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segunda-feira, março 02, 2009

Presença de Milk e Vicente

A estreia do filme “Milk”, de Gus Van Sant, além de lembrar que depois de tantas lutas e algumas vitórias, as minorias ganharam mais espaço e voz, e que na busca de liberdade não há facilidades, também nos faz refletir sobre como esquecemos dos que realmente fizeram algo significativo por ela: a liberdade.
Harvey Milk (1930-1978) foi pioneiro ao relacionar a discussão dos direitos dos gays com, por exemplo, a luta pela igualdade entre brancos e negros, liderada por Martin Luther King. O filme apresenta o sacrifício de um homem convicto de que valia a pena lutar pelo direito à liberdade. Poucos de fato têm tamanho desprendimento e só pelo fato de no Brasil de hoje quase nada se conhecer da história de Milk, interpretado no filme por Sean Penn, valeria a pena ir ao cinema. Mas Van Sant, com a peculiaridade que lhe é devida, faz mais que isso. Ele recria uma época em que a efervescência cultural aliada a uma ingenuidade sedutora conseguia fazer a humanidade caminhar para frente.
À época de Milk, já vivíamos sob ditadura no Brasil, e a liberdade era aventada de forma clandestina. Numa dessas felizes coincidências, esteve em cartaz no Rio por estes dias a peça “O Assalto” (1969), de José Vicente. Nela, Victor rouba o banco onde trabalha e quer dar o dinheiro a Hugo, faxineiro do banco.
Haroldo Costa Ferrari e Fransérgio Araújo, ambos egressos do Teatro Oficina, encarnam respectivamente as personagens e emprestam o tom correto ao texto atualíssimo da peça, sob direção de Marcelo Drumonnd. O uso do poder como sedução, entrecortado por um tortuoso jogo de solidão e diferenças de classes, é o mote da peça, que pioneiramente trouxe aos palcos a questão gay naqueles anos de chumbo.
Mais preocupado em demonstrar a revolta contra o sistema e a hipocrisia, do que com a criatividade estrutural, José Vicente tematiza questões existenciais que parecem próximas às que motivaram, pelo avesso, as atitudes na vida pessoal de Harvey Milk. Assim, peça de José Vicente e o filme de Gus Van Sant nos lançam esperança quando sabemos que a luta por liberdade parece não ter fim, certos de que a presença intelectual dos dois acompanha qualquer discussão sobre o assunto, na vida ou no palco.
Milk e Zé Vicente, cada um ao seu modo, merecem a nossa atenção e das novas gerações. Se hoje é possível levar 3 milhões para a Av. Paulista e “sair do armário” ficou menos doloroso, devemos lembrar de quem fez isso antes de tudo “virar moda”.

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Peça Hospital da Gente - Escrita a partir dos contos do livro "Contos Negreiros" de Marcelino Freire, a peça tem montagem-instalação engajada e inteligente.
= Peça Apocalipse Segundo Domingos Oliveira - Uma personalíssima visão do juízo final, com um Deus insatisfeito com o destino escolhido pelos homens. Vale a pena conferir esta boa amostra de uma "peça de diretor".
= Peça O estrangeiro - Incrível trabalho de luz (Maneco Quinderé) e trilha sonora (Marcelo H) para o texto de Albert Camus. O esforço cênico de Guilherme Leme tem resultado favorável para um texto que trata da perplexidade do homem diante de sua humanidade. Imperdível!
= Filme The Reader (O Leitor) - Denso e conciso, o filme é mais uma película pós-nazismo.
= Filme Vick Cristina Barcelona - Um Woody Allen refinado nas questões morais, mas com pouco entusiasmo final.
= Filme Be Kind Rewind (Rebobine, Por Favor) - Sensível homenagem à história do cinema, com bons momentos para rir e se emocionar.
= Filme Yes Man (Sim Senhor!) Um concentrado e "menos afetado" Jim Carey brilha mais uma vez num filme de "autoajuda" para "gente grande".

7 comentários:

Anônimo disse...

ah, você... Sempre tudo de bom e sempre informado. Queria ver "o estrangeiro", será que dá tempo? Abs e saudades
Renan Ji

Anônimo disse...

Adorei o blog!Amo filmes!

Sim Senhor! É muito divertido.

Te linkei, sou amiga do Cosme!

bjs

Anônimo disse...

gostei muito do seu post, querido amigo. Ainda não vi Milk, mas, numa dessas conversas de bar, soube que a história deste grande ativista político e sua morte tão trágica foi muito bem tratada nesta película do Van. Despertou-me o interesse de ler a peça O ASSALTO.

Anônimo disse...

Leonardo,

Seu blog está muito caprichado. Parabéns. Gostei de todos os textos (eu ia assistir à peça O Estrangeiro no sábado passado, mas não deu). Mas você acha mesmo que a Madonna está com a “voz cansada”? Olha que ela é a “dama de ferro” da música!

Bj,

Carlinda.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Hoje fui assistir Milk, saí do cinema mto emocionado! O que temos hoje nao nos foi dado de mao beijada, alguem lutou por isso, que saibamos valorizar o q temos. Não podemos esquecer de quem lutou por nós, afinal a luta continua, o exemplo, a garra e a coragem de Milk podem e devem nos impulsionar a conquistar o nosso espaço cada vez mais na sociedade.