imunização das relações atuais: explodindo esferas que se julgam fechadas (salvas) e no fundo se revelam espumosas, imbricadas; porque mostra que aquilo que se supunha unidade está contaminada até a medula por cenários simultâneos;  porque capta o Brasil braseiro; porque sabe que “a íris do olho de deus tem muitos arcos” e ‘mata’ Deus ao amplificar o humano demasiado humano; porque recupera pós-metafisicamente o pluralismo pré-metafísico das ficções do mundo; porque traduz à perfeição a virtualidade da hipermídia, a ampliação das unidades de sentido; porque entende a paranoia de se viver em esferas-espumas, sob a frequente presença – estimulante e entediante – do perigo.

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