A estreia do filme “Milk”, de Gus Van Sant, além de lembrar que depois de tantas lutas e algumas vitórias, as minorias ganharam mais espaço e voz, e que na busca de liberdade não há facilidades, também nos faz refletir sobre como esquecemos dos que realmente fizeram algo significativo por ela: a liberdade.
Harvey Milk (1930-1978) foi pioneiro ao relacionar a discussão dos direitos dos gays com, por exemplo, a luta pela igualdade entre brancos e negros, liderada por Martin Luther King. O filme apresenta o sacrifício de um homem convicto de que valia a pena lutar pelo direito à liberdade. Poucos de fato têm tamanho desprendimento e só pelo fato de no Brasil de hoje quase nada se conhecer da história de Milk, interpretado no filme por Sean Penn, valeria a pena ir ao cinema. Mas Van Sant, com a peculiaridade que lhe é devida, faz mais que isso. Ele recria uma época em que a efervescência cultural aliada a uma ingenuidade sedutora conseguia fazer a humanidade caminhar para frente.
À época de Milk, já vivíamos sob ditadura no Brasil, e a liberdade era aventada de forma clandestina. Numa dessas felizes coincidências, esteve em cartaz no Rio por estes dias a peça “O Assalto” (1969), de José Vicente. Nela, Victor rouba o banco onde trabalha e quer dar o dinheiro a Hugo, faxineiro do banco.
Haroldo Costa Ferrari e Fransérgio Araújo, ambos egressos do Teatro Oficina, encarnam respectivamente as personagens e emprestam o tom correto ao texto atualíssimo da peça, sob direção de Marcelo Drumonnd. O uso do poder como sedução, entrecortado por um tortuoso jogo de solidão e diferenças de classes, é o mote da peça, que pioneiramente trouxe aos palcos a questão gay naqueles anos de chumbo.
Mais preocupado em demonstrar a revolta contra o sistema e a hipocrisia, do que com a criatividade estrutural, José Vicente tematiza questões existenciais que parecem próximas às que motivaram, pelo avesso, as atitudes na vida pessoal de Harvey Milk. Assim, peça de José Vicente e o filme de Gus Van Sant nos lançam esperança quando sabemos que a luta por liberdade parece não ter fim, certos de que a presença intelectual dos dois acompanha qualquer discussão sobre o assunto, na vida ou no palco.
Milk e Zé Vicente, cada um ao seu modo, merecem a nossa atenção e das novas gerações. Se hoje é possível levar 3 milhões para a Av. Paulista e “sair do armário” ficou menos doloroso, devemos lembrar de quem fez isso antes de tudo “virar moda”.
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Peça Hospital da Gente - Escrita a partir dos contos do livro "Contos Negreiros" de Marcelino Freire, a peça tem montagem-instalação engajada e inteligente.
= Peça Apocalipse Segundo Domingos Oliveira - Uma personalíssima visão do juízo final, com um Deus insatisfeito com o destino escolhido pelos homens. Vale a pena conferir esta boa amostra de uma "peça de diretor".
= Peça O estrangeiro - Incrível trabalho de luz (Maneco Quinderé) e trilha sonora (Marcelo H) para o texto de Albert Camus. O esforço cênico de Guilherme Leme tem resultado favorável para um texto que trata da perplexidade do homem diante de sua humanidade. Imperdível!
= Filme The Reader (O Leitor) - Denso e conciso, o filme é mais uma película pós-nazismo.
= Filme Vick Cristina Barcelona - Um Woody Allen refinado nas questões morais, mas com pouco entusiasmo final.
= Filme Be Kind Rewind (Rebobine, Por Favor) - Sensível homenagem à história do cinema, com bons momentos para rir e se emocionar.
= Filme Yes Man (Sim Senhor!) Um concentrado e "menos afetado" Jim Carey brilha mais uma vez num filme de "autoajuda" para "gente grande".
