Um teto de peixes multicoloridos feitos de garrafas plásticas recepciona os visitantes que chegam ao mezanino do Palácio Gustavo Capanema, onde tem lugar até o dia 10 de fevereiro a exposição Rio São Francisco - Um rio brasileiro.
Quatorze ambientes montam o interior do vapor Benjamin Guimarães, auxiliando na navegação de um dos rios mais cantado e importante do Brasil.
Desde "Mapa" e "A foz do rio", onde monóculos mostram algumas cidades que margeiam o Chico e um vídeo de Ronaldo Fraga explica a proposta da exposição, até "O Chico e o caixeiro viajante", feito com malas, uma velha cama suspensa - onde descansa uma roupa já usada - e vídeos, a multiculturalidade banhada pelo São Francisco é tematizada de diversas formas e meios, longe do didatismo chato.
A pujança e a agonia, o viço e a quase-morte do São Francisco e de sua gente - crenças, sabores e cantos - são lembrados tanto em "Lambe-lambe das lendas", quanto em "A voz do Chico", passando por "O gosto que o Chico tem" e "Cidades submersas".
No primeiro ambiente, o estilista Ronaldo Fraga arma ilustrações para as lendas que povoam a imagética ribeirinha. No segundo vestidos "falantes" (Maria Bethânia declamando Drummond) e abraçáveis despertam o afeto físico dos sons. "O gosto que o Chico tem" estetiza os mercados, seus cheiros e sabores. E "Cidades submersas" - talvez a instalação mais impactante visualmente - jogos de luz e sombra com espelhos, projeções e maquetes representam lugares já habitados e que cederam a vez às barragens.
Há ainda que se falar de "Memória e devoção", onde a religiosidade e a saudade estão acesas na parede repleta de fotos mal iluminadas (turvas como a memória) e nos ex-votos pendurados.
A interatividade também está presente quando o visitante é levado a desenhar na grande lousa circular que forma o ambiente 10 "De gota em gota se faz o mar" - um útero a lembrar que "dentro do mar tem rio" - e em "Pescaria".
Cada ambiente, peça, traço, bordado, trançado utiliza a cultura e busca fotografar a alma ribeirinhas. Ronaldo Fraga parece atento a cada pequeno gesto e gosto daquilo que compõe a mitologia do Chico.
A execução da exposição é digna de nota. Curador lúcido, o estilista impregna tudo com tons e cores necessários à produção de presença. Traduz e transfere signos para celebrar o (sempre) velho/novo Chico.
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