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segunda-feira, dezembro 14, 2009

A canção impura

Estudar a canção no Brasil é trabalhar com níveis de cultura que existiam separados e que em algum momento se combinaram. Torna-se importante analisar os (quase) aforismos, ora fragmentados, ora recolhidos em trechos completos e complexos das canções. Além do reconhecimento e da descrição de “influências” diversas, urge, para a compreensão das obras, entender o procedimento de hibridação em si, as estratégias adotadas para montagem da canção, tendo em vista a porosidade das fronteiras.
Tais pontos podem ser abordados quando pensamos a tradução que o artista efetua ao absorver as influências de fora – dos centros culturais hegemônicos –, como algo que não se opõe à suposta vulnerabilidade da cultura interna. Ou seja, não há absorção passiva, nem rigidez cultural, porém uma destreza em condensar em um produto (local) a tradição e as novidades. Isso vai além da misturas entre duas culturas pré-existentes. O artista entende que a incorporação do novo passa pela revisão total na estrutura da sua própria cultura, buscando novas perspectivas de/para a(s) herança(s).
Hibridizar é, portanto, desenvolver a competência para absorver o estrangeiro com olhar próprio, “devorar” o outro e introduzir na cultura interna o melhor – antropofagicamente. No caso da canção, absorver ritmos, técnicas melódicas, instrumentos, artifícios poéticos que possam promover a crítica do que é tido como local, de “raiz”, como fez o movimento da Tropicália, no final dos anos de 1960, e o Mangue Beat, nos anos 1990, por exemplo.
A “identidade cultural” está em permanente construção, para tristeza daqueles que defendem certa “pureza”. O mundo contemporâneo mostra cada vez mais que o passado deve ser incorporado e modificado com novos e estimulantes sentidos para a produção de cultura.
O fato é que só se tenta preservar aquilo que está se extinguindo. A revisão cultural não destrói, dá continuidade. Importa atentarmos para a mobilidade das questões e dos elementos do conhecimento, que estão sendo construídos permanentemente e não devemos ter medo de conhecer e relativizar “o que é nosso” e a nossa sensação de pertencimento de um lugar. A pós-modernidade nos ensinou que não há apenas um caminho para a história.


Texto publicado no Jornal A União 12/12/2009

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Show Margareth Menezes - Uma das coisas mais lindas que vi em 2009. Margareth arrebenta sem precisar exagerar em nada. Tudo é extremamente impactante: a voz, o som, a presença (força) física...
= Filme 2012 - Muita coisa mal realizada.

= Filme Atividade paranormal - Muito barulho por nada. Mais um filme sob a veia Big Brother.

= Filme Planeta 51 - Lindo!

= Peça Hiperativo - Mais um stand up comedy, só que com a assinatura de Paulo Gustavo (ator de "Minha mãe é uma peça"). Muito bom, dentro do que se propõe.

= Peça O despertar da primavera - As pessoas em cena parecem (e "atuam") muito mais como modelos do que como atores, mas (no todo) é um bonito espetáculo.

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