À época de Milk, já vivíamos sob ditadura no Brasil, e a liberdade era aventada de forma clandestina. Numa dessas felizes coincidências, esteve em cartaz no Rio por estes dias a peça “O Assalto” (1969), de José Vicente. Nela, Victor rouba o banco onde trabalha e quer dar o dinheiro a Hugo, faxineiro do banco.
Haroldo Costa Ferrari e Fransérgio Araújo, ambos egressos do Teatro Oficina, encarnam respectivamente as personagens e emprestam o tom correto ao texto atualíssimo da peça, sob direção de Marcelo Drumonnd. O uso do poder como sedução, entrecortado por um tortuoso jogo de solidão e diferenças de classes, é o mote da peça, que pioneiramente trouxe aos palcos a questão gay naqueles anos de chumbo.
Mais preocupado em demonstrar a revolta contra o sistema e a hipocrisia, do que com a criatividade estrutural, José Vicente tematiza questões existenciais que parecem próximas às que motivaram, pelo avesso, as atitudes na vida pessoal de Harvey Milk. Assim, peça de José Vicente e o filme de Gus Van Sant nos lançam esperança quando sabemos que a luta por liberdade parece não ter fim, certos de que a presença intelectual dos dois acompanha qualquer discussão sobre o assunto, na vida ou no palco.
Milk e Zé Vicente, cada um ao seu modo, merecem a nossa atenção e das novas gerações. Se hoje é possível levar 3 milhões para a Av. Paulista e “sair do armário” ficou menos doloroso, devemos lembrar de quem fez isso antes de tudo “virar moda”.
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Peça Hospital da Gente - Escrita a partir dos contos do livro "Contos Negreiros" de Marcelino Freire, a peça tem montagem-instalação engajada e inteligente.
= Peça Apocalipse Segundo Domingos Oliveira - Uma personalíssima visão do juízo final, com um Deus insatisfeito com o destino escolhido pelos homens. Vale a pena conferir esta boa amostra de uma "peça de diretor".
= Peça O estrangeiro - Incrível trabalho de luz (Maneco Quinderé) e trilha sonora (Marcelo H) para o texto de Albert Camus. O esforço cênico de Guilherme Leme tem resultado favorável para um texto que trata da perplexidade do homem diante de sua humanidade. Imperdível!
= Filme The Reader (O Leitor) - Denso e conciso, o filme é mais uma película pós-nazismo.
= Filme Vick Cristina Barcelona - Um Woody Allen refinado nas questões morais, mas com pouco entusiasmo final.
= Filme Be Kind Rewind (Rebobine, Por Favor) - Sensível homenagem à história do cinema, com bons momentos para rir e se emocionar.
= Filme Yes Man (Sim Senhor!) Um concentrado e "menos afetado" Jim Carey brilha mais uma vez num filme de "autoajuda" para "gente grande".
7 comentários:
ah, você... Sempre tudo de bom e sempre informado. Queria ver "o estrangeiro", será que dá tempo? Abs e saudades
Renan Ji
Adorei o blog!Amo filmes!
Sim Senhor! É muito divertido.
Te linkei, sou amiga do Cosme!
bjs
gostei muito do seu post, querido amigo. Ainda não vi Milk, mas, numa dessas conversas de bar, soube que a história deste grande ativista político e sua morte tão trágica foi muito bem tratada nesta película do Van. Despertou-me o interesse de ler a peça O ASSALTO.
Leonardo,
Seu blog está muito caprichado. Parabéns. Gostei de todos os textos (eu ia assistir à peça O Estrangeiro no sábado passado, mas não deu). Mas você acha mesmo que a Madonna está com a “voz cansada”? Olha que ela é a “dama de ferro” da música!
Bj,
Carlinda.
Hoje fui assistir Milk, saí do cinema mto emocionado! O que temos hoje nao nos foi dado de mao beijada, alguem lutou por isso, que saibamos valorizar o q temos. Não podemos esquecer de quem lutou por nós, afinal a luta continua, o exemplo, a garra e a coragem de Milk podem e devem nos impulsionar a conquistar o nosso espaço cada vez mais na sociedade.
